Fundada ainda em 2013, a Nubank encarou um crescimento exponencial nos últimos anos — em partes, graças aos seus serviços oferecidos e boa relação com sua base de clientes. Em dezembro do ano passado, a fintech foi avaliada em US$ 41,7 bilhões, tornando-se a mais valiosa empresa do nicho na América Latina.
Impulsionada pela boa relação com o seu público-alvo e pelo foco na sua expansão, a Nubank abriu capital na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) no mesmo mês, convidando seus clientes a se tornarem sócios através de um "pedacinho da empresa" — uma ação BDR, que representa a fração de um papel emitido internacionalmente. Na ocasião, o preço inicial por ação foi estimado em R$ 8,36.
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Após sete meses, o "pedacinho" da Nubank passou a valer cerca de R$ 3,28, representando uma queda de 60,76% desde seu lançamento. Partindo desse contexto, o TecMundo simulou um investimento na empresa e investigou possíveis motivos para a sua desvalorização; confira!
Quanto valeriam R$ 100 em pedacinhos da NuBank hoje?
Considerando uma compra de R$ 100 em ações da Nubank (NUBR33), logo no dia de sua estreia no mercado, o investidor teria um prejuízo de R$ 60,76 e um saldo reduzido a R$ 39,24. Em outro exemplo, se um cliente que adquiriu R$ 1.000 em "pedacinhos" do banco digital tivesse que sacar seu dinheiro agora, o montante estaria reduzido a R$ 392,40.
Volátil, o investimento compartilha semelhanças com o desempenho de outras empresas similares e até mesmo ao Bitcoin, que encarou uma desvalorização com proporções comparáveis. Ou seja, a queda acompanha uma tendência global, que afetou até mesmo gigantes como Meta, Apple e Tesla.
Ações da Nubank (NUBR33) encaram queda de aproximadamente 60%, desde seu lançamento. (Fonte: TradingView / Reprodução)Fonte: TradingView
Afinal, o que causou a queda no preço do Nubank?
Sem surpresas, o problema que afeta os pedacinhos do Nubank é o mesmo que assombra o restante da economia internacional: a crescente inflação. No caso da fintech, tal efeito negativo se traduz em uma série de outros fatores adjacentes. Possivelmente, o principal deles trata-se da elevação da taxa de juros anunciada pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), que seria responsável por até 80% do mau-desempenho da empresa, segundo o analista de renda variável da Kínitro Capital, Lucas Ribeiro.
Para impulsionar vendas de ações, a Nubank lançou o programa NuSócios e ofereceu "pedacinhos gratuitos" do lançamento. (Fonte: Nubank / Reprodução)Fonte: Nubank
Dependentes da injeção de capital para a fluidez dos negócios, as empresas do setor tecnológico foram duramente afetadas pela decisão, resultando em uma queda generalizada em ações do tipo. Ribeiro explica, em entrevista ao E-Investidor: "Quanto maior é o perfil de crescimento de uma empresa, maior o impacto da alta de juros; e a fintech [Nubank] é uma empresa de altíssimo crescimento."
Mais juros, menor poder de compra, maior inadimplência
Em paralelo, a Nubank ainda encara outros desdobramentos da inflação. Com o aumento generalizado no preço dos produtos no mercado, o brasileiro-médio está cada vez mais dependente do crédito e com menor poder de compra. O arriscado equilíbrio costuma ter resultados agridoces para a fintech: enquanto, por um lado, o contexto favorece a captação de novos correntistas buscando crédito, ele também é mais propenso ao aumento das taxas de inadimplência.
Traduzindo em números, a empresa já encara uma taxa de inadimplência de 90 dias em 4,2% no primeiro trimestre deste ano — um aumento de 0,7% desde o final do ano passado. Similarmente, a mesma taxa para o período entre 15 e 90 dias também cresceu 1,1% e alcançou 3,7%. Na prática, isso significa que parte do lucro por cliente da Nubank subirá nos juros do cartão de crédito, algo que aumenta proporcionalmente os riscos e dificulta abertura de crédito — conforme explica o economista Fabio Louzada, ao E-Investidor.
As ações do Nubank voltarão a subir?
Assim como as demais empresas do nicho, as ações do Nubank somente devem voltar se valorizar em um contexto macroeconômico mais favorável. Conforme explica o analista da Inv, João Abdouni, a fintech também recebeu uma avaliação inflada, o que está se normalizando com a queda. Em combinação, os fatores mencionados afastam os grandes investidores das ações da Roxinha.
Aconselhando os investidores que compraram ações na Oferta Pública Inicial (IPO), Abdouni recomenda revisar os critérios iniciais do aporte: "para os que acreditam na proposta [do Nubank], a melhor opção é carregar as ações no longo prazo, porque talvez a história do banco seja de sucesso," explica em entrevista ao E-Investidor.
Embora o cenário próximo não seja muito favorável à Nubank, é possível que a situação melhore no futuro. (Fonte: Nubank / Reprodução)Fonte: Nubank
Para os investidores que ainda não apostaram no Nubank, a recomendação é ter cautela. Embora os preços estejam mais baratos em relação ao IPO, não significa que eles ainda não podem cair mais. Abdouni sugere aguardar novos relatórios de rendimento da fintech antes de realizar aportes. Porém, para os mais ávidos, ele sugere não investir mais de 5% do disponível na carteira — já que é uma empresa ainda em crescimento e, portanto, de maior risco.
O que o Nubank diz sobre a queda?
O TecMundo entrou em contato com o Nubank e solicitou um posicionamento sobre a queda das ações. Em resposta, a assessoria do banco digital enviou o último relatório fiscal da empresa, em que a companhia anunciou seu "trimestre mais forte da história".
Na ocasião, o CEO do Nubank, David Vélez, também comentou sobre o assunto. "Apesar da recente volatilidade do mercado no curto prazo e da proximidade do fim do nosso período de lock-up, continuamos com total confiança e comprometimento com a criação de valor de longo prazo, como foi reiterado por nossos principais acionistas."
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