Para quem está familiarizado com o universo de criptomoedas, o conceito de blockchain já é bem conhecido. Contudo, essa é uma tecnologia com potencial para muito mais do que apenas o uso no mercado financeiro. E o marketing digital já está trabalhando para utilizá-la de novas maneiras.
Primeiro, vamos entender exatamente o que é o blockchain: trata-se de um conceito de arquitetura de dados, um registro público de transações. São sistemas (porque não existe apenas um blockchain!) em que cada transação é registrada em blocos de dados criptografados, que são então validados pelos usuários da rede e então encadeados uns aos outros, formando “correntes”. Daí o nome, cuja tradução literal é “corrente de blocos”.
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A transparência é um fator fundamental do blockchain, já que a validação dos dados é feita publicamente.
Quem valida são os “miners”, ou mineradores, cujo trabalho normalmente é recompensado com criptomoedas. Vale ressaltar que, embora as informações da transação em si sejam sempre públicas, a identidade dos envolvidos permanece protegida por uma chave gerada por criptografia.
Depois de validada e encadeada aos blocos da corrente, a transação não pode ser alterada, uma vez que a sequência de dados daquela corrente é única e colaborativa. Ou seja, o blockchain funciona por depender de processos abertos e vinculados entre si.
Fonte: Shutterstock
Parece complicado? De fato, é uma tecnologia complexa. Mas já dá para perceber o quanto ela é disruptiva e com capacidade para grandes mudanças!
Esse “grande livro contábil aberto” é um sistema de segurança considerado “trustless”, ou seja, você não precisa confiar em nenhuma pessoa ou instituição para utilizá-lo. A própria criptografia protege os dados sem que ninguém precise pôr as mãos. Naturalmente, o mercado financeiro é o que mais está explorando a novidade, mas essa segurança também pode ser aplicada em outras situações.
Por exemplo, em 2019, a prefeitura de Belo Horizonte inovou ao incorporar o blockchain no estacionamento rotativo de rua, substituindo os talões de papel. Em parceria com a Microsoft e um grupo de 20 empresas credenciadas, a BHTrans realiza a venda de créditos de estacionamento, que podem ser adquiridos pelos cidadãos através dos aplicativos das empresas parceiras. Essa compra é então enviada para validação e o blockchain garante sua preservação.
Essa escolha de um sistema descentralizado é a grande vantagem do blockchain. A prefeitura não precisou confiar em um único intermediador para revender os créditos para a população, e todo o grupo de empresas envolvido pode acompanhar as transações e garantir sua veracidade. Para um serviço público, é uma escolha bem apropriada.
Mas e o marketing digital, onde entra?
Se pararmos para pensar, vamos perceber que existem intermediários em muitos momentos no marketing digital. Desde o e-commerce, que conta com parceiros financeiros para receber pagamentos, até na hora de anunciar, em que é necessário contar com o Google Ads, por exemplo. Há sempre ferramentas e plataformas de terceiros envolvidos nas estratégias digitais.
O blockchain pode, se não eliminar, ao menos mudar bastante esse tipo de relação. O modo de fazer negócios virtualmente é outro quando há esse nível de colaboração e transparência. E não fará mais sentido pagar taxas definidas pelos gigantes da internet se existir outra opção viável e segura para conectar os anunciantes aos sites. O mesmo vale para os intermediários de pagamento no e-commerce.
Outra grande mudança proposta pelo uso de blockchain é a privacidade de dados. Atualmente, os intermediadores que mais usamos coletam inúmeros dados dos usuários, sejam eles navegadores, sejam redes sociais. Com um sistema descentralizado, nenhuma empresa poderá controlar esses dados. Os únicos com poder de oferecê-los seriam, de fato, os usuários aos quais eles pertencem.
Sim, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) está mudando bastante coisa sobre o modo como lidamos com proteção de dados, mas, de modo geral, o marketing digital ainda atua ao redor de grandes companhias para ter dados com os quais trabalhar. Se o blockchain tomar grandes proporções, os dados não estarão com essas companhias. E então? Como funcionaria o marketing digital? Como funcionariam os e-commerce?
Essa é uma reflexão ainda muito adiantada. As iniciativas para criar uma “internet descentralizada” existem, mas estão distantes de se tornarem realidade, por enquanto. Contudo, não faz mal imaginar e treinar nossa mente para algo que, mesmo que esteja longe de acontecer, não é nada impossível.
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