Praticamente indispensável no cotidiano moderno, a internet está cada vez mais atrelada à vida dos usuários, e podemos estar caminhando para a sua próxima fase: a Web3. Visando ser mais aberta e transparente que a tecnologia atual, a novidade está ganhando cada vez mais espaço, mas ainda precisa superar desafios para substituir a internet que conhecemos.
Apresentada há mais de 30 anos, a internet não demorou para se tornar uma poderosa plataforma para comunicação, comércio e entretenimento, conectando internautas internacionalmente em uma — quase literal — grande rede. No entanto, a capitalização da tecnologia alterou seu rumo evolutivo para um estado bastante complexo.
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A "Web 3.0" pode ser a nova grande fase da internet
Atualmente, vivemos em uma modernidade dependente das Big Techs — como são chamadas as empresas de tecnologia mais influentes no mercado. Nesse cenário, o usuário deixou de ser um mero consumidor para tornar-se um produto, que fornece informações privadas em troca de entretenimento e outros serviços, eventualmente convertidas em anúncios e experiências de uso personalizadas.
Embora soe atraente, essa otimização de uso exige algo que alguns usuários não estão dispostos a se ceder: confiança — e, deste problema, nasce a ideia da Web3.
Versões anteriores da Internet
Antes de adentrar no conceito e aplicação da Web3, vale recapitular as "versões anteriores" da Internet e seu respectivo impacto na sociedade. Sem definição oficial, as atualizações da Rede Mundial de Computadores são definidas pela gama de serviços oferecidos e seu respectivo período de lançamento.
Web1: a Internet "Somente Leitura" — 1991 a 2004
A primeira versão da Internet foi denominada "Web1" e pode ser entendida como o período "Somente Leitura" da tecnologia, operando entre 1991 e 2004. Nesse contexto, o ambiente navegável era composto quase exclusivamente de páginas estáticas, que apenas permitiam aos usuários funções básicas como a pesquisa e a leitura de conteúdos — característica que garantiu o nome. Em paralelo, denota-se que o espaço digital não era regulamentado, sendo essencialmente "livre".
Exemplo de página na Web1, em 1999. (Fonte: Geocities, WebArchive / Reprodução)Fonte: Geocities, WebArchive
Web2: a Internet "Leitura e Escrita" — 2004 até o presente
Adiante, com o avanço da computação, a Internet possibilitou o nascimento de novos serviços e plataformas de comunicação — como os blogs, as salas de chats e as redes sociais. Solo fértil, o cenário cresceu exponencialmente para o ambiente digital moderno, com grandes empresas da tecnologia participando do cotidiano dos usuários. Em troca da comodidade e do entretenimento, os internautas deixaram de apenas consumir e passaram a oferecer seus dados pessoais — cunhando o nome do período como "Leitura e Escrita".
Nessa troca, o problema fica na transparência no uso de dados. Enquanto alguns sites e serviços utilizam informações pessoais para personalizar experiências de uso, outros os vendem para grandes gestores de anúncios sem consultar explicitamente os usuários. A prática, embora controversa, é bastante comum e tornou o ambiente digital menos privado, já que todas as preferências de um internauta são mapeadas e usadas para moldar seu hábito de consumo.
Mark Zuckerberg protagonizou um dos maiores episódios acerca da regulação de dados privados nos Estados Unidos, em 2018. (Fonte: Getty Images via New Statesman / Reprodução)Fonte: Getty Images via New Statesman
Regulamentações e parcialidade
Para piorar, as grandes empresas da tecnologia — também detentoras dos dados pessoais coletados, na maioria das vezes — são vulneráveis a entidades reguladoras que, por sua vez, podem ter suas decisões influenciadas e corrompidas por interesses privados. Como resultado, a situação pode significar uma ameaça em cascata para a liberdade de expressão e privacidade dos usuários.
Na prática, todo o sistema atual se baseia na concessão da confiança entre os usuários e as Big Techs. Os consumidores devem conceder seus dados privados na esperança de que eles sejam utilizados com parcimônia, enquanto as empresas prometem segurança e discrição em seu uso. Para alguns internautas, porém, essa dinâmica não é vantajosa e exige uma "atualização".
Afinal, o que é Web3?
Distópico, o atual cenário resultou na idealização da Web3. O termo foi cunhado ainda em 2014 por Gavin Wood, um dos cofundadores da famosa criptomoeda Ethereum, se referindo a um ambiente digital inteiramente descentralizado, transparente e seguro — promessas garantidas pelo uso da tecnologia de blockchain e de inteligência artificial.
Assim, os usuários poderiam trocar informações inteiramente verificáveis num livro de registro público da rede, conhecido como ledger, de maneira similar ao encontrado nas transações da criptomoeda original, o Bitcoin. Como cada mudança navegável seria registrada na tecnologia, os dados compartilhados não poderiam ser manipulados ou controlados por um agente mal-intencionado.
Desde sua estreia, em 2009, a tecnologia da Blockchain ainda não foi vencida por hackers. (Fonte: Shutterstock)Fonte: Shutterstock
Além disso, o acesso à nova internet seria irrestrito e não exigiria credenciais, ou seja, dispensando um provedor ou serviço similar. Nesse contexto, os "sites" da nova tecnologia também dispensariam a criação de contas e identificação pessoal, possibilitando que os usuários se conectem anonimamente, sem intermediários.
Web3: a Internet "Leitura, Escrita e Posse"
Abandonando a dinâmica "tradicional", a proposta afirma que a Web3 deve ser: descentralizada, livre de permissões, equipada com sistemas nativos de pagamento e "livre de confiança". A descrição da tecnologia no blog do Ethereum explica que os princípios serão alcançados com o incentivo financeiro aos usuários e outros mecanismos econômicos.
Por exemplo, as propriedades e sites acessáveis seriam financiados pelos próprios internautas, que poderiam adquirir "parte da posse" em forma de tokens, garantindo influência na direção dos projetos e evitando sua centralização. Essas operações seriam realizadas nativamente, dispensando o uso de bancos e outras entidades financeiras, tornando-se "livres de confiança" em uma "terceira parte", através do uso da inteligência artificial.
Valor financeiro criado pela evolução da Internet e seus produtos. (Fonte: Fabric Ventures / Reprodução)Fonte: Fabric Ventures
O formato proposto, sumarizando, tornaria o consumidor em "dono" de parte da internet, contribuindo diretamente com sua construção e seu funcionamento. No entanto, o projeto ainda é uma empreitada distante, que deve enfrentar uma complicada série de obstáculos.
Problemas de "atualização" para a Web3
Apesar de interessante, cada ponto forte nos princípios da Web3 traz seu próprio problema. Possivelmente, o maior deles é a curva de aprendizado exigida para a maioria dos usuários, dificultando o acesso à tecnologia. Logo depois, é possível debater sobre questões ligadas à censura e anonimidade.
Enquanto o ambiente digital proposto seria livre de qualquer censura, ele também poderia se tornar fértil para outros problemas como a desinformação e conteúdos maliciosos, tópicos que já se mostraram um grande problema ainda em 2020, durante a pandemia da covid-19. Por outro lado, considerando o livro de registros públicos da rede, é possível afirmar que nenhum movimento é realmente privado e, assim, usuários que dependem da anonimidade por questões de segurança seriam indevidamente expostos.
Além disso, ainda há outro (grande) empecilho: as grandes empresas da tecnologia, que seriam diretamente prejudicadas pela transição e, certamente, buscam evitá-la como possível. Ironicamente, a proposta da Web3 atual dificilmente se consolidaria sem a regulamentação de entidades contra as Big Techs no mercado, conforme sugere a PCMag.
Web3, na prática
Ainda sem implementação prática, a Web3 não passa de uma proposta. Desconsiderando os problemas teóricos do tópico anterior, a tecnologia atual também apresenta dificuldades próprias equiparáveis aos encontrados em outros projetos que utilizam soluções na blockchain. Entre eles, conforme detalhado no blog do Ethereum, estão:
- Escalabilidade: as transações de dados são lentas, já que devem ser verificadas por todos os participantes na rede.
- Interface de usuário: análogo à curva de aprendizado, o problema se refere aos passos que a tecnologia exige para ser utilizada, podendo soar complicada para os mais leigos.
- Acessibilidade de software: inacessível pela maioria dos navegadores atuais, a Web3 ainda está distante para a maioria dos usuários.
- Custo: mesmo já sendo possível, a implementação de códigos na blockchain ainda é um processo caro e pouco atrativo.
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