Há muito tempo se debate a dependência do petróleo. Os combustíveis fósseis foram responsáveis por uma grande revolução, mas a crise geopolítica provocada pela guerra na Ucrânia, no leste Europeu, trouxe a discussão novamente para o centro da mesa dos líderes mundiais.
Os embargos ao petróleo da Rússia e consequente diminuição da oferta, atrelada a forte alta no preço barril brent, comprovou a necessidade urgente de uma mudança estratégica nesse modelo de energia tão poluente. Nos Estados Unidos, a Tesla, por exemplo, vem observando um crescente aumento no número de pedidos. A empresa é, de longe, a maior marca de veículos elétricos (VE’s) dos EUA.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Cerca de 80% de todos os carros elétricos no país são veículos da Tesla e, sem surpresa, a empresa está começando a sentir o crescimento nos pedidos devido à pressão dos aumentos da gasolina, reflexo da crise na Ucrânia e todas as sanções impostas contra a Rússia para cessar os ataques e a invasão, o que, consequentemente afetou os preços dos combustíveis que tiveram alta significativa no mercado mundial.
Toda essa instabilidade fez o petróleo ser negociado acima dos US$ 100 por barril, elevando o preço médio nas bombas de todo o mundo, inclusive nos EUA, onde o galão já pode custar cerca de US$ 5. Diante de tantas incertezas, muitos americanos que pretendem comprar um carro novo, já lançam seus olhares para os VE’s.
Os consumidores estão fazendo cálculos e já perceberam que é mais barato que um movido a gasolina.
As pesquisas por carros elétricos novos e usados nos EUA ??aumentaram 112% de 24 de fevereiro a 8 de março no Cars.com, segundo o site de notícias e preços que compara marcas e modelos de VE’s com veículos tradicionais com motor de combustão. Individualmente, a busca por novo teve alta de 83% e usados 130%. Não por coincidência, o dia 24 de fevereiro marca o início da invasão russa na Ucrânia.
No Brasil é cada vez maior o desejo dos consumidores pelos veículos elétricos, apesar do pouco incentivo do poder público. Uma das maiores instituições financeiras do país encomendou uma pesquisa com 100 mil clientes sobre o tema. O levantamento mostrou que 62% dos entrevistados revelaram ter a intenção de comprar um automóvel zero emissão no futuro, ratificando os números divulgados por diversas associações que apresentavam o crescente aumento nas vendas de VE’s.
Fonte: Shutterstock
Apesar de iniciativas como a do próprio banco, que já disponibiliza automóveis elétricos através de um programa de car sharing - somente com veículos zero emissão - o Brasil ainda precisa de muitos investimentos em infraestrutura, como as que o presidente dos Estados Unidos planeja. Vale ressaltar, que mesmo tendo um custo elevado por aqui - o carro elétrico mais barato à venda no mercado nacional custa cerca de R$150 mil –, seis em cada dez brasileiros desejam ter, em breve, um elétrico para chamar de seu.
Por outro lado, a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que tem afetado duramente o mercado financeiro, também traz efeitos colaterais para o universo dos elétricos. Em uma primeira análise, o impacto da alta do dólar, uma vez que os carros e os equipamentos dos pontos de recarga são importados.
Em um segundo momento, pode haver escassez de níquel, utilizado em baterias de íons de lítio dos VE’s. Em terceiro lugar o fato da Rússia ser o terceiro maior produtor de níquel no mundo, que responde por 13% da capacidade global de mineração, o que provoca o temor de que, rodeada por sanções, não consiga exportar a commodity e, consequentemente, haja escassez.
Mesmo assim, o cenário é promissor para os elétricos. A venda de VE’s na Europa superou, no mês de dezembro/21, as dos modelos a diesel. Foi a primeira vez que isso ocorreu. Cerca de 20% dos novos carros vendidos em 18 mercados europeus, incluindo o Reino Unido, eram movidos a bateria, enquanto os carros com motor a diesel representaram menos de 19% das vendas.
Esse resultado é fruto de grandes subsídios de países do velho continente, que adotaram uma rígida regulamentação em 2020, que obriga os fabricantes europeus a vender mais veículos com baixas emissões. Com isso, a procura pelos elétricos vêm aumentando gradativamente.
Os desafios são grandes, mas não intransponíveis. No Brasil é necessário que os governos, em todos os níveis, se envolvam mais com a mobilidade elétrica. As Parcerias Público-Privada (PPP) podem dar agilidade para a transformação da frota. Os incentivos são bem-vindos, mas é necessário políticas públicas e ações efetivas. Dispomos de uma matriz energética composta por hidrelétricas, parques eólicos e energia solar, consideradas energias limpas. Mas agora é a hora da mobilidade zero carbono.
***
Junior Miranda, CEO da GreenV, mobilitytech que desenvolve tecnologias inteligentes em mobilidade elétrica.
Categorias