Vivemos a era do XaaS: sigla que remete ao termo everything as a service, em que o X da questão pode ser substituído por uma infinidade de produtos e serviços — o céu é o limite. Já abordei outras modalidades de ‘tudo como serviço’, com exemplos sólidos de FaaS e BaaS (fintech e banking como soluções, respectivamente). Dessa vez, apresento outra tendência de mercado: o Credit as a Service (CaaS), que tem aberto portas para uma concessão de crédito mais personalizada, de acordo com as dores de cada cliente.
O fluxo é o seguinte: fintechs oferecem plataformas completas de CaaS a instituições financeiras para elas conseguirem proporcionar serviços e produtos de crédito customizados ao gosto e necessidade do freguês, de forma digital, segura e automatizada.
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Trata-se de uma cadeia de produção onde todos ganham: a startup vende suas soluções, quem dá crédito consegue agilizar processos (e otimizar sua base de clientes) e o consumidor final ganha acesso a melhores linhas de empréstimo.
Os Programming Interface Application (APIs) garantem infraestrutura, não só operacional, mas regulatória, com garantias como prevenção à fraude e corrupção, análises de risco e lavagem de dinheiro. Tudo como mandam as boas práticas de Know Your Client (KYC).
Com a melhoria e rapidez da análise de crédito, qualquer empresa pode oferecer linhas de crédito para sua base. Recentemente, o Magazine Luiza lançou o Magaluplay, com maquininhas de cartão livre de taxas de aluguel e que permitem o popular pagamento por aproximação. Com preços atrativos, a oferta visa cobrir tanto microempreendedores quanto empresas maiores. Anteriormente, o Magalu já havia lançado uma conta PJ digital, com recursos de um Fundo de Direito Creditório (FIDC) e com linhas de crédito voltadas para lojistas.
- Veja também: O que esperar do mercado financeiro em 2022
Crédito não é para amadores
Quando falamos de crédito, nem tudo são flores. Se a inadimplência já é um risco recorrente, a pandemia contribuiu para a elevação do endividamento dos brasileiros. O próprio Magalu teve um ano difícil com a queda de seus papéis na bolsa, após um 2020 excelente para marketplaces. Ainda assim, especialistas apostam na consolidação de e-commerce e no potencial do magazine, muito estabelecido no varejo físico.
Fonte: Shutterstock
De fato, quem dá crédito deve se atentar não só com o seu consumidor final e possíveis riscos de calote, mas também com quem fornece a solução CaaS. São comuns serviços como meios de pagamento, crédito e soluções administrativas e financeiras. Há fintechs que oferecem até mesmo serviços de cobrança de dívida. Essas opções modulares, associadas a procedimentos bem estabelecidos de KYC (falo do assunto de forma mais aprofundada neste artigo), devem ser bem avaliadas na hora de contratar uma plataforma.
Mar calmo nunca fez bom marinheiro (e as fintechs tiram isso de letra)
Se há um nicho do mercado capaz de desbravar os desafios e auxiliar instituições financeiras a darem mais e melhores linhas de crédito, não tenho dúvidas de que é o das fintechs.
Começamos ofertando serviços específicos baseados em tecnologia e, hoje, expandimos nossa atuação. Tanto que o Distrito Fintech Report deste ano apresentou a palavra transversalidade para definir as fintechs. De acordo com o relatório, startups que atuam com crédito despontam na segunda colocação do ranking de segmentos de fintechs, atrás apenas de meios de pagamento. Temos aí um vasto (e desafiador) campo para quem quiser se aventurar em Credit as a Service.
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Paulo David, colunista do TecMundo, é fundador e CEO da Grafeno, fintech que oferece contas digitais e infraestrutura de registros eletrônicos para empresas e credores; e é sócio do SPC Brasil na construção de infraestrutura para o mercado financeiro. Antes da Grafeno, fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer-to-peer do Brasil, que foi adquirida pelo PagSeguro, empresa de meios de pagamentos. Foi superintendente do Sofisa Direto, a divisão digital do banco Sofisa. Atuou no time do Pinheiro Neto Advogados e na equipe da gestora de investimentos KPTL (ex-Inseed Investimentos). É investidor-anjo em fintechs no Brasil e na Europa.