Fechando uma semana difícil, o Bitcoin encontrou um novo desafio nesta sexta-feira (24): o banimento, e possível criminalização, de suas transações em todo o território da China. Desde julho deste ano, a principal criptomoeda ensaia um difícil movimento de retomada ao seu topo histórico na casa dos US$ 65 mil, superando vigorosamente uma série de barreiras — que incluem, sem surpresas, outras medidas proibitivas do governo chinês. Porém, o recente caso parece mais sério.
Medidas proibitivas
Mais especificamente, o Banco Popular da China proibiu bancos e instituições financeiras de oferecerem quaisquer serviços relacionados a criptomoedas, incluindo transações entre os ativos digitais e moedas fiduciárias, no país. A medida se estende até mesmo as corretoras que operam fora do território chinês, bem como aos seus colaboradores, sejam nativos ou não. Os indivíduos participantes nestas atividades estarão sujeitos a processos legais, caso descobertos.
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A gravidade da situação torna-se ainda mais evidente ao considerar que outras entidades do governo chinês estão envolvidos na decisão, tais como a Administração do Ciberespaço da China (CAC), o Supremo Tribunal Popular da China (SPC), a Suprema Procuradoria Popular (SPP) e o Departamento de Segurança Pública (PSB).
Bitcoin caiu 10% na manhã desta sexta-feira, possivelmente devido às proibições da China. (Fonte: Mercado 1 Minuto / Reprodução)Fonte: Mercado 1 Minuto
Em entrevista ao site CoinDesk, o autor da newsletter Sinocism, Bill Bishop, explica que o campo de atuação destas entidades adiciona um "aspecto de crime financeiro" ao caso das criptomoedas na China. Ele continua: "Isso é certamente muito maior e mais expansivo do que a destruição da indústria de mineração." Mas, na prática, como isso influencia o Bitcoin?
O que as proibições significam para o Bitcoin?
Apesar do "leve susto", o mercado de criptomoedas já se recupera — com a natural e esperada volatilidade. Desde as últimas notícias sobre a medida chinesa, o preço do Bitcoin já se recuperou 5% e influenciou as demais altcoins — criptomoedas alternativas — positivamente, como a Cardano (ADA), que chegou próxima ao patamar dos US$ 2 e já se encontra na casa dos US$ 2,30, em uma recuperação de 10,81%.
Para alguns especialistas, esse movimento indica que embora as últimas notícias possuam um peso para as transações de criptomoedas na China, o mercado internacional segue em uma saudável tendência de alta. A newsletter Blockworks chegou a ilustrar o "efeito" através de uma tabela em sua conta do Twitter, mostrando que o preço do Bitcoin disparou 3.623,3% desde o primeiro "banimento" do governo chinês e até 15% desde o mais recente, ainda em maio deste ano. Confira:
Movimento no preço do Bitcoin a cada "proibição" do governo chinês. (Fonte: Blockworks / Reprodução)Fonte: Blockworks
O cofundador da Wise&Trust e autor do livro "O futuro do dinheiro", Rudá Pellini, cedeu uma entrevista ao TecMundo sobre o caso. Segundo o especialista, os efeitos proibitivos da China eventualmente não terão tanta influência no mercado, representando apenas catalisadores temporários da volatilidade dentro de um panorama muito maior.
Pellini explica que "é mais importante entender esse ativo sob o ponto de vista tecnológico e estar ciente de que a volatilidade irá acontecer independente da China, Elon Musk ou de qualquer outra notícia ou decisão chinesa." Para ele, as medidas apenas refletem mais uma tentativa de manter o fluxo de capital da população sob controle, possivelmente relacionando-se também com o plano de lançamento do Yuan Digital, a "criptomoeda" do governo chinês.
Yuan Digital é a moeda digital emitida pela China, sem a segurança oferecida pela tecnologia do Bitcoin. (Fonte: Macau Business / Reprodução)Fonte: Macau Business
Rudá conclui reforçando que as medidas proibitivas não serão um problema para o crescimento do Bitcoin. "O fato é que como tecnologia já temos uma massa crítica grande o suficiente para tornar qualquer banimento uma tentativa que terá poucos resultados práticos, além de eventualmente atrasar sua adoção," ele afirma.
O que esperar para o futuro?
Para o criador da blockchain Tron, Justin Sun, também não há motivo para "tanto pessimismo". Segundo ele, a tendência é que a China amenize suas restrições assim que os principais países da Europa, América do Norte e Ásia apresentarem políticas regulatórias mais maduras sobres as criptomoedas.
Ele ainda afirma ao CoinDesk que as últimas medidas não tomaram a "liberdade de possuir e trocar moeda virtual" dos cidadãos chineses, sugerindo que o banimento total de ativos digitais possa ser não apenas difícil, mas improvável — especialmente ao considerar as diversas possíveis formas de armazenamento.
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