O portal de notícias Bloomberg publicou nesta segunda-feira (28) uma série de entrevistas com funcionários do serviço de entregas Flex da Amazon, que denunciaram péssimas condições de trabalho regidas pelo algoritmo do sistema. Segundo os relatos, o software problemático toma decisões tradicionais dos Recursos Humanos, demitindo, contratando e apresentando relatórios de desempenho aos profissionais.
Um presente distópico
Cada motorista possui uma nota que resume sua performance no serviço — fantástico, ótimo, justo e "em risco" —, mas o sistema não justifica modificações no ranking e não elabora nas declarações de demissão.
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De acordo com Neddra Lira, uma ex-funcionária entrevistada pelo Bloomberg, sua nota diminuiu após ter que devolver pacotes devido a um pneu furado; Neddra passou semanas trabalhando para recuperar seu status de "ótima", mas, mesmo assim, sua conta no aplicativo foi removia por violação aos termos do contrato.
A denunciante contestou a demissão; porém, nunca foi reintroduzida ao Amazon Flex. O entregador retirado do serviço pode entrar com um Pedido de Arbitragem, mas isso custa $200, cerca de R$ 990 em conversão direta.
A comunidade oficial dos entregadores do Amazon Flex no Reddit está repleta de denúncias, dúvidas e desabafos sobre os relatórios de desempenho, demissões questionáveis e problemas logísticos nos galpões da empresa.
No tópico sobre a reportagem do Bloomberg, o moderador do fórum, "CapnShinerAZ", afirmou: "Infelizmente, nenhuma exposição irá motivar a Amazon a fazer mudanças e deixar o serviço mais justo aos entregadores. Enquanto os funcionários forem facilmente substituíveis, a empresa não terá motivos para se importar".
De acordo com SensorTower, uma empresa de inteligência de mercado, 200 mil pessoas baixaram o aplicativo do Amazon Flex em maio.
Selfies para entregas
Em 2019, o serviço passou a exigir fotos dos profissionais entregando os pacotes para confirmar que o usuário do aplicativo não está dividindo sua conta com outros. Esta regra ajuda na segurança, impedindo o roubo de pacotes; mas, muitos ainda precisam trabalhar em grupos para evitar taxas de estacionamentos — um continua dirigindo enquanto o outro faz a entrega.
As selfies também evidenciaram problemas no sistema de detecção de faces do Amazon Flex, já que usuários do aplicativo foram demitidos por suas fotos "não atingirem os requerimentos do programa" — a imagem tem que ser compatível com a carteira de motorista. Portanto, boa sorte se você emagreceu, ganhou peso ou apenas cortou o cabelo.
A gigante de Bezos não nega o uso generalizado do software, mas acredita na qualidade do sistema. "Nós investimos muito em tecnologia e em recursos para oferecer aos motoristas a visibilidade de seus cargos e a possibilidade de continuar as entregas; nós investigamos todas as contestações", afirmou a representante da Amazon, Kate Kudrna, ao Bloomberg.
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