Uma investigação divulgada nesta segunda-feira (12) pelo jornal britânico The Guardian expôs a forma leniente como o Facebook tem conduzido a divulgação de campanhas falsas de governos e políticos em todo o mundo. Utilizando uma brecha propositalmente ignorada pela rede social, políticos fingem apoio popular e criam campanhas espúrias contra seus oponentes.
Trabalhando com documentação interna da empresa, e com base no testemunho de uma ex-cientista de dados do Facebook, Sophie Zhang, o periódico mostra como a equipe de Mark Zuckerberg fiscaliza essa sensível atividade de forma seletiva: rapidez quando se trata de práticas em países como os EUA, Coreia do Sul e Taiwan, e “vista grossa” em mais pobres como Afeganistão, Iraque e toda a América Latina.
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Zhang afirmou ao periódico que o tratamento dissimilar é pautado apenas por um possível impacto nas relações públicas com os países ricos. Ao denunciar essa discrepância aos seus superiores, ela foi demitida por “mau desempenho”.
Como os políticos usam essa brecha do Facebook?
Sophie Zhang (Fonte: The Guardian/Reprodução)Fonte: The Guardain
Quando trabalhava na equipe de integridade do Facebook para identificação de atividades falsas, Zhang percebeu que vários governos do mundo estavam usando as páginas para parecerem mais populares e criticarem seus adversários políticos. Embora pessoas físicas possam ter apenas uma conta, qualquer um pode criar várias páginas para atender propósitos diversos.
Em vez de utilizar as páginas para negócios de empresas, instituições de caridade, ONGs e outras, políticos inescrupulosos alteram os nomes registrados para parecerem contas de pessoas físicas, no que foi descrito por Zhang como "tentativas flagrantes de governos nacionais estrangeiros de abusar de nossa plataforma em grande escala para enganar seus próprios cidadãos".
Após denunciar casos reais de manipulação, como a reeleição do presidente de Honduras, Juan Orlando Hernandez, e campanhas feitas pelo presidente autoritário do Azerbaijão, Ilham Aliyev, Zhang recebeu um pacote de demissão incentivada de US$ 64 mil (R$ 360 mil) para “seguir em frente”, mas ela recusou a proposta e acabou demitida.
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