No último sábado, entregadores de diversas cidades brasileiras se mobilizaram novamente para pressionar plataformas como iFood, Uber Eats e Rappi a aumentarem valores de corridas e melhorarem condições de trabalho, mas um grupo de profissionais pretende cortar vínculos com grandes empresas e fundar uma cooperativa com um aplicativo próprio – criando, assim, uma alternativa autogerenciada.
A iniciativa foi sugerida ao movimento Entregadores Antifascistas por Eduarda Alberto, entregadora do Rio de Janeiro e estudante de Arquitetura e Urbanismo na UFRJ, e conta com o apoio voluntário de advogados, economistas, programadores e estudiosos do cooperativismo de plataforma. "A luta não é só por melhoria dentro do aplicativo. Até porque muito foi refletido internamente de que lutar por melhoria dentro do aplicativo não resolve nossos problemas, né?", afirmou em entrevista à BBC News Brasil.
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Entregadores Antifascistas está por trás do projeto que busca independência de plataformas.Fonte: Zé Carlos Barretta/Folhapress
Buscando inspiração em cooperativas de entrega já existentes no exterior, os responsáveis pelo projeto, entretanto, encontram barreiras, como altos custos e a otimização de algoritmos. De acordo com pessoas do setor consultadas pela BBC News Brasil, o desenvolvimento inicial de um aplicativo enxuto do tipo custa cerca de R$ 500 mil.
Rafael Grohmann um dos apoiadores do movimento, pesquisador em trabalho digital e professor do Instituto Humanitas Unisinos, ressalta: "A tecnologia não é neutra. As plataformas, do modo como são construídas, têm uma gestão algorítmica que acaba beneficiando as empresas."
Da teoria à prática
Para tornar o projeto realidade, o grupo já está em contato com a CoopCycle, uma federação que reúne 30 cooperativas do tipo, sendo 28 na Europa e duas no Canadá, e que permite que iniciativas em diferentes cidades compartilhem serviços, como uso de um software e aplicativo comuns, com objetivo de baratear custos.
Ainda assim, existem limitações, já que, mesmo que a plataforma já tenha sido traduzida, é necessário adaptá-la a um sistema de pagamentos que opere no Brasil e motos não são incluídas no sistema, apenas bicicletas. Enquanto a cooperativa não sai do papel, o WhatsApp e o Instagram já estão sendo utilizados pela Aline Rieira, que gerencia entregas a uma rede de clientes pelo Señoritas Courier, em São Paulo.
Enquanto cooperativa não sai do papel, o grupo Señoritas Courier gerencia entregas por redes sociais.Fonte: Reprodução/Señoritas Courier
“Esse ano, com o crescimento da quantidade de clientes e bikers por causa da pandemia, vimos que a cooperativa é uma saída interessante, mas algumas integrantes ainda estão na dúvida, pois hoje elas têm algumas vantagens (menos impostos) atuando como MEI (microempreendedor)", finaliza Aline.
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