As teorias conspiracionistas e sem embasamento científico que alegam malefícios causados pelo 5G ganharam um novo integrante. A BCC se deparou com um pendrive que funcionaria como um "escudo anti-5G", recomendado por quem milita contra a tecnologia.
O problema? Segundo análises de quem encomendou o produto para testar o suposto funcionamento, ele não faz nada do que promete, custa caro e tem todas nas características de um golpe que se aproveita da crença de um grupo.
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O 5GBioShield é um pendrive comum que seria dotado de um "catalisador holográfico vestível de nanocamadas", protegendo o usuário de qualquer dispositivo eletrônico, radiação ou campos eletromagnéticos próximos. O seu funcionamento ocorre por um processo descrito como "oscilador quântico", que gera equilíbrio e "re-harmoniza as frequências" vindas de outros aparelhos, desde computadores e celulares até dispositivos Wi-Fi.
O pacote com três unidades está em promoção: £799.Fonte: 5GBioShield
Nas fotos e na descrição, há uma analogia com uma bolha: é como se você gerasse um campo protetor ao seu redor. Aparentemente, isso também impediria a sua conexão Wi-Fi e Bluetooth, por exemplo, já que a ideia é cortar qualquer tipo de contato com elementos externos.
A promessa é que você e toda uma residência fiquem protegidos — mas não fica claro como a escala do escudo funciona.Fonte: 5GBioShield
O site do produto já está até traduzido para o português, mas a compra só pode ser realizada em libras. O TecMundo não recomenda que você adquira o "escudo anti-5G", já que não há qualquer comprovação científica que valide o seu funcionamento e, pelos termos e descrições das reportagens, tudo não passa de um golpe para extrair dinheiro a partir do pânico.
Um golpe bem aplicado
A BBC encontrou o pendrive à venda por £300 — cerca de R$ 1,9 mil — e o único lugar em que você acha o dispositivo é no site da suposta fabricante. Aparentemente, ele ficou famoso ao ser indicado por um dos membros externos do 5G Advisory Committee, que é uma força-tarefa do conselho municipal da cidade de Glastonbury, na Inglaterra, criada no ano passado para investigar supostos danos causados por essa conexão. Lá, o produto foi descrito como algo "útil" para a sua casa e família no combate às ondas do 5G.
Curiosa a respeito dos efeitos quase milagrosos do "bioescudo", a equipe da empresa de segurança PenTestPartners adquiriu uma unidade para desmontar, testar e encontrar o segredo por trás do oscilador quântico e do catalisador holográfico. O relatório pode ser conferido no site da companhia (em inglês).
Por fora, o pendrive até possui um bom acabamento e vem em uma embalagem elegante.Fonte: PenTestPartners
Em resumo, o 5GBioShield é um pendrive comum. Ele tem apenas 128 MB de capacidade de armazenamento e vem com um arquivo: um PDF de 25 páginas que explica o funcionamento do aparato. O visual é realmente chamativo, com uma peça cristalina em uma das pontas com um LED, além de um adesivo circular comum, onde provavelmente ficaria o "gerador" do campo de força.
Além disso, nas propriedades do dispositivo, todos os valores e campos estão preenchidos de forma padrão, o que normalmente indica algo de fabricação barata e pronto para ser licenciado por qualquer empresa. O mais irônico disso tudo? O produto provavelmente foi fabricado na China, país tido por alguns dos conspiracionistas como o grande inimigo em comum na questão do 5G e outros temas políticos globais.
O adesivo no pendrive não tem qualquer funcionamento adicional.Fonte: PenTestPartners
"Em nossa opinião, o bioescudo 5G é nada mais do que um pendrive de £5 com um adesivo. Se o adesivo garante a tecnologia do catalisador quântico holográfico que vale £300, nós deixaremos a você decidir", diz a conclusão do relatório.
A BBC entrou em contato com a fabricante, que negou que o produto seja uma fraude, confirmou que ela não é a responsável pela fabricação dos itens e se recusou a compartilhar mais detalhes sobre o funcionamento da tecnologia. Já o participante do comitê municipal de Glastonbury diz não se arrepender de adquirir o "bioescudo" e que ele de fato "o ajudou a dormir melhor", mas reforça que não sugeriu a compra por outras pessoas.
Relembre as polêmicas
Teorias da conspiração envolvendo supostos riscos causados pela emissão de ondas do 5G começaram anos antes de essa tecnologia entrar em funcionamento. Testes realizados depois que a conectividade entrou em funcionamento, entretanto, comprovaram que ele não causa malefícios à saúde quando emitido dentro dos padrões indicados por órgãos reguladores — que são as normas seguidas pelas provedoras responsáveis.
Porém, isso não impediu os boatos de se espalharem em larga escala e até adquirirem novos tópicos, como uma possível relação com o novo coronavírus. Essa escalada fez até operadoras serem ameaçadas e antenas serem incendiadas por grupos mais radicais no Reino Unido.
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