O início dessa semana foi marcado pelo aumento na tensão entre Estados Unidos e China. A guerra comercial envolvendo os dois países ganhou um tom mais sério quando o presidente norte-americano Donald Trump assinou uma ordem que dava ao governo o poder de impedir companhias dos EUA de negociar com a chinesa Huawei.
Mas para entender como essa disputa começou, precisamos voltar um pouco no tempo e relembrar as primeiras acusações feitas pelos EUA contra uma empresa que virou símbolo do crescimento econômico da China nas últimas décadas.
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Acusações de espionagem
Em 2012, o Congresso dos EUA publicou um relatório em que acusava a Huawei e a também chinesa ZTE de serem uma ameaça à segurança do país. Na época, as companhias já figuravam entre as principais fornecedoras de equipamentos para redes de telecomunicação em todo o mundo e negaram veementemente as acusações de que estariam trabalhando com o governo chinês para espionar cidadãos de outros países.
No mesmo ano, a própria Casa Branca, ainda sob a presidência de Barack Obama, emitiu outro documento afirmando não ter encontrado provas de que as empresas chinesas estariam criando brechas propositais em seus aparelhos para facilitar a espionagem. Parecia o suficiente para amenizar a briga, pelo menos até Donald Trump vencer as eleições e chegar à presidência dos EUA.
Desde o início, o argumento dos EUA estava relacionado principalmente às torres de celulares da Huawei.
Desde seu primeiro ano de mandato, Trump assumiu uma posição de confronto com a China. O presidente foi favorável a um projeto que impede companhias com pelo menos 25% de participação chinesa de comprarem empresas norte-americanas. Ele também anunciou novas tarifas sobre um volume de cerca de US$ 200 bilhões em produtos vindos da China, tendo inclusive que isentar algumas empresas para não afetar o preço de itens vendidos nos EUA.
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Não demorou para que as antigas acusações de espionagem retornassem e se juntassem ao entrave comercial. Desde o início, o argumento dos EUA estava relacionado principalmente às torres de celulares da Huawei. Como a empresa chinesa precisa ter permissão para enviar atualizações de software para os equipamentos, a suspeita é que ela poderia “abrir as portas” remotamente e deixar o governo chinês acessar as redes do país.
Agências norte-americana se posicionaram contra o uso de aparelhos chineses.
Mas essas acusações foram estendidas também para os smartphones desenvolvidos pela companhia, justo na época em que a Huawei se preparava para entrar no mercado norte-americano. Agências como FBI e CIA recomendaram que funcionários do governo não utilizassem equipamentos chineses e as grandes varejistas foram pressionadas a não colocar celulares da marca em suas prateleiras. Isso acabou com os planos de expansão da Huawei.
Publicamente, os EUA nunca apresentaram provas de que a Huawei realmente facilita a espionagem para a China. Até o momento, a companhia continua negando as acusações e afirmando que seus produtos são utilizados normalmente em centenas de países. A posição de Trump, no entanto, foi suficiente para que aliados como Reino Unido e Austrália também parassem de utilizar equipamentos da empresa.
Em outra frente, uma reportagem do The Information acusou a Huawei de subornar fornecedoras para roubar segredos industriais da Apple. No final do ano passado, a executiva (e filha do fundador da empresa) Meng Wanzhou chegou a ser detida no Canadá a pedido dos EUA. A acusação era de que a empresa teria violado sanções comerciais impostas pelos norte-americanos ao fazer negócios com o Irã, embora os detalhes dessa decisão nunca tenham sido divulgados.
Como isso pode afetar o 5G?
Os novos desdobramentos da disputa aconteceram exatamente quando muitas nações começaram a fechar parcerias para implementar o 5G em seus territórios. A Huawei é líder global nesse segmento e a expectativa era que ela vencesse muitas das licitações na área. Ainda não está claro como o 5G será afetado caso o bloqueio continue, mas é provável que a chegada da tecnologia atrase em todo o mundo graças à medida.
Levando em consideração esse contexto, é difícil justificar a medida que levou empresas como Google, Qualcomm e Intel a cortarem suas relações com a Huawei. Os aparelhos mais afetados pela decisão nem são vendidos nos EUA e, pelo menos até o momento, as acusações de espionagem estão centradas nas redes de telecomunicação, não nos produtos voltados para consumidores comuns.
Os próximos passos da guerra comercial ainda não estão claros, mas a Huawei se preparou para o pior cenário possível. A companhia tem o seu próprio sistema operacional desenvolvido com base na versão de código aberto do Android, que pode ser usada livremente. Por enquanto, a promessa da empresa é de que o 5G não será afetado em nada e a força da companhia está sendo subestimada.
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