A série de História da Tecnologia fala de novo de uma marca brasileira, que tá na memória de muita gente e foi essencial pro desenvolvimento da indústria nacional. É a Itautec, nome forte de serviços, servidores e computadores durante décadas.
A pesquisa foi complicada, então deixe o seu joinha no vídeo e se inscreva no canal do TecMundo no YouTube — caso ainda não tenha feito isso até agora. Pronto? Então chegoua hora de conhecer a história da Itautec.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
O banco em tempo real
A história começa em 16 de novembro de 1979, quando o setor de servidores do Itaú queria montar um “projeto de banco em tempo real” com informações mostradas rapidamente aos correntistas. Primeiro, eles pensaram em pegar tecnologia estrangeira, mas logo veio a oportunidade de fazer tudo por conta própria com novidades da época: os microprocessadores. O time criou terminais simples que ligavam sistemas bancários e mostravam a situação de contas, e o presidente do conselho do Itaú, Olavo Setúbal, gostou tanto da ideia que autorizou a criação de uma empresa de tecnologia.
O nascimento da Itautec passa diretamente por Carlos Eduardo Corrêa da Fonseca, o Karman. Ele trabalhava com sistemas no Itaú, e foi realocado pra presidência da Itautec desde a fundação até 1999.
Fonte: Reprodução/DocManagement
Ele voltou em 2010 pra integrar o conselho e infelizmente já nos deixou em 2011. Mas ele deixou um grande legado, porque a Itautec começa com esses projetos de automação bancária antes de ser fabricante de eletrônicos. Em outubro de 1980, a agência Mercúrio é inaugurada com o sistema de terminal de atendimento implantado pela primeira vez, depois passando para outros locais.
Entrando no mercado
É aí também que ela começa a fabricar hardware, software e aplicativos pro mercado empresarial e depois consumidor, dividindo espaço com o desenvolvimento de tecnologia bancária. Vale lembrar que os anos 80 ficaram marcados pela reserva de mercado no Brasil pra produtos de informática, e a lei favorecia marcas nacionais enquanto restringia ao máximo a importação de estrangeiras.
Isso fortaleceu as empresas daqui, mas o ambiente de concorrência era artificial, e só depois da abertura do mercado, em 91, a gente viu que as condições oferecidas aqui não eram tão boas assim e os produtos chegavam bem atrasados.
O I-700. (Fonte: Reprodução/O pior do meu mau humor)
Em 1982, é lançado o primeiro microcomputador da empresa, o Itautec I-7000. Muita gente tem boas memórias dele, e o modelo hoje é extremamente raro. Mais rara ainda é uma cópia original do sistema operacional dele, o SIM/M.
Já no ano seguinte, a evolução é bancária: o primeiro caixa eletrônico do país é inaugurado em Campinas no dia 14 de abril, revolucionando a forma com que usamos esses serviços. Com o tempo, ele automatiza até o serviços de bancos menores ou até rivais diretos. Em 1984 e 85, saem dois novos modelos de destaque: o I-9000, que inaugura a linha dos computadores de médio porte conhecidos como supermini, e uma linha de PC/XT compatível com o computador de mesmo nome da IBM.
Parcerias de sucesso
Falando em IBM, em 89 a Itautec fecha um acordo de transferência de tecnologia com a gigante estrangeira nesse período, além de comprar a Philco Rádio e Televisão, uma divisão de produtos que pertencia à Ford. O destaque do período em hardware era o computador IS30 Plus, além do IS 386, um dos primeiros notebooks brasileiro.
Na década seguinte, ela continua as parcerias pra se manter forte no mercado mesmo com o fim da reserva de mercado, que termina em 91.
É desse ano o acordo com a Intel pra produzir e distribuir servidores no Brasil, e de 93 a criação da Itec, uma empresa joint-venture com a IBM depois de anos de aliança. Em 94, a fusão com a Philco é definitiva, adicionando um portfólio bem vasto de eletrônicos em diversas áreas. E, sim, a Philco ainda vai ser tema de história por aqui.
Fonte: Divulgação
A partir de 93, ela começa a vender PCs com o novíssimo Windows 3.1 de fábrica e em português do Brasil, uma grande novidade pra época. Ela também seria pioneira em vender modelos pela internet no final da década, quando o eCommerce engatinhava no país. O sistema era BTO, built to order, .
Nasce a InfoWay
A gente precisa fazer uma pausa em 1995. É quando nasce a família InfoWay de computadores, virando quase sinônimo de PCs Itautec por vários anos. A estreia tinha como destaque processador Pentium de 75 Mhz, Windows 95 e três modelos diferentes: um desktop, um multimídia e um multimídia com rádio e TV embutidos. Esse negócio de ver vídeos, ouvir música e navegar naquelas páginas bregas era novidade, e rendeu comerciais clássicos como esse aqui.
Fonte: Reprodução/YouTube
E ela tava bombando nesse período! Em 1996, o faturamento registrado é de R$ 1,3 bilhão, sendo a área de informática responsável por 41,1% deste faturamento. A Itautec tinha 10% do mercado brasileiros de computadores, número que caiu pela metade dois anos depois, mas só porque mais concorrentes apareceram.
Dessa segunda metade dos anos 90 até os começo da década seguinte, não faltam modelos de computadores, monitores, aparelhos de DVD, impressoras e outros produtos da Itautec e Philco. E vale aquela regra dos outros vídeos: é muito modelo e não tem como eu citar todos, então diz aí nos comentários o seu favorito.
O terminal WebWay Slim. (Fonte: Divulgação/Itautec)
Destaque pro Theater, com monitor de 33 polegadas e cinco caixas de som com sensação única de áudio e vídeo pra época, o WebWay Slim, uma versão magrinha do original, e o Transglobe, com foco em ser mais barato.
Explorando outros segmentos
A Itautec também começou a se interessar pelo ramo dos supercomputadores, sistemas capazes de processar uma quantidade absurda de cálculos e ajudar bastante em pesquisas científicas em empresas ou universidades.
O primeiro deles foi o InfoCluster, de 2000, em parceria com a escola politécnica da USP e depois de anos de desenvolvimento. Mas vieram muitos outros, como o PAD, de 2001, e o Grifo04, que foi instalado na Petrobras e em 2012 chegou a ser o supercomputador de melhor desempenho na América Latina e número 68 no ranking global.
(Fonte: Reprodução/Itautec)
Vale lembrar também que a tecnologia de correção e sugestão original do Word é uma invenção brasileira. O sistema foi criado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP em 1993, por encomenda da Itautec e posteriormente licenciado pela Microsoft. Hoje, o software é todo feito pela equipe do Office, mas a ideia é nossa.
A partir de 2001, a empresa passa também a exportar máquinas de autoatendimento bancário para EUA e Europa. E o aumento na demanda faz ela manter várias fábricas no Brasil, inclusive em Jundiaí e em Manaus, na maioria lidando com tecnologia 100% brasileira.
Fonte: Reprodução/MercadoLivre
Já em 2002, os destaques são o PocketWay, um assistente pessoal que é o primeiro PocketPC nacional, e o WalkPC, notebook com configurações mais poderosas que os modelos padrão.
Dificuldades e fim
Em 2005, a Itautec vende a Philco pra outra marca brasileira, a Gradiente, por um valor bastante alto pra época. Foi um bom negócio pra Itautec, que não queria mais tanto investimento em telas, TVs e eletros, e um péssimo pra Gradiente, que revendeu a marca dois anos depois por causa da crise. Ela já teve a história contada por aqui e, olha, ficou bem legal. Nesse período, a marca também encerra a produção de semicondutores. Já em 2006, ela compra uma empresa, a Tallard, de distribuição de produtos corporativos.
Com a reorganização, o foco passa a ser informática e o negócio original de automação e serviços bancários.
Ela também entrou em modas do mercado, como lançar o tablet TabWay em 2011, o InfoWay 3d aproveitando a tecnologia no entretenimento, modelos tudo em um como o AT0101 e obteve grande sucesso com o notebook InfoWay W7535 com chip Intel Core. E a gente tem que citar também a Librix, uma distribuição do Linux desenvolvida pela Itautec e distribuída a partir de 2006.
Aí vem a mesma história da Gradiente e da CCE: queda brusca das marcas nacionais por vários motivos, desde erros estratégicos até crise de 2008, passando pelo mercado cheio de PCs e a concorrência forte das multinacionais. As finanças da Itautec caem e ela perde mercado tanto em PCs quando em automação. Em 2012 e precisando focar ainda mais, ela vira de vez uma empresa voltada para soluções em vez de hardware.
Fonte: Divulgação/OKI Brasil
Em 15 de maio de 2013, é oficial. A Itautec deixa o mercado de computadores pessoais, de desktops, laptops e servidores, mantendo apenas o suporte ao consumidor. O que sobra é a linha de automação e serviços de TI, que vira uma nova empresa em conjunto com a japonesa OKI, ou O K I. Ela tem 70% da participação, com os outros 30% pertencendo ao que restou da Itautec, e a parceria foi formalizada um ano depois. A Itautec então vai pros bastidores no mesmo serviço que ajudou a fundar. A OKI Brasil é hoje o que resta dessa empresa clássica da informática brasileira.
...
Essa é a história da Itautec, uma marca brasileira muito importante para dois setores da tecnologia nacional e que está na memória de muita gente que teve um desktop ou notebook da marca. É bom conhecer a trajetória dela, apesar de não ter um final tão feliz assim. Se você quiser deixar uma sugestão de empresa, produto ou serviço para o quadro, é só adicionar um comentário. Até a próxima!
Fontes
Categorias