Apesar de ter o Twitter vigiado por assessores , Elon Musk não deixou de usar a rede social dos 280 caracteres para falar bobagens. A mais recente delas foi publicada na última segunda (26), quando ele falava sobre o sucesso das empresas que criou e disse que “ninguém mudou o mundo trabalhando 40 horas por semana”.
Como se não bastasse, ele dá sequência à sua filosofia de autoajuda de saldão de livraria dizendo que “se você ama o que faz, isso (na maior parte do tempo) não parece trabalho” — o que não passou batido pelos seus seguidores.
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There are way easier places to work, but nobody ever changed the world on 40 hours a week
— Elon Musk (@elonmusk) 26 de novembro de 2018
But if you love what you do, it (mostly) doesn’t feel like work
— Elon Musk (@elonmusk) 27 de novembro de 2018
Muitas respostas à postagem destacaram o problema dessa ideia relatando efeitos negativos de poucas horas de sono e a luta dos trabalhadores para garantir uma jornada de trabalho reduzida. Outros comentários destacaram que “mudar o mundo” tem mais a ver com o impacto de suas ações do que com o tempo gasto para realizá-las.
“Falta de horas de sono e de descanso diminui o desempenho”, escreveu a profissional da educação Patty B. Lamprinakos. “Pessoas inteligentes fazem mais em menos tempo. Mudar o mundo não tem a ver com horas, mas com impacto. Esse é um comentário ridículo”, finalizou.
Lack of sleep and recharge times lowers performance. Smart people get a lot done in less time. Changing the world is not in hours, it is in impact. This is a ridiculous comment.
— Patty B. Lamprinakos (@PBLamp) 27 de novembro de 2018
“Muitas pessoas mudaram o mundo em 40 horas semanais em seu local de trabalho... E algumas sem qualquer tempo no local de trabalho”, escreveu o jornalista Jared Petty. “A fidelidade a uma causa não é medida em horas, mas em impacto”, concluiu.
Typically I don't comment on posts like this, but that statement just isn't true. Plenty of people have changed the world on 40 hours a week at their workplace... and some through no time in a workplace at all. Fealty to a cause is not best measured in hours, but in impact.
— Jared Petty (@pettycommajared) 28 de novembro de 2018
“Típico de Elon Musk: fetichizar o trabalho em excesso apesar de sofrer com os efeitos, colocar trabalhadores sob risco dos efeitos do trabalho em excesso (as fábricas da Tesla têm uma alta taxa de acidentes), demitir aqueles que se preocupam com responsabilidades (com efeito desproporcional em mulheres)”, diz a resposta do perfil 4 Day a Week, grupo ativista britânico pela redução dos dias trabalhados na semana.
Typical Elon Musk:
— 4 Day Week Campaign (@4Day_Week) 27 de novembro de 2018
- fetishising overwork despite suffering the effects
- putting workers at risk of effects of overwork (Tesla factories have high accident rates)
- pushes those with caring responsibilities out of work (disproportionately effecting women)
“As pessoas que lutaram (incluindo aquelas que morreram) pela semana de trabalho de 40 horas mudaram o mundo”, escreveu a jornalista Diana Hussein. “Isso ajudou a garantir que as corporações não explorassem os seus trabalhadores como você gostaria. O movimento trabalhista é maior do que qualquer agenda egoísta que esteja tentando alcançar, amigo.”
The people who fought for (including those who died) the 40 hour work week changed the world. It helped ensure corporate shills like you don't exploit people's work like you'd wish to. The labor movement is bigger than whatever self-serving agenda you're trying to achieve, buddy.
— Diana Hussein (@heyadiana) 27 de novembro de 2018
Vários estudos já mostraram que dormir pouco pode ser tão ruim quanto fumar, aumenta as chances de doença, prejudica a memória e o desempenho no trabalho e é até mesmo capaz de diminuir a expectativa de vida. Musk é conhecido por dormir poucas horas todos os dias e ser “viciado em trabalho”, mas nem de longe isso parece ser recomendável a alguém.