A gente já contou aqui na série de História da Tecnologia a origem do mouse, do teclado e do fone de ouvido. Tá faltando fazer a mesma coisa com os monitores, outro item essencial desse conjunto, e você vai saber de onde vieram os modelos mais quadradões e antigões até os modernos que a gente vê hoje.
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Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
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Antes das telas
A trajetória desse componente tão importante começa antes mesmo de eles existirem. Modelos jurássicos de computadores utilizavam um jeito bem diferente de exibir conteúdos pra você sem uma tela pra isso. Como eles eram usados especialmente pra cálculos matemáticos complexos, a configuração era demorada e tinha que ser precisa, já que não tinha um display pra conferir as fórmulas. E o resultado era impresso em papel mesmo, ou gravado em cartões perfurados lidos por outras máquinas. A IBM era uma das principais marcas desse processo.
Cartões perfurados.
Entre os aparelhos jurássicos está o ENIAC, ou Computador e Integrador Numérico Eletrônico, um dos primeiros digitais de grande escala da história. Ele ocupava uma sala inteira, pesava 30 toneladas e tinha 40 painéis diferentes de configuração, e pra saber tudo sobre ele é só ver um dos nossos capítulos anteriores.
Já o processo de cálculo era mostrado como lâmpadas piscando em um painel de comandos. Cada luz e a ordem disso informava o andamento do processo. Tinha ainda os teletipos, máquinas de escrever que reproduziam conteúdo s impressos. Como dá pra notar, tinha que ter conhecimento técnico avançado pra entender e configurar essas máquinas.
O começo de tudo
A revolução vem em 1922 com a comercialização do CRT, sigla pra tubo de raios catódicos. Esse equipamento dispara um feixe de elétrons contra uma tela fosforescente, criando imagens. Esse princípio básico de exibição do vídeo foi descoberto por Johann Hittorf lá em 1869, mas aprimorado por John Johnson e Harry Weinhart. Ele levaria décadas pra virar um monitor, mas já indicava qual seria o futuro.
Uma das primeiras aplicações de monitores como a gente conhece hoje veio em 1950 e foi também um dos primeiros vídeo games da história. É um equipamento chamado Bertie the Brain, que nada mais era do que um bom e velho jogo da velha em uma tela cheia de lâmpadas que se iluminavam representando os símbolos.
Ele ficou só duas semanas em exibição em uma feira no Canadá. Oito anos depois, veio o Tennis for Two, pai do Pong, um joguinho mostrado em uma tela de um instrumento de medida chamado osciloscópio que tem como base o CRT.
Em 1954, a IBM anuncia o 740 CRT Recorder, uma forma primitiva de monitor que mostrava o que era gravado em um microfilme de 35 mm. Ele era usado pra representar visualmente o desenho ponto por ponto de gráficos vetoriais. Outro sistema de exibição pioneiro da empresa foi o IBM 2250, que tinha até caneta interativa.
O IBM 2250.
Ele tinha um display de gráficos vetoriais de 1024 por 1024 e gravava o desenho das linhas na memória do computador. Note como a tecnologia foi amadurecendo junto com o aumento de desempenho nos computadores, já que desenhar e exibir gráficos em tempo real era uma tarefa bem exigente pra época.
Na década de 1960, o CRT começa a ser usado para exibir textos, e a tecnologia já era usada também em radares. O DEC PDP-1, de 61, tinha uma tela CRT de 16 polegadas e foi considerada a primeiro computador com um terminal gráfico próprio. Aliás, a DEC era a grande rival da IBM nesse setor, com soluções mais baratas no setor de display. Mas vale lembrar que era tudo monocromático nessa época, geralmente com os caracteres em verde.
O DEC PDP-1.
Já em 1968, acontece a “mãe de todas as demos”, uma conferência de estreia de várias tecnologias, incluindo hyperlinks, videoconferência e o mouse. Cientistas como Douglas Engelbart mostraram que terminais de vídeo podiam exibir conteúdo interativo.
Colocando na prática
Aí o negócio decola. A DEC apresentou o futurista VT05 em 1970, com uma pequena telinha acoplada pra exibir caracteres. Em 1973, Don Lancaster cria um aparelho chamado “TV Typewriter”, em que os caracteres digitados num teclado apareciam em uma televisão normal.
O manual pra montar isso esgotou e o projeto era difícil de replicar, mas a ideia era tão boa que virou uma revolução. Dois anos depois, Lee Felsenstein foi além com o Sol-20, um computador que mostrava gráficos alfanuméricos de forma mais precisa, sem depender só da CPU. Ele também é o responsável pela tecnologia VDM-1, uma placa acoplada em telas pra transformar elas em terminais de vídeo de forma barata.
Já em 1976, uma certa dupla aí apresenta uma placa de circuito totalmente montada que só precisava de teclado e tela pra funcionar, sem hardwares adicionais. Esse era nada menos que o Apple I, o trabalho duro de Steve Wozniak junto do faro pra vendas de Steve Jobs.
Woz e Jobs.
Mas ainda faltava chão pros monitores, que na época se chamavam displays de terminal de vídeo, VDTs, ou unidades de display visual, VDU. As fabricantes de computadores lentamente foram anunciando as suas próprias telas, mas a evolução vinha de todos os componentes.
Um dos próximos passos foi da Motorola, com a linha de processadores 6800 que dedicava parte do desempenho pra gráficos e sons. Outros destaques da época eram o monitor Commodore 1702, de 83, já colorido e vendido com o Commodore 64. E o Amiga 1000, da mesma empresa e de 1985, usou a CPU da Motorola pra trazer gráficos avançados pra época.
Interfaces gráficas com pastas, desenhos e ícones, não só caracteres ou comandos na tela, foram surgindo também no começo dos anos 80, com o Xerox Star, com a ideia tomada pela Apple pro Macintosh em 84.
O Xerox Star e a interface gráfica.
Já em 85 a NEC apresenta a tecnologia de multifrequência MultiSync, que permitia aos monitores suportarem mais de uma resolução. Ela virou padrão com outro nome em várias fabricantes. Já o VGA é outro padrão famoso que foi publicado em 1987 pela IBM, e é um conjunto de especificações técnicas, mas hoje a sigla virou sinônimo mesmo do conector.
Novos competidores
E quando o LCD entrou na briga? Bom, o cristal líquido é uma tecnologia descoberta em 1888 pelo botânico Friedrich Reinitzer. Mas a aplicação em eletrônicos veio décadas depois, quando o cientista George Heilmeier descobriu em 1964 os efeitos reflexivos da tela de cristal líquido, que é a sigla que a gente conhece hoje.
As telas LCD eram mais finas e sem a curvatura do CRT, mas eram muito caras. Nos anos 90, só computadores portáteis e dispositivos como calculadoras ou relógios tinham essa tela, e empresas como a DEC e a Hitachi foram as pioneiras. Em 96, a Samsung também entra na briga e vira um dos destaques no setor. O Eizo L66 é tido como um dos primeiros desse mercado. Em 2003, os monitores LCD passam os CRT pela primeira vez no mercado, e a briga seria boa por mais alguns anos.
Já as telas de plasma foram descritas pela primeira vez em 1936, mas na prática surgiram só em 64 na forma do terminal de vídeo PLATO, que era monocromático em laranja. Apesar de muita gente preferir essa tecnologia, ela também se mostrou cara como o LCD e era mais usada em telas grandes, então não teve tanto espaço assim em monitores.
OLED e outras novidades
A tecnologia OLED é a sigla da moda. Os diodos orgânicos emissores de luz são materiais que emitem luminosidade quando estimulados por energia, e não precisam de backlight pra mostrar brilho e cores em alta definição, fora o baixo tempo de resposta. As primeiras pesquisas com o material são de 1950, mas a primeira tela só veio em 87 nos laboratórios da Kodak. Foram necessárias décadas pro material ser viável pra uso comercial. Anos depois das primeiras TVs, o primeiro monitor OLED veio no começo de 2016: o Dell Ultrasharp UP3017Q.
O UltraSharp da Dell.
Hoje em dia, você pode só comprar o monitor que quiser, ou ir atrás de um especialmente feito pra sua necessidade. Monitores gamers apostam em alta resolução, respostas rápidas e integração com placas de vídeo, como é o caso da tecnologia G-Sync, da NVIDIA, que faz otimizações dinâmicas nos jogos. Já aqueles pra uso profissional, como edição de vídeo e foto, focam mais em resolução, taxa de contraste e espaço de cores.
E tem várias categorias diferentes, que vão muito além do tamanho em polegadas. Em 2010, o widescreen começa a virar moda com monitores com aspecto geralmente em 16:9 ou 16:10. Só que anos antes, em 2006, o Gateway FPD2485W já trazia a tecnologia.
O pioneiro da Gateway.
O primeiro monitor desktop curvo do mundo é o Ostendo CRVD de 43", revelado em 2008 e lançado um ano depois. Tem ainda os 3D, uma tecnologia que não pegou tanto quanto muita gente esperava, e exigia o uso de óculos especiais assim como no cinema.
O modelo da Ostendo.
O Samsung 2233RZ, de 2009, foi o primeiro 3D e com frequência de 120 Hz, e funcionava com a tecnologia GeForce 3D Vision da NVIDIA.
Um mercado variado
São várias as fabricantes que se destacam hoje nesse mercado. Algumas são gigantes e bem tradicionais em várias áreas, como LG, Samsung, HP e Lenovo. Outras são mais conhecidas por computadores mesmo, como a Dell e a sua subsidiária gamer, a Alienware. Dá pra citar ainda a BenQ, que anda meio sumida, mas é bem elogiada nesse setor, e a Acer, que ainda vai ser tema do canal, e aposta bastante na linha gamer Predator. Tem ainda a ASUS, tanto pro uso casual quanto específico, e a AOC, ambas já abordadas aqui no canal.
Fora resolução, aspecto de tela, tamanho em polegadas e angulação, tem outras variáveis importantes no mercado de monitores. A luminância é o brilho da luz emitida ou refletida, e nas especificações é indicada em nits.
A taxa de contraste é a diferença entre os tons mais escuros de preto e mais claros de branco possíveis. Isso pode ser medido tanto de forma estática, que é o valor definitivo, quanto dinâmica, que é a manutenção desse contraste com imagens em movimento.
A taxa de atualização é medida em Hertz e é a frequência de atualizações por segundo que o hardware do monitor exibe no display. Já o input lag é o atraso, em milissegundos, que existe entre o recebimento, processamento e exibição do sinal de vídeo. Quanto menor o valor, mais imperceptível é essa demora.
E entre todas as siglas, você provavelmente já viu bastante por aí a IPS, ou in-plane switching. Nesse formato, os cristais são alinhados horizontalmente pra garantir meelhor taxa de atualização e ângulo de visão.
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Essa é a história dos monitores, que demoraram um pouquinho pra aparecer, mas hoje são indispensáveis pra games, trabalho, navegação na internet, enfim, o uso geral de PCs. Se você tiver uma sugestão de empresa, produto ou serviço para virar tema aqui na série, é só deixar um comentário.
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