A série de História da Tecnologia vai voltar a falar de uma marca brasileira, desta vez de uma que ainda está presente no mercado firme e forte. É a Multilaser, uma fabricante que começou tímida, mas acabou se diversificando em vários segmentos e foi muito pedida nos comentários.
Antes de falar da origem e expansão desse nome, não se esqueça de fazer a inscrição no canal do TecMundo no YouTube para mais conteúdos de tecnologia. Confira ainda a playlist do História da Tecnologia, porque aquele capítulo que você tanto pede já pode ter sido contado por aqui.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Um começo diferente
A Multilaser foi fundada em 1987 pelo empresário Israel Ostrowiecki, um engenheiro que veio com os pais da Polônia. Depois de trabalhar com construtoras, ele abre o próprio negócio em tecnologia, mas nada a ver com o que ela faz hoje. A Multilaser importava copiadoras da Xerox, que já teve a história contada por aqui, e depois passou a vender cartuchos reciclados pra impressoras, um negócio econômico pros clientes e novo em toda a América Latina.
Esse negócio continuou por anos com destaque, mas só no segmento de impressão e fotocópias. Até que em 2003 acontece uma tragédia. O fundador da companhia desaparece durante práticas de mergulho na Costa Rica e as buscas são encerradas depois de dez dias.
Alexandre e Renato, as duas caras da administração da Multilaser até hoje.
Nesse momento difícil, o filho mais velho de Israel, Alexandre Ostrowiecki de 24 anos, toma a decisão que levaria a Multilaser ao posto em que ela tá hoje. Ele assume a empresa e continua tocando o negócio.O Alexandre é formado em Administração, tava na Multilaser há só um ano no setor de importações e financeiro. Nessa época, eram só 200 funcionários e faturamento de 30 milhões de reais, e pra ajudar ele chama o amigo Renato Feder para ser sócio.
O recomeço
E a tarefa era difícil, porque o setor de cópia e impressão cai. Em 2004, aí sim a Multilaser entra no mercado de informática. No começo, o foco era acessórios e periféricos, como mouse, microfones e caixas de som, frutos de parcerias com fornecedoras asiáticas. Mais eletrônicos só chegam dois anos depois, em 2006, incluindo aparelhos da moda na época: um MP3 player e uma câmera digital.
Essa revolução da Multilaser se torna definitiva em 2007, quando a fábrica de São Paulo que trabalhava com cartuchos de impressão é desativada, e a marca inaugura uma planta em Extrema, Minas Gerais. No começo, ela fazia pendrives por lá, mas logo mochilas, aparelhos de GPS, porta-retratos digitais e filmadoras entram no catálogo da empresa.
No mundo dos celulares
É em 2010 que ela entra no mercado de celulares de diferentes formatos e modelos. Aos poucos, ela foi acompanhando tendências do mercado, e lançou em 2011 o primeiro dela com tela sensível ao toque, o Touch, com suporte pra três chips.
O tablet PC Life.
A próxima novidade foi lançar tablets. O PC Life saiu em maio de 2011 pra ser um rival barato do iPad, era fabricado no Brasil e teve análise num TecMundo ainda engatinhando. Eles foram seguidos pelos Oasis e PC Elite, esse último de 7 polegadas, com 8 GB de espaço interno e 512 MB de RAM.
Só em 2012 que vem o seu primeiro smartphone, o Mercury P3169. Ele tinha teclado físico e display touch de 2,6 polegadas, além de Android 2.2 e câmera traseira de 2 megapixels. Ele foi vendido na época por um valor acessível, 429 reais. Depois ainda vieram os tablets Diamond e Sigma, além do híbrido Agata, com tela de 5 polegadas. No começo da era Multilaser em tablets e smarthones, a tela resistiva de resposta ruim em vez de capacitivas era bem criticada.
Mercury P3169.
Em maio de 2012, a Multilaser ainda resolve via acordo uma pendência judicial com a HP. A gigante acusou a brasileira de vender cartuchos compatíveis com produtos da HP que violavam patentes, e como resposta a Multilaser parou a comercialização.
O portfólio só aumenta em 2013 com um Mini Teclado, um roteador e até produtos para gamers, como um headset e uma placa de vídeo. Nesse período, a empresa até se arrisca em setores bem diferentes, como bikes elétricas e lança a caixa de som Bazzoka, que tem mesmo um formato meio lança-foguetes.
O "lança-foguetes" que na verdade é uma caixa de som.
Em smartphones, o aparelho de entrada Stylus tinha quatro, pois é, quatro chips. Em 2014 teve até um tablet gamer dual core com controles nas laterais e uma linha de produtos pra segurança. Nesse mesmo ano, ela abre a Brasil Componentes pra fabricação de chips e cartões de memória próprias.
Conhecendo a família
A marca começa então a separar tablets e híbridos na linha M e smartphones na família MS. Esses são alguns dos modelos que a gente destaca:
- De 2015, o M9 tinha tela de 9 polegadas e chip quad-core;
- O MS6 Colors, também desse ano, saiu por 799 reais com cases coloridos e também um processador com quatro núcleos.
- De 2017, o MS55M tinha uma bateria parruda de 4.500 mAH por apenas R$ 599.
- Já o MS60 chegou com 2 GB de RAM ainda acessível e foi mais elogiado que os antecessores.
Nesse período, a empresa precisa se reinventa de novo, porque o mercado de celulares ganha mais concorrência das marcas chinesas e das gigantes com dispositivos mais baratos.
Novos horizontes
Em 2017, a Multilaser incorpora uma nova fábrica de componentes em Manaus e faz uma aquisição: a da Giga Security, empresa de segurança com catálogo que inclui alarmes, interfones, cabos e controle de acesso. Ela ainda lança notebooks da série Legacy.
O modelo MS80.
Em 2018, o destaque em smartphones é o MS80, com um visual bastante renovado e seguindo tendências do mercado com tela de padrão 18:9 e bordas finas. Na ideia de ser acessível, ela também já apresentou três smartphone com Android Go, a versão mais básica do sistema pra dispositivos de entrada. O MS50G e o MS50X são mais bem equipados, e o menos potente, MS40G, sai por 339 reais, mas em compensação é realmente básico em especificações.
Em maio, a Multilaser registrou um pedido pra oferta pública de ações, mas por enquanto ela adiou alegando volatilidade do mercado. Enquanto isso, ela agora tem um sistema de microfranquias com displays de venda em locais como padarias e lojas de conveniência.
O ponto negativo do ano foi a acusação de colocar malwares instalados de fábrica no modelo MS50s. Em um comunicado, a Multilaser se defendeu dizendo que a solução de atualização Gmobi talvez tivesse sido invadida e dados acabaram roubados, mas neguem que ele seja algo malicioso e já abandonou o produto.
Onde ela está hoje?
A marca atualmente se volta também pro setor automotivo com aparelhos de som, painéis multimídia e acessórios, e pra casa, com secador de cabelos, eletrodomésticos, escova elétrica e muito mais. Ela hoje ainda abraça as marcas Atrio, de produtos e acessórios esportivos e fitness, a Pulse pra headphones e speakers, a família Warrior pra games e Multikids e Multikids Baby pra faixas etárias menores, indo de mamadeiras a babas eletrônicas até brinquedos.
Em 2017, a Multilaser vendeu mais de 40 milhões de produtos e estipulou um faturamento de R$ 2 bilhões para 2018, bem mais do que os 30 milhões lá de quando ela tava começando.
Hoje, a Multilaser trabalha com oito marcas de produtos dentro do seu guarda-chuva. Tem a Multilaser tradicional, que é a que a gente mais vê por aí. Tem a Atrio, Pulse, Warrior, Multikids, Multikids Baby, Multilaser Pro e também a Giga, fruto da aquisição. Ao todo, são mais de 3 mil produtos em linha de produção e 3 mil funcionários.
Afinal, ela é boa ou ruim?
A Multilaser é bastante querida por boa parte do público por ser uma marca nacional que tenta peitar empresas com muito mais capital. Por outro lado, ela também é criticada por causa da qualidade de alguns produtos, assim como outras nacionais como Positivo e as finadas CCE e Gradiente. A gente não entra aqui no história da tecnologia nesse mérito, pra isso confira as análises do TecMundo.
Tem ainda a questão de importação de componentes: muita gente acusa ela de "white label", que é lançar aparelhos de outros países sob o nome de uma outra marca.
Segundo a marca, ela produz 70% do que vende. Além disso, faz processos na fábrica com os materiais de fora, desde finalização de montagem até gravar software. Ela tem um laboratório em Shenzen, na China, pra garantir que daquele lado as coisas também saiam como planejado.
O fato é que ela realmente tem dificuldades de competir em um mercado tão difícil e tenta se virar muito bem pra se manter. O foco em disponibilizar produtos tão variados a preços mais acessíveis é uma ótima iniciativa, e priorizar a tecnologia pras classes C e D é uma iniciativa que nem todo mundo dá importância aqui no Brasil.
...
E essa é a história da Multilaser até agora! A marca que começou só num setor e hoje tá em tudo de informática e tecnologia, criticada por muitos, mas valorizadas por muita gente também, especialmente por ser uma empresa nacional nesse mercado tão difícil. Se você tiver uma sugestão de empresa, produto ou serviço para virar tema aqui no canal, é só deixar a sua sugestão nos comentários.
Categorias