Depois de contar a história do Orkut, a série de história da tecnologia aqui do TecMundo vai falar sobre outra instituição consolidada da internet brasileira: o MSN. Você vai saber a origem do mensageiro, a era de ouro — inclusive e especialmente aqui no país — e como ele virou nada mais do que memórias.
Antes, não se esqueça de se inscrever no canal do TecMundo no YouTube para mais conteúdos como esse. Confira também a playlist do História da Tecnologia para acompanhar tudo o que já foi contado na série.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Começo ambicioso
A história do MSN começou no meio da história da Microsoft e da guerra dos navegadores, que a gente já contou aqui no canal. No meio dos anos 90, a empresa era uma das maiores do mercado de tecnologia, líder em sistema operacional e softwares, mas estava demorando para entrar na onda da internet.
Com o lançamento do Windows 95, ela precisava começar a se mexer. Foi aí que um grupo interno criou a The Microsoft Network, que saiu junto com o sistema operacional, em 24 de agosto de 1995. No começo, ela era um serviço de internet discada por assinatura, com tela de login, acesso a email e tudo o mais. A interface das diferentes categorias de notícias lembrava as pastas do Windows e tinha cores fortes, bem coisa daquela época.
No mesmo dia, entrou no ar também o domínio MSN.com, transformando a Microsoft Network em sigla. A ideia era que o MSN fosse uma página inicial da internet, um guia com vários conteúdos, e muita gente na época achou que ela seria uma concorrente da World Wide Web. Não chegou a isso, mas fez muito sucesso.
A primeira mudança
Em 1996, o MSN passou pela primeira de várias reformulações. A versão 2.0 ganhou conteúdos multimídia interativos, era distribuída por CD-ROM e tinha um monte de coisas bregas daquela época. Nasceram nesse ano o Slate, uma revista de política hoje independente, e o MSNBC, um portal de notícias e também canal a cabo em parceria com a NBC, que hoje é uma gigante de televisão por assinatura.
Foi aí que começou também a integração com jogos pelo Internet Gaming Zone, depois rebatizado para MSN Games. Salas de bate-papo chamadas MSN Chat nasceram, mas ainda não tinham nada a ver com o mensageiro.
Em 1998, o serviço discado foi separado e se tornou MSN Internet Access, focando só no provedor. Acredite se quiser: você ainda pode contratá-lo nos Estados Unidos, mas claro que os números hoje são minúsculos. O Program Viewer e as janelas foram abandonados pelo Internet Explorer, e o @msn virou domínio de email depois da compra da Hotmail pela Microsoft, em 1997.
O site estava meio abandonado e se tornou um grande portal de conteúdo gratuito, para competir com nomes como o Yahoo. Aí sim, ele virou página inicial de muita gente.
Nasce o Messenger
O ano de 1999 foi palco do lançamento do MSN Search, que se tornou o Bing anos depois, e de certo serviço individual de bate-papo. Na época, a ideia era competir com o ICQ, o AOL Aim e outros programas; nasceu então o MSN Messenger. A primeira versão, de 22 de julho, era crua, com poucos recursos, como lista de contatos, mas tinha uma malandragem: dava para acessar a rede do mensageiro da AOL pelo MSN, até que a rival descobriu e fechou a brecha.
Ele só foi chamar mesmo a atenção do mercado em outubro de 2001, com a versão 4.6, que saiu junto com o Windows XP. Ele trazia uma nova interface de usuário e conversas por voz. Só que essa versão não existia para o próprio Windows XP, que no lugar tinha o embutido Windows Messenger, uma versão simplificada que não durou muitas versões.
Em 2002, o MSN já tinha 75 milhões de usuários, especialmente por causa do login com a conta do Hotmail, e ganhou transferência de arquivos e plugins. De 2003, o MSN Messenger 6 trouxe a maior quantidade de personalização de avatares e cores, fora a opção de usar webcam para chats em vídeo e criar emoticons customizados, com base em imagens salvas no seu PC. Personagens como Pucca, a raposinha Pyong e muitos outros foram popularizados nesse período.
Em 2004, a novidade era mandar pequenas mensagem de voz para os contatos, além dos panos de fundo e dos winks — aqueles desenhos animados que ocupavam toda a tela e, às vezes, até travavam o PC de quem tinha uma máquina menos potente.
O boom
A própria Microsoft investiu bastante em publicidade, e o que mais fez sucesso era aquele homem vestido de borboleta que apareceu em vários comerciais — uma mistura de bizarro com engraçado. O negócio virou uma febre tão grande no Brasil quanto o Orkut, que já teve a história contada aqui. E rendeu muitas, mas muitas pérolas.
Mas vamos falar dos recursos favoritos da galera! Dois recursos clássicos eram os de status e subnick. No início havia opções pré-programadas, como “Ocupado” ou o superútil “Aparecer off-line”, mas depois surgiu a personalização, e aí a galera zoava do jeito que queria. E o MSN tinha integrações bem legais com players de música. Dava para colocar o que você estava ouvindo no subnick e até mandar nos chats com o comando “now playing”.
Havia ainda o "chamar atenção", que tinha um som irritante, tremia toda e tela e colocava em primeiro plano a janela do contato que fez isso com você. Era legal de fazer com os outros, mas horrível de receber.
Quem era bom com o mouse até podia fazer desenhos na tela e enviá-los no lugar de digitar. Aliás, todos os sons do MSN são clássicos, inclusive os que mostravam que os seus contatos estavam online. Existia gente que abusava disso e ficava entrando e saindo sem parar, enchendo a tela de notificações no canto direito.
Vale lembrar também do MSN Plus, um programa separado que dava uma turbinada na personalização. O destaque, claro, era mandar textos coloridos, colocar nicks com degradê, uma skin e por aí vai. Mas ele tinha outras funções, como usar mais de uma conta.
Com o tempo, o MSN adicionou também joguinhos. Havia campo minado, jogo da velha, Bejeweled, Uno e mais. Não dá para citar todos, então conte nos comentários o seu favorito.
Perdeu o charme?
Em 2005, ele trocou de nome para Windows Live Messenger, e muita gente diz que aí ele começou a perder o charme, tanto que continuava sendo chamado de MSN por fora. Ele passou a fazer parte do pacote Windows Live Essentials, e você tinha que escolher o que instalar depois do download, incluindo vários apps da Microsoft. Se ele piorou ou não, cabe a cada um responder, mas em popularidade ele ainda estava explodindo. Em 2009, já eram 330 milhões usuários mensais.
Falando em 2009, esse foi o ano de aniversário de 10 anos do serviço, e a Microsoft divulgou um vídeo especial para comemorar. O Windows Live Messenger 2009, estreando a nomenclatura por ano, teve uma versão Beta que primeiro só ficou disponível para pequenos grupos. Já a versão 2010 passou a separar as conversas em abas, organizando-as como se fosse um navegador.
A versão 2011 foi a videoanálise de estreia do Baixaki, e a gente destacou os novos recursos e atualizações na interface.
Em maio de 2011, a Microsoft comprou o Skype, que já era um serviço famoso de chat e conferências de áudio e vídeo.
Parecia que isso não teria relação nenhuma com o MSN, mas foi o começo do fim. A última versão foi a Windows Live Messenger 2012. E vale lembrar que o MSN sempre foi alvo de questões de segurança. Ele até tinha um filtro antispam e uma lista de contatos bloqueados, mas rolavam muitos links suspeitos nas conversas, sem contar a preocupação com o uso dele por crianças.
O começo do fim
Em 6 de novembro de 2012, a Microsoft anunciou que o Skype e o Messenger passariam por uma fusão no ano seguinte e seria possível acessar contatos de um em outro. Só que, em 15 de fevereiro de 2013, veio o anúncio de que o Windows Live Messenger seria descontinuado.
Tudo foi bem rápido: em abril, um a um os países foram perdendo o acesso ao programa e recebendo o aviso de que a partir de então a comunicação seria via Skype. Com requintes de crueldade, o Brasil foi o último, no dia 30 daquele mês. O fim definitivo veio só em 31 de outubro de 2014, na China, último país que ainda mantinha serviços do Windows Live Messenger como resistência.
A “culpa” é do Skype, mas hoje muita gente acha que ele não teria chances contra WhatsApp ou Facebook Messenger. Há quem ache que o SMS ou o mensageiro do iOS acabariam uma hora ou outra com ele, contudo nunca vamos saber.
O Windows Live Messenger teve versão para iOS em 2010. Ele também saiu para Windows Phone, BlackBerry, Symbian e Zune HD. Java, Mac OS x e até Xbox 360 receberam versões do programa. Pois é, nada de Android nessa lista.
Sobrevida
A marca MSN continuou viva paralelamente. Lá em 2000, ela concentrou vários serviços online, como compras, previsão do tempo e mercado de ações, e todos foram se tornando aplicativos do Bing. Já em 2001, veio o MSN Explorer, uma mistura de navegador com serviços do Windows Live e do Hotmail. A Microsoft gastou muita grana no começo do MSN e não teve todo o sucesso que gostaria contra a AOL, mas a fama no fim das contas acabou chegando.
O portal existe até hoje, inclusive em português, e tem vários atalhos para serviços como o email Outlook, a Microsoft Store e o OneDrive. Mas a produção de conteúdo, como as notícias, é toda de parceiros. Continua um portal bem funcional, mas sem aquela glória de antes.
E foram quatro logos do MSN. De 1995 a 1998, era um símbolo simples com o N em vermelho. Em 1999, nasceu a borboleta colorida que ficou até 2010.
Em paralelo, o MSN usava aqueles dois hominhos lado a lado. Até o fim do mensageiro, a logo do MSN tinha a borboleta redesenhada e fonte mais fina. Atualmente, o animal foi para o outro lado, e o símbolo ficou monocromático.
...
E essa é a história do MSN Messenger, um serviço que durou 15 anos e continua nos nossos corações. Hoje, o pessoal não larga o Facebook ou o WhatsApp, mas antes não tinha outro: era só MSN. Se você quer ver uma história de uma empresa, produto ou serviço contada por aqui, deixe o seu comentário e até a próxima.
Fontes
Categorias