Quando você pensa em grandes e poderosas figuras do mundo da tecnologia atual, que ditam os rumos dos negócios da indústria e movimentam quantias absurdas de dinheiro, é natural que surjam sempre os mesmos nomes. Só que além de Tim Cook, Bill Gates, Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg e outros figurões, existe um empresário e investidor que prefere permanecer longe das manchetes, mas atualmente é ainda mais importante para a indústria.
Trata-se de Masayoshi Son, dono do grupo financeiro SoftBank e atual homem mais rico do Japão. O nome do bilionário não é mencionado com tanta frequência nem aqui no TecMundo, mas os cheques dele circulam cada vez mais em companhias de vários setores, de gigantes bem estabelecidas a startups com muitas promessas pela frente.
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A seguir, você fica sabendo um pouco mais a respeito de Son — e por que ele deve ser mais levado em conta, mesmo se mantendo mais distante dos holofotes.
Ambicioso desde o berço
Son Jeong-ui, ou Masayoshi Son, nasceu em 11 de agosto de 1957 na pequena cidade japonesa de Tosu. Seus avós emigraram da Coreia do Sul e, por conta da etnia deles, a família enfrentou preconceito e dificuldades financeiras, tanto que o jovem usou o sobrenome japonês Yasumoto por um tempo. O pai tinha negócios no setor de pachinkos, uma espécie legalizada de caça-nível popular no país, e tinha certeza de que o herdeiro era um gênio.
Mas o que mudou de fato a vida do jovem foi o McDonald’s. Ele não era fã da comida, mas sim do presidente e fundador da filial japonesa da rede de fast food, Den Fujita. Com 16 anos, ele tentou falar com o empresário, mas não conseguia passar da assistente e ainda terminou com uma conta salgada de telefone.
Fujita: uma inspiração para começar.
A solução mais barata? Viajou até Tóquio e bateu na porta da companhia. Foi atendido, ficou 15 minutos conversando com Fujita e ainda recebeu um conselho que mudaria a vida dele para sempre. Ao questionar o ídolo sobre em que deveria investir, ele recebeu uma resposta certeira: “Não olhe para as indústrias do passado. Olhe para as indústrias do futuro. É isso: a indústria de computadores”.
Do Japão para o mundo
No mesmo ano, Son foi para a Califórnia estudar Economia, conhecer os primórdios da computação e aprender inglês. Frequentou instituições de renome, como a Serramonte High School e a Universidade de Berkeley, mas alguns colegas diziam que ele passava menos tempo em sala de aula e mais procurando formas de empreender.
Por conta dos contatos do pai, importou fliperamas de Space Invaders para os Estados Unidos e começou a acumular capital. Mas o trunfo veio mesmo em parceria com um professor de Física da universidade, Forrest Mozer.
Son (esquerda) com "Rocket" Sasaki, presidente da Sharp: de comprador a funcionário.
Juntos, eles patentearam uma espécie de dicionário eletrônico de bolso que servia como um tradutor e foi vendido para a Sharp pelo equivalente atual ao primeiro dos muitos milhões de dólares que Son faria daqui em diante.
Ele ainda criou uma desenvolvedora com um sócio chamada Unison, que viria a ser um braço de eletrônicos da Kyocera décadas depois.
Em 1980, o empresário concluiu os estudos e voltou ao Japão já com um plano de carreira para as próximas décadas: ser reconhecido aos 20 anos, construir uma reserva de capital aos 30, topar um grande desafio aos 40, completar os negócios aos 50 e entregá-los para a próxima geração quando chegar aos 60.
O próprio negócio
A distribuidora de informática SoftBank foi fundada em Tóquio em 1981 e era focada apenas em software, sobrevivendo sem grande alarde e ainda muito longe da ambição de Son. Foi só uma década depois que ele começou a ficar famoso por sua maior qualidade: o poder de negociação.
Em 94, ele foi um dos responsáveis pela entrada da fabricante Cisco no difícil mercado japonês de roteadores, convencendo investidores a apostarem na filial japonesa da marca (e levando uma porcentagem disso, claro). Um ano depois, contrariou análises e comprou uma parte do Yahoo! para estabelecer a marca no Japão, além de adquirir a editora Ziff-Davis, responsável pela tradicional revista PC Week.
Seu investimento mais arriscado viria em 1999 para uma futura gigante da China, um país que ainda não era o monstro tecnológico da atualidade.
Trata-se da Alibaba, dona do grupo Aliexpress e líder de muitos outros mercados na China. Son conheceu o CEO da empresa, Jack Ma, e identificou nele o mesmo entusiasmo que tinha no início da carreira, e afirma ter fechado o investimento inicial de US$ 20 milhões especialmente por conta disso.
Ma e Son: uma dupla de ouro.
Levaria algum tempo para essa jogada se mostrar vantajosa, mas a paciência definitivamente compensou.
Chutando as pedras no caminho
No começo dos anos 2000, Son alega ter sido tão ou mais rico quanto Bill Gates por conta dos investimentos milionários em empresas de internet. O problema é que já conhecemos o final dessa história: a bolha da internet estourou em maio daquele ano, com o empresário perdendo US$ 70 milhões no período em sites e serviços que desvalorizaram e fecharam em questão de dias.
Longe de desistir apesar do baque, ele começou a mirar o setor de telefonia e provedores de internet. Entrou no ramo para competir com a tradicional NTT DoCoMo no Japão e, primeiro sob o nome de Yahoo! BB e depois já como SoftBank, virou a terceira maior do setor — são 39 milhões de assinantes atualmente.
Son no comando do Yahoo! Japão: bem diferente do braço americano.
A expansão na indústria aumentou em 2006, quando ele adquiriu a filial japonesa do grupo Vodafone por US$ 15,1 bilhões, e em 2012, quando comprou 70% da operadora norte-americana Sprint.
Uma pressão por certezas
Segundo a Bloomberg, que publicou um extenso perfil do empresário, o modelo de negociação de Son é bastante objetivo e peculiar. A equipe do empresário pesquisa bastante sobre as possíveis oportunidades de negócio e repassa as informações para o chefe, que não toma qualquer decisão antes de uma reunião cara a cara, em Tóquio.
A conversa dura um dia inteiro e inclui refeições preparadas pelo chef pessoal de Son, sendo que quase todo o papo é sobre o negócio a ser investido.
Se o negócio for fechado, o novo parceiro ganha um grande poder — uma bolada de dólares de um fundo renomado — e muitas responsabilidades. Son é conhecido por pedir prazos cada vez menores para lançamento de produtos e pesquisas com tecnologias, nem que para isso seja necessário desembolsar um pouco mais.
Trump é um aliado de Son e não dificulta a entrada do capital do empresário nos EUA.
E se as ofertas iniciais forem recusadas? Como mostrou recentemente, o dono do SoftBank não tem medo de intimidar até empresas consideradas poderosas. Quando a chinesa Didi, rival local do Uber, recusou uma proposta inicial de investimento porque já teria verba suficiente de outros parceiros, Son disse que tudo bem, mas avisou que levaria a verba para uma rival.
Negócio fechado: US$ 5 bilhões na startup de transporte. Mais recentemente, a Uber recebeu US$ 9 bilhões de Son após quase perder a oportunidade para a concorrente Lyft. É o “pegar ou largar” levado ao extremo.
Outros negócios de Son
A SoftBank hoje é respeitada em vários segmentos e é difícil listar todos. Essas são só mais algumas das aquisições e conquistas recentes do grupo:
- Em uma reunião com Steve Jobs em 2005, Son levou o rascunho de um iPod com capacidades de celular para o CEO da Maçã e recebeu a resposta de que a Apple já trabalhava naquilo. O resultado? Dois anos anos, a SoftBank levou o iPhone ao Japão com direitos exclusivos de distribuição, virando um dos principais modelos do mercado.
- Em 2016, ele adquiriu a multinacional de semicondutores ARM por US$ 31,4 bilhões.
- A SoftBank é uma das investidoras do mensageiro corporativo Slack.
- Depois da tragédia de Fukushima, em 2011, a SoftBank passou a investir em energia solar e a criticar o uso de energia nuclear no país.
- Um dos atuais setores de destaque do fundo é o de robótica. Várias startups que receberam verba de pesquisa e até alguns produtos foram apresentados, como a assistente Pepper. A principa subsidiária é a Boston Dynamics, ex-Google e com grandes avanços no setor.
Esse exército agora está nas mãos de Son.
O colosso japonês
O Vision Fund, que é o fundo de investimentos da SoftBank só voltado para tecnologia, tem atualmente como investidores nações como Arábia Saudita e Emirador Árabes Unidos, além de uma porcentagem de Apple, Qualcomm e Sharp. O fundo é de mais de US$ 93 bilhões prontos para financiarem pequenas empresas.
Já o patrimônio da SoftBank inteira hoje é estimado em US$ 138 bilhões, tornando a empresa um dos fundos mais lucrativos de todos os tempos e o maior da atualidade. Só em 2017, a SoftBank gastou mais de US$ 35 bilhões em investimentos dos mais diferentes tamanhos. A média de negócios fechados foi tão alta que, segundo a Bloomberg, foi um aperto de mãos a cada quatro dias.
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