O mercado financeiro começou a semana em polvorosa com a possibilidade da compra da Qualcomm pela rival Broadcom — no que, caso concretizado, promete ser a maior transação entre duas companhias no setor da tecnologia. Mas quem é a Broadcom e por que ela tem tanto interesse na Qualcomm? Por que ela está fazendo a oferta de US$ 103 bilhões justamente agora? E o que isso significa para o futuro desse mercado? Confira conosco essas respostas.
Broadcom Limited tem raízes na Hewlett-Packard
A Broadcom Limited não é muito visível para o consumidor final porque passou por mudanças administrativas desde sua criação e seus serviços e produtos costumam estar atrelados aos componentes internos de ambientes corporativos, nas áreas de infraestruturas cabeadas e comunicações sem fio, no armazenamento empresarial e industrial de dados, entre outros.
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A Broadcom Limited é resultado da venda da Broadcom Corporation para a Avago Technologies, em 2015
Para entender seu tamanho é preciso antes observar um grupo fundado em 1961, como uma divisão da Hewllet-Packard para os itens relacionados a semicondutores. Em 1999, tornou-se parte da Aglient Technologies, outra derivada da HP. Já em 2005, foi adquirida por US$ 2,6 bilhões pelo fundo de investimentos Kohlberg Kravis Roberts e a firma de capital Silver Lake Partners. A partir daí, ficou conhecida como Avago Technologies.
Agora, voltemos um pouco a 1991, quando nasceu a Broadcom Corporation, criada por um professor e um estudante da Universidade da Califórnia em Los Angeles (a UCLA), Henry Samueli e Henry Nicholas. Quatro anos depois, ela já se destacava no crescente mercado de semicondutores e em 1998 se tornou uma empresa pública, com mais de 11 mil empregados em 15 países.
Entre 2005 e 2015, a Avago Technologies comprou e vendeu pequenas empresas, negociou patentes e encontrou na Broadcom Corporation a parceria que viria a torná-la uma empresa ainda maior. A Avago comprou a Broadcom por US$ 37 bilhões e ambas se tornaram a Broadcom Limited, com investimentos nas áreas mobile, de centros de dados e Internet das Coisas.
Amplo portfólio desenvolveu a Broadcom
Depois de se tornar Broadcom Limited, a companhia passou a atuar em diversos setores, com a fabricação de peças-chave para vários sistemas. Seus componentes estão em smartphones da Apple e da HTC, por exemplo. Os controles do Wii U, da Nintendo, também saíram da empresa, assim como a recente tecnologia de um chip de GPS que permite aos dispositivos identificar a localização com precisão de 30 centímetros.
Controle do Wii U conta com chips produzidos pela Broadcom Limited
Além disso, tudo, ela atualmente vende chips e componentes para máquinas desktop, laptops, data centers, set-up boxes, monitores, LEDs, adaptadores e redes Bluetooth. Isso tudo a torna concorrente direta da Qualcomm, mas sua posição, segundo levantamento da firma de consultoria Gartner, é um pouco abaixo da rival, na quinta posição entre os vendedores de semicondutores em todo o mundo.
Qualcomm, a rival que a Broadcom deseja
Bem, a Qualcomm muita gente já conhece devido aos chipsets Snapdragon, amplamente difundidos com a expansão dos celulares com sistema operacional Android. De acordo com o periódico Fortune, a companhia tem receita anual de US$ 22 bilhões, diante dos US$ 18 bilhões da Broadcom Limited. Em 2016, a já citada pesquisa da Gartner posicionou a Qualcomm na terceira colocação entre os maiores vendedores de semicondutores, atrás apenas da Intel e da Samsung.
A Qualcomm sofreu duas duras derrotas para a Apple nos tribunais em setembro deste ano
Mas a Qualcomm não passa por um bom momento. Primeiramente devido ao desgaste financeiro e da própria marca em batalhas judiciais contra a Apple. A Qualcomm sofreu duas derrotas recentemente e com isso viu boa parte de seu caixa esvaziar para pagar reembolsos para a Maçã, assim como custas judiciais — os valores não foram divulgados, mas pode apostar que isso tudo não saiu barato. O resultado foram demissões e a queda das ações na Bolsa de Valores.
Somado a isso, ela também amargou outro duro revés em Taiwan, onde foi condenada por violar a lei antitruste. Detentora de direitos importantes em CDMA, WCDMA e LTE, ela foi acusada pelas autoridades locais de monopolizar o mercado de modens para smartphones nos últimos sete anos, recusando-se a licenciar suas tecnologias e patentes a potenciais clientes — que, por sua vez, não teriam aceitado termos abusivos propostos pela empresa. A multa foi de nada menos que US$ 773 milhões. O que nos leva para a oferta de hoje (06).
Fusão pode gerar maior transação da história da tecnologia
De olho na fragilidade da concorrente, a Broadcom decidiu então aproveitar o momento para se tornar ainda maior: realizou oficialmente uma oferta para a compra da Qualcomm, por US$ 70 em cada cota das ações, totalizando a “bagatela” de US$ 103 bilhões. A Qualcomm, claro, não quer aceitar, mas pode não resistir à pressão da rival — que tem proximidade com a Apple e pode mediar acordos para diminuir os pagamentos de reembolsos de royalties, por exemplo.
Valores da transação da Broadcom com a Qualcomm é comparável às fusões e compras em grandes conglomerados de comunicação
A possível fusão tornaria a compra a maior do setor direto de tecnologia, comparável somente às enormes aquisições de conglomerados de comunicação, como no caso da Time-Warner e da AOL (US$ 162 bilhões) em 2000, e muito superior aos recentes casos em searas mais próximas, a exemplo da compra da DirecTV pela AT&T (US$ 48 bilhões) e do WhatsApp pelo Facebook (US$ 19 bilhões) em 2014.
E o que isso significa para o futuro?
Bem, independente da decisão, o processo todo deve ser avaliado pelas agências reguladoras — que vão avaliar a possibilidade de monopólio. Afinal, a Broadcom Limited possui grande especialidade em chips mobile e quer aumentar ainda mais a expertisse no setor de telecomunicações e semicondutores sem fio integrados a redes móveis LTE e 5G.
Podemos estar acompanhado neste momento a fusão da companhia que pode liderar a ascensão da Internet das Coisas
Para isso, a Broadcom até mesmo já anunciou a mudança de ares do quartel general de Singapura para os Estados Unidos, de olho na reforma das taxas cobradas pelo governo Trump. Caso a fusão realmente aconteça poderemos presenciar o nascimento de uma grande líder no mercado da Internet das Coisas, que promete ser uma das grandes tendências para os próximos anos.
Por isso, todo o cenário que envolve os chips dessas fabricantes está agitado. O resultado dessa negociação vai afetar profundamente o mercado e as relações de gigantes como Apple, Samsung, Facebook, Microsoft, Intel, entre outras grandes marcas. E por isso, também aguardamos com grande expectativa o desenrolar dos próximos capítulos.
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