Durante a cobertura de um evento em 2015, entrevistei pelo TecMundo a startup Goleiro de Aluguel, iniciada em Curitiba pelo empresário Samuel Toaldo. Dois anos depois, voltamos a nos encontrar no evento Geek City, realizado de 1º a 3 de setembro na capital paranaense – e muita coisa mudou para melhor.
Se antes Samuel tinha apenas um site e muita fé no projeto, agora a companhia possui aplicativo, investimentos de grandes nomes do setor e até um projeto filantrópico do outro lado do mundo.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Exemplo de persistência e de sucesso no setor mobile, a história do Goleiro de Aluguel é prova de que é possível ser escalado para brilhar nesse mercado.
Pontapé inicial
Samuel sempre foi goleiro nas horas vagas e recebia muitos convites de amigos para atuar, já que a posição é a mais carente na hora das “peladas” casuais. Desse hobby, veio a ideia de criar uma startup que é um cadastro nacional de pessoas dispostas a atuar debaixo das traves por diversão e até como complemento de renda.
Na Goleiro de Aluguel, para chamar um atleta, basta criar uma conta e fazer a solicitação por R$ 30 a hora — valor considerado baixo no setor se dividido por todos os jogadores em campo.
O funcionamento do app na hora de chamar um goleiro.
Em 2015, eram realizadas cerca de 20 partidas ao mês com os goleiros contratados via empresa. Em agosto de 2017, são 1,3 mil jogos ao mês usando o aplicativo, que acaba de completar um ano de vida. A comunidade já acumula mais de 14 mil goleiros cadastrados e 22 mil usuários dispostos a utilizar esses serviços.
Novos rumos
Além do crescimento como aplicativo, o Goleiro de Aluguel iniciou um projeto social em Mali, na África. E o início da escolinha mantida com a ajuda da startup foi bem inusitado.
“Vi crianças africanas sendo treinadas por um jovem e um goleiro que usava pedaços de madeira, tijolos e bolas remendadas lá no Facebook. Comentei nesse vídeo que admirava o trabalho dele pela criatividade e falta de recursos, e esse rapaz entrou em contato comigo”, explica Samuel.
No início, Vadjiguiba Diaby achou que Samuel era um goleiro profissional no país do futebol e os dois começaram a conversar. Com o tempo, eles viraram amigos e o brasileiro conheceu a situação precária e os sonhos do professor. “Aí eu aluguei um terreno pra não precisarem usar a rua, forneci material esportivo e agora fornecemos treinos gratuitos e alimentação”, conta.
A ideia da “escolinha” não é formar nenhum jogador profissional ou servir de plataforma para alguma promessa atingir o estrelato, mas sim educar e tirar as crianças da rua.
Além de goleiros habituais que gostam de jogar por hobbie, a Goleiro de Aluguel atingiu até profissionais do esporte. No interior de Minas Gerais, um atleta que atuava por um time pequeno recorreu ao aplicativo para atuar como goleiro durante o período em que o clube estava sem jogos por disputar. “No fim, ele estava até pagando algumas contas e necessidades dele. E, no ano seguinte, ele voltou para o clube, se tornou titular e está jogando até agora”, comemora o idealizador do app.
De cara com tubarões
Agora já com o mais recente sócio, Eugen Braun, e uma equipe para ajudar no desenvolvimento que inclui até estagiário, Samuel encarou um desafio ainda maior: participou do programa Shark Tank Brasil, exibido pelo canal por assinatura Sony, em que startups tentam convencer grandes empresários do país a se tornarem investidores.
O Goleiro de Aluguel conseguiu um investimento de dois dos participantes: João Appolinário, dono da rede Polishop, e Carlos Wizard, fundador da escola de inglês Wizard e atualmente com investimentos na área do esporte. A startup foi a primeira do Brasil a receber o investimento e a assinar o contrato.
Os sócios do Goleiro de Aluguel lançando o pitch para os "tubarões".
“Depois do programa, tem outro processo seletivo. Eles vão estudar o mercado, analisar a viabilidade do negócio com os sócios para depois ter o investimento. Isso demora de três a cinco meses. E eles realmente ajudam a empresa a crescer tanto em mentoria quanto abrindo portas e parte financeira”, explica Samuel.
O que vem por aí?
A intenção do Goleiro de Aluguel agora é ganhar ainda mais mercado e chegar a um milhão de partidas por mês em todo o país. O número parece – e é – bastante ambicioso, mas a meta tem como prazo ser atingida até 2019, quando o aplicativo será expandido para outros países. Já foram realizadas ofertas para atuar em Argentina, México e Chile.
Quando atingir dois mil jogos por mês, a empresa pretende lançar um projeto social no Brasil, com a ajuda de uma fornecedora de material esportivo que já é parceira há alguns meses.
Além disso, o aplicativo deve ganhar um novo algoritmo que permite a criação de um programa de pontos para quem aluga goleiros com frequência. Esses pontos podem ser trocados por materiais esportivos ou até em descontos nas próximas convocações. Antes, apenas o goleiro mais bem colocado do mês recebia alguma recompensa até pouco tempo. Agora, os oito mais bem avaliados (em um esquema parecido com o do Uber para motoristas) também podem levar prêmios.