Um grupo de cientistas chineses descobriu uma forma de obter imagens das estruturas vasculares no interior de um coração em pleno funcionamento com um nível de detalhes sem precedentes. O segredo dos pesquisadores é injetar no paciente uma dose do metal líquido gálio, que é relativamente inerte e produz imagens de raios-x muito mais claras do que o agente de contraste padrão de iodo.
Por enquanto, a equipe só experimentou a técnica nos corações de porcos, mas eles acreditam que os órgãos humanos não reagirão de forma muito diferente. Segundo os estudiosos, o gálio é uma substância relativamente inerte e, como ele permanece em um estado líquido bastante denso mesmo acima dos 29ºC, pode ser sugado de volta após o uso.
Graças à sua densidade elevada, o gálio pode absorver os raios-x de maneira mais eficiente do que a suspensão de iodo, que é muito mais diluída. Mesmo considerando que o agente de contraste padrão tem uma elevada densidade de elétrons, ele certamente não é páreo para um metal líquido. Ainda assim, as possíveis complicações causadas pela novidade em pessoas suscetíveis são uma fonte de preocupação para os cientistas.
Interagindo com o corpo
Encontrar pacientes incompatíveis com a nova solução não seria nenhuma grande surpresa, já que até mesmo o iodo já apresentou casos de rejeição, assim como os agentes de contraste de bário usados em ressonâncias magnéticas. No entanto, o gálio não é nenhuma novidade no mundo medicinal, o que dá alguma base para que os pesquisadores acreditam nos benefícios do seu uso.
Antes da chegada das máquinas de tomografia por emissão de pósitrons, o gálio 67 radioativo era o padrão de avaliação dos estágios de progressão de tumores. Nesse caso, porém, os nódulos não eram observados com raios-x, mas sim por meio da tecnologia de tomografia computadorizada por emissão de fótons únicos (SPECT, na sigla em inglês).
O corpo humano costuma tratar o gálio da mesma forma que o ferro, de forma que mesmo que todo o metal injetado não seja removido imediatamente após o exame, os restos seriam usados na formação de proteínas que normalmente utilizam o ferro. A nova técnica poderia ser usada para medir a dimensão ou o nível de obstrução das nossas principais artérias, mostrando “gargalos” que pudessem causar risco de infartos, derrames ou rompimentos.
Novas possibilidades
Além das possibilidades de utilização para exames com base em imagens, ainda há outros usos possíveis para a tecnologia dos chineses. Como os pesquisadores demonstraram que o gálio pode penetrar em vias com menos de 0,07 milímetros de largura, moldes internos intrincados de órgãos poderiam ser feitos por meio do congelamento do metal.
Por fim, outra possibilidade, mais macabra, seria o uso do congelamento para preservação de órgãos e cadáveres. No entanto, esse uso parece menos necessário, já que não eliminaria a necessidade de resfriamento – sem falar que é muito mais macabro.
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