Na última semana, o iPhone completou dez anos de existência. Para celebrar a data, a revista Wired publicou um editorial sobre como o lançamento do telefone móvel da Apple é o catalisador de um fenômeno que poderá afetar as próximas gerações, mais precisamente alterando a visão dos seres humanos que vão nascer daqui em diante.
Na segunda parte do especial, a publicação conversou com o oftalmologista britânico Andrew Bastawrous, especialista em saúde dos olhos e um dos criadores da PEEK vision, uma ferramenta capaz de diagnosticar problemas oculares através do celular. Embora reconheça que esses dispositivos eletrônicos facilitaram bastante o nosso dia a dia, o médico acredita que, por conta da tecnologia presente nos smartphones, o mundo enfrenta uma epidemia de miopia.
Como assim?
Segundo Bastawrous, mais pessoas estão se tornando míopes hoje do que uma década atrás, e parte desse cenário acontece por causa dos celulares inteligentes. A situação é tão alarmante que, para o especialista, não será nenhuma surpresa se os humanos que nascerem nos próximos anos tiverem o formato dos olhos diferente do das pessoas atuais.
"A implicação disso (epidemia de miopia) não é apenas que há mais pessoas precisando de óculos, mas que sua condição seja patológica. Sua miopia se deve ao crescimento do globo ocular, particularmente em populações de descendência asiática, a uma taxa que está causando outras disfunções visuais mais graves por causa do descolamento da retina do glaucoma", aponta.
Bastawrous explica que o crescimento do olho tende diminuir sua velocidade na adolescência, até finalmente parar ao atingir a fase adulta. Só que essa desaceleração não está acontecendo em gerações mais novas, e alguns países já sofrem desse efeito mais frequentemente do que outros locais. É o caso de nações asiáticas como Singapura, onde mais de 90% das crianças deixam a escola míopes.
E quais são causas?
Segundo Bastawrous, há duas possíveis teorias que explicam essa epidemia de problemas na visão. A primeira é que as pessoas estão passando mais tempo em frente às telas de seus smartphones, o que, involuntariamente, encoraja o olho a ficar míope para atender às necessidades de cada ambiente — por exemplo, o olho tenta se adaptar a diferentes níveis de luz para tornar a visualização nos displays mais confortável e menos cansativa.
O oftalmologista diz que há evidências que justificam essa afirmação, uma vez que o fenômeno está acontecendo com muito mais rapidez do que se fosse algo causado por algum evento ambiental ou por fatores genéticos.
A segunda teoria, que não está diretamente ligada aos aparelhos eletrônicos, é que as crianças passam mais tempo em locais fechados do que em ambientes abertos. Por não receberem a mesma exposição aos raios ultravioleta ao longo do dia, as chances de as crianças ficarem míopes são maiores, uma vez que estão a maior parte do dia dentro de salas fechadas. Isso explicaria a Ásia como o continente mais afetado, já que as escolas por lá exigem um grande esforço dos alunos por bons resultados.
Na opinião de Bastawrous, o ser humano tem um sistema visual extremamente complexo que agora tenta dividir a atenção entre o mundo real e as telas dos celulares. Para o especialista, isso, a longo prazo, terá um efeito na forma como interagimos com o nosso redor.
"Estamos gastando menos tempo olhando outras pessoas nos olhos. Estamos com menos empatia na forma como tratamos as pessoas. E acho que a quantidade de tempo que damos às nossas telas é parte desse problema. Gostaria de ver empatia e compaixão incorporadas em nossa tecnologia moderna, mas para ampliá-la ao invés de reduzi-la. O iPhone e os smartphones no geral podem amplificar o comportamento humano, seja positivo ou negativo", conclui.