Com o Linux – em suas diversas distribuições – cada vez mais próximo do usuário comum, várias ferramentas oriundas da cultura do código livre ganham popularidade. Desde programas clássicos como o OpenOffice até aplicativos gráficos como o Blender e o próprio GIMP, já é comum encontrar profissionais utilizando software open source exclusivamente em seus computadores.
Porém mesmo esses aplicativos têm seus defeitos. Alguns problemas de interface, compatibilidade e até mesmo funcionalidades encontradas em programas proprietários ainda não foram replicadas com sucesso nas ferramentas de código aberto.
Pode-se entender isso graças ao fato de que a comunidade open source não dispõe dos mesmos recursos que as empresas. Assim, o GIMP ainda não ser um substituto completo ao Adobe Photoshop é perfeitamente justificável.
Uma das grandes diferenças dos usuários do Photoshop em relação ao editor de imagens nascido no Linux é a interface. Seja em Windows, Linux ou Mac OS X, o GIMP sempre causou estranheza pela quantidade de janelas, barras e artefatos flutuantes que o programa gera.
Até a versão estável atual – de número 2.6 – o GIMP não dispõe de uma interface unificada. Com isso, cada imagem aberta tem sua própria janela, e o mesmo acontece com as barras de ferramentas e os painéis de propriedades. Confuso e um pouco irritante, o visual do GIMP é provavelmente um dos maiores empecilhos para sua popularização.
Apesar de ainda não estar pronto nem mesmo para testes, o Baixaki conferiu o novo formato do GIMP compilando o aplicativo direto do seu código fonte. Se você também quiser tentar, ao final deste artigo um pequeno tutorial explica como instalar o GIMP 2.7 em sua máquina Linux. É possível compilar o aplicativo em Windows e Mac, mas além do código fonte você precisará de um compilador específico para seu sistema.
Mudanças cosméticas
A versão 2.7 – apenas pré-lançada – vai mudar esse problema. Sem trazer grandes novidades em termos de funções e capacidades, o grande diferencial desse novo GIMP é a interface unificada.
Chega de milhares de janelas abertas ao mesmo tempo e da confusão decorrente de um Alt+Tab para alternar entre elas. Com uma “cara” mais próxima do Photoshop, com ferramentas à esquerda e painéis utilitários à direita, o GIMP 2.7 dá um passo importante para aumentar sua aceitação pelo usuário médio.
Para habilitar o novo visual do GIMP, basta acionar o comando Single-window mode, no menu Windows. Imediatamente as janelas que estavam abertas se transformam na interface de janela única.
Como a versão 2.7 é para desenvolvimento e ainda muito recente, pequenos bugs são comuns. Alguns comandos têm seus botões “encavalados” um sobre o outro e as abas com as imagens se escondem por baixo do painel das camadas, por exemplo. Outro problema encontrado foi a não persistência do Single-window mode entre inicializações do aplicativo.
Nada de novo?
Exceto a visualização mais familiar e confortável para usuários do Photoshop, a versão 2.7 testada pelo Baixaki não apresentou grandes alterações. Ferramentas, filtros e opções todas nos mesmos lugares – respeitando a nova disposição dos painéis. Como a versão ainda está em desenvolvimento, é possível que até seu lançamento real novidades apareçam também em funcionalidades.
Compilando o GIMP
Para quem quiser testar o GIMP é necessário compilar - como já foi dito anteriormente - o programa a partir de seu código-fonte. O processo é um pouco demorado devido ao tamanho dos arquivos necessários para a instalação do software, porém não é traumatizante.
O passo a passo a seguir representa as instruções necessárias ao Linux usando a distribuição Ubuntu 9.10 para obter todos os arquivos e dependências necessárias direto do terminal. Outras distribuições podem exigir passos diferentes destes, principalmente acerca de dependências e requerimentos.
Como citado anteriormente, fazer a compilação do GIMP - ou de qualquer outro aplicativo open source - depende também de outros aplicativos.
A primeira etapa é abrir uma janela do terminal, criar um diretório temporário para receber os arquivos do código-fonte do GIMP 2.7 e acessar este diretório:
cd ~
mkdir -p tmp
cd tmp
Três variáveis obrigatórias devem ser definidas antes de se iniciar o download do código a ser compilado:
export PATH=$PATH:/opt/gimp-2.7/bin
export PKG_CONFIG_PATH=/opt/gimp-2.7/lib/pkgconfig
export LD_LIBRARY_PATH=/opt/gimp-2.7/lib
Caso você feche a janela do terminal a qualquer momento, deverá definir essas três variáveis novamente. Depois de expressar as variáveis, você deve baixar os pacotes de código necessários, em duas etapas:
Pacote principal
sudo apt-get build-dep gimp
Pacotes adicionais
sudo aptitude install checkinstall git-core libtool
libopenexr-dev libopenraw-dev libspiro-dev
Com os pacotes já na sua máquina, você deve então baixar e instalar o BABL, a biblioteca responsável pelas transformações pixel a pixel realizadas pelo GIMP:
git clone --depth 1 git://git.gnome.org/babl
cd babl
./autogen.sh --prefix=/opt/gimp-2.7
make -j3
sudo make install -j3
cd ..
Além do BABL, a biblioteca gráfica GEGL também é necessária:
git clone --depth 1 git://git.gnome.org/gegl
cd gegl
./autogen.sh --prefix=/opt/gimp-2.7 --disable-gtk-doc
make -j3
sudo make install -j3
cd ..
Depois de instaladas as bibliotecas é possível compilar e instalar o GIMP propriamente dito, na etapa mais demorada do processo:
git clone --depth 1 git://git.gnome.org/gimp
cd gimp
./autogen.sh --prefix=/opt/gimp-2.7 --disable-gtk-doc
make -j3
sudo make install -j3
cd ..
Depois disso você já pode testar a nova versão do GIMP, através do comando:
/opt/gimp-2.7/bin/gimp-2.7
Até quando esperar?
O lançamento da versão estável – numerada 2.8, seguindo o padrão do GIMP de manter números ímpares em versões de desenvolvimento e valores pares para lançamentos completos – deve ocorrer em dezembro de 2010, segundo o planejamento ainda não completo dos desenvolvedores.
Ainda falta bastante para o GIMP assumir uma posição de destaque no mercado dominado pelo Photoshop, porém a cada novo lançamento do aplicativo ele ganha mais força.
Com os desenvolvedores atendendo à demanda de seus usuários e melhorando não só as capacidades do editor de imagens, mas também experiência e usabilidade do programa, em breve chegará o dia em que será possível trabalhar com imagens de qualidade em um ambiente completamente open source.