O futebol como se conhece hoje surgiu na Inglaterra, na metade do século XIX, e ganhou o mundo desde então. Com uma história que remonta a esportes ludopédicos (ou seja, jogados com os pés) praticados em países orientais há milhares de anos, entre os séculos III e II a. C., este esporte bretão conquistou fãs também nos jogos eletrônicos.
O futebol nos consoles hoje é dominado por uma dinastia, com as séries FIFA e Pro Evolution Soccer reinando soberanas e praticamente minimizando as chances de qualquer outra rival de peso. Mas essa é uma história antiga e já são 40 anos desde a primeira representação de futebol nos jogos eletrônicos.
Desde então, os games vêm acompanhando a evolução técnica do desenvolvimento e hoje oferecem uma experiência bem próxima da realidade. Mas nem sempre foi assim e por muito tempo os jogos de futebol eram apenas um arremedo daquilo que se vê atualmente.
E rola a bola...
O site Universal Videogame List (UVL), especializado em listar jogos eletrônicos, diz que o primeiro game de futebol foi lançado em 1972. “Soccer”, para Odyssey, não tem imagens do jogo disponíveis na web e é o primeiro de uma lista com o incrível número de 1053 títulos para diversas plataformas — sem dúvida, o esporte mais popular do mundo também nos video games.
Mas os anos 70 foram pobres para o ludopédio nos jogos eletrônicos: o segundo game foi lançado apenas em 1979, para Odyssey². Desenvolvido pela Magnavox, o jogo foi chamado de “Hockey!/Soccer!” e era um combo que trazia futebol e hóquei na mesma fita. Outro título, também de 1979, foi “NASL Soccer”, publicado pela Mattel para o console Intellivision.
(Fonte da imagem: Divulgação)
Se a década de 1970 foi fraca, a partir dos anos 80 o futebol se tornou um tema recorrente nos jogos eletrônicos, com dezenas de títulos lançados todos os anos. Os consoles Atari foram o grande palco onde desembarcaram os jogos durante a década de 1980, com destaque também para plataformas como C64 e jogos de arcade.
Craques na capa
Se hoje as principais franquias de futebol se apoiam no sucesso de estrelas da bola para consolidar ainda mais o seu sucesso. (Cristiano Ronaldo e Neymar na capa de “Pro Evolution Soccer” e Lionel Messi na de “FIFA”), diversos jogos trouxeram o nome de craques da época em seus títulos.
A primeira ação do gênero ocorreu em 1982, com ninguém menos do que o rei Pelé. Nesse ano, Edison Arantes do Nascimento foi a grande estrela de “Pele’Soccer”, game desenvolvido pela Atari para o Atari 2600. Mas o Rei só aparecia mesmo na capa, afinal, dentro de jogo os jogadores eram todos iguais e não passavam de bonequinhos retangulares e monocromáticos.
Pelé deu o pontapé inicial, mas não foi o único a assinar um game. O astro inglês Glen Hoddle (“Glen Hoodle Soccer”, 1985, para Amstrad CPC) e o craque alemão Lothar Matthäus (“European Champion”, em 1993, e depois “Manchester United: The Double”, em 1994, ambos para Amiga e DOS) são dois exemplos de destaque. Outros nomes, como os britânicos Gary Lineker e Peter Beardsley e o espanhol Emilio Butragueño, também ganharam jogos com seus nomes.
(Fonte da imagem: Divulgação)
Além de Pelé, outros dois craques brasileiros também emprestaram seus nomes: Zico e Ronaldo. O Galinho de Quintino, como Zico também ficou conhecido, teve dois games: “Zico Soccer”, lançado pela Electronic Arts para Super Nintendo em 1994, e “Isto é Zico” lançado pela Mizuki em 1996, para Sega Saturn.
Já o Fenômeno teve participação em um game que, se não entrou para a história como um dos grandes títulos de futebol, trouxe uma das primeiras narrações oficiais em português: “Ronaldo V-Football”, publicado pela Infogrames em 2000 para PlayStation e Gameboy. No título, o hoje comentarista esportivo Osmar de Oliveira narrava as partidas em nosso idioma.
Konami vs. Electronic Arts
A abundância de jogos de futebol ao longo das décadas de 1980, 1990 e 2000 trouxe inúmeras iniciativas que ficaram pelo caminho. Títulos interessantes, seja no aspecto técnico, seja no aspecto de diversão, como This Is Football, Super Sidekicks, Actua Soccer ou Virtua Striker, não vingaram e acabaram por perecer diante da hegemonia de uma dupla.
Duas empresas dominam o mercado de jogos de futebol atualmente: a japonesa Konami e a estadunidense EA Sports (Electronic Arts). A primeira é dona da franquia Pro Evolution Soccer (também conhecida por seu nome no Japão, Winning Eleven), já a segunda é dona da franquia FIFA, licenciada oficial da Federação Internacional de Futebol.
A Konami foi a primeira a entrar em campo: “Konami’s Soccer” (vídeo acima), um game para dois jogadores lançado em 1985 para o computador MSX, da Microsoft. Antes ainda da EA fazer sua estreia no mundo do futebol eletrônico, em 1992 a rival japonesa lançava o “Konami Hyper Soccer” para Nintendinho.
No ano seguinte, é dado início ao maior clássico dos games de futebol: a Electronic Arts lança FIFA International Soccer (ou FIFA 94) para Mega Drive, Genesis, Amiga e DOS. O lançamento marca também o debute da mais duradoura franquia de jogos esportivos já vista, ininterrupta desde então e que já conta dezenas de títulos.
A série FIFA se consolida
A principal franquia de jogos da EA Sports é FIFA, conhecida como “FIFA Soccer” ou “FIFA Football”, e já conta com 19 títulos, sendo o último deles “FIFA 13”. Além disso, a EA Sports usa a marca licenciada da FIFA em outras três séries: FIFA Street (quatro títulos lançados entre 2005 e 2012), FIFA Manager (16 lançamentos entre 1997 e 2012) e FIFA World Cup (seis lançamentos entre 1997 e 2010).
A EA Sports conta também com o licenciamento oficial da confederação europeia de futebol, a UEFA, sendo responsável ainda pelo lançamento de quatro títulos da linha UEFA Euro (entre 2000 e 2012). O UEFA Euro 2012 não saiu em uma versão única, mas sim como uma expansão para FIFA 12.
Konami mantém o jogo equilibrado
Mas o fato da Konami não deter os direitos oficiais de licenciamento de clubes e confederações durante muito tempo não foi motivo para frear o sucesso de sua empreitada futebolística. O sexto título de futebol da companha dá início a uma das séries mais gloriosas do gênero de todos os tempos: “International Superstar Soccer”, lançado para Super Nintendo em 1994.
O game teve 14 continuações, sendo a última delas “International Superstar Soccer 3”, lançada em 2003 para as principais plataformas da época. Nesse meio tempo, a Konami investiu em outras franquias de futebol, sendo a principal delas a chamada Winning Eleven, que teve como título de estreia o “J.League Jikkyou Winning Eleven”, lançado em 1995 para PlayStation.
Desde 2001, porém, a Konami aposta em uma marca única ao redor do globo e todos os seus jogos de futebol têm o título de “Pro Evolution Soccer” (nota: o primeiro PES foi, na verdade, o “World Soccer Winning Eleven 5”, de 2001, para PS2. As marcas “Winning Eleven” e “Pro Evolution Soccer” surgiram a partir de outros títulos da Konami, como o game de 1995 e também o ISS Pro Evolution, de 1999.
A série “Pro Evolution Soccer”, herdeira direta de “International Superstar Soccer” e suas vertentes, já conta com 15 lançamentos.
Campeonato japonês: um capítulo à parte
O primeiro “Winning Eleven” era um jogo de futebol da J-League, a liga de futebol japonesa. Por incrível que pareça, a EA também se aventurou em terras orientais, lançando games apenas com clubes do país oriental, como “Zico Soccer”, aproveitando a idolatria que o Japão tem pelo Galinho, e J-League Live 64 (1997, para Nintendo 64), entre outros títulos.
(Fonte da imagem: Reprodução/Electronic Arts)
A Konami, é claro, também tem diversos títulos cujo protagonista é o campeonato japonês de futebol. O último lançamento do gênero foi “J.League Winning Eleven 2010 Club Championship”, lançado apenas para PlayStation 2. Para este ano, a companhia já garantiu a presença de clubes japoneses para o “Pro Evolution Soccer 2014”.
Outras companhias japonesas, como Tecmo, SEGA, Hudson e Namco, também já ofereceram títulos específicos do torneio japonês.
Brasil: hacks de sucesso
Se você jogava video game na década de 90, sem dúvidas pelo menos já ouviu falar de títulos como “Futebol Brasileiro”, “Campeonato Brasileiro” ou então “Ronaldinho Soccer”. Todos os games eram modificações do clássico “International Superstar Soccer” e traziam narração em português, além de times brasileiros e outras agremiações sul-americanas.
Já na era do PlayStation, os jogos da Konami também caíram nas graças da torcida por meio de hacks que davam um perfil brazuca ao game. Vários títulos da série “Pro Evolution Soccer/Winning Eleven” foram hackeados para ganhar menus em português e colocar os times daqui à disposição dos jogadores.
Managers: você é o treinador
Um estilo de jogo surgido de forma modesta no final dos anos 80 é hoje uma verdadeira febre mundial: os managers. Neste gênero, você deixa de comandar os atletas e vai para os bastidores do mundo da bola, atuando como presidente, diretor de futebol, olheiro e, é claro, treinador.
O primeiro título do gênero foi “Football Manager”, lançado em 1982 (não confundir com o publicadao pela Sega, na ativa desde 2005). Desenvolvido pela Addictive Games, ele colocava você como treinador de um time na quarta divisão do campeonato inglês e seu objetivo era conseguir a promoção para a divisão superior.
A mesma ideia foi utilizada pelo português André Elias para criar “Elifoot”, em 1987. A franquia, de enorme sucesso nos países lusófonos, já conta com 20 jogos, mas alcançou a consagração apenas com seu quarto lançamento, “Elifoot 98”.
Na esteira desses sucessos, outras franquias foram iniciadas no mercado, como “Championship Manager” (1992), “Total Club Manager/FIFA Manager” (2002), o brasileiro “Brasfoot” (2003) e ainda “Football Manager” (2005). O FM é publicado pela SEGA e desenvolvido pela Sports Interactive, que era responsável por “Championship Manager”, mas que perdeu os direitos sobre este nome após uma disputa judicial com sua antiga parceira, a Eidos Interactive.
Evolução de gerenciamento
Se nos managers mais simples você apenas contrata jogadores, escolhe esquema tático e faz substituições para tentar ganhar, nos mais avançados a sua vida pode se tornar um pouco mais complicada. Títulos recentes das franquias “Football Manager” e “FIFA Manager”, por exemplo, colocam você para comandar um clube em todos os detalhes.
(Fonte da imagem: Reprodução)
Definir plano de treinos, contratar preparador físico e olheiro, assinar contratos de patrocínio, resolver problemas de relacionamento com atletas, suportar a pressão da imprensa e da torcida e ficar de olho nas revelações das categorias de base são apenas algumas das funções oferecidas em ambos os games.
Há ainda a possibilidade de jogar a partida, desviando um pouco o propósito de gerenciamento do jogo. Além de comandar todos os bastidores, você também toma a vez dos jogadores e pode decidir as partidas a seu favor, usando os atletas do seu próprio elenco.
Futebol na palma da mão
Com a popularização dos tablets, smartphones e consoles portáteis, era de se esperar que os jogos de futebol conquistassem também esse tipo de mercado. Aos poucos, com a evolução técnica desses aparelhos, é cada vez mais comum encontrar games consagrados em outras plataformas indo pra lá, como é o caso de FIFA e PES.
As franquias da EA Sports e da Konami já ganharam versões para portáteis, e concorrem com jogos graúdos lançados exclusivamente em plataformas móveis, como a série “Real Football”. Os managers também não ficam de fora, seja com games exclusivos, como “Top Eleven”, ou com ports, como “Football Manager”.
A bola não para
No PC, nos consoles ou nos portáteis, a plataforma não importa. O fato é que o futebol não é o esporte mais popular do mundo por acaso, e, nessa condição, o certo é que sempre teremos a opção de nos divertir com a bola nos pés mesmo quando não tiver um bate-bola com os amigos.
O ludopédio eletrônico está aí há mais de quatro décadas e deve permanecer crescendo e se fortalecendo por muito mais tempo.
Via BaixakiJogos
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