Em 2001, a Apple era uma empresa bastante diferente da gigante que conhecemos atualmente. Envolta em um período de crise, a empresa havia acabado de recontratar seu cofundador Steve Jobs, que, após um período “sabático” na NeXT Computers, voltou com a dura missão de botar ordem em uma casa bastante bagunçada.
Entre as diversas decisões feitas por Jobs na época, nenhuma se provou mais certeira do que o iPod. Oferecendo uma capacidade máxima de 5 GB (e posteriormente 10 GB), o modelo inicial prometia a possibilidade de carregar mil músicas em seu bolso, algo que era considerado absurdo para a época.
Embora muitos tenham desacreditado a companhia em um momento inicial, ela não demorou a mostrar o verdadeiro potencial do reprodutor. Como todo produto de sucesso com a marca da Maçã, o iPod surgiu como a solução para um problema que muitos consumidores nem sabiam que existia.
Tapando buracos na indústria
No final dos anos 90, o mercado estava inundado de opções de MP3 players, mas nenhum deles era realmente bom. Sempre havia alguma espécie de problema, seja na interface, na quantidade de armazenamento oferecido ou no sistema de transferência de arquivos utilizados — isso sem contar que a maior parte dos gadgets eram verdadeiros “trambolhos” que não se mostram muito portáteis.
O primeiro iPod ainda não contava com a clássica click wheel
Nesse contexto entrou a genialidade de Jobs. Apostando em discos rígidos pequenos produzidos pela Toshiba, ele e seus engenheiros construíram um gadget que era ao mesmo tempo leve, compacto e capaz de armazenar uma quantidade de músicas considerada absurda para a época.
Apesar de o resultado final parecer “lógico” quando visto em retrospectiva, ele é fruto do trabalho de muitos profissionais talentosos. Além de Jobs, nomes como Tony Fadell, Michael Dhuey e Jon Rubinstein foram essenciais para encontrar a combinação perfeita entre hardware, formato e software adotada pelo aparelho.
Somente 600 mil unidades do iPod foram comercializadas em seu primeiro ano nas lojas
Para assegurar uma boa velocidade de transferência de arquivos, a Apple apostou em suas conexões FireWire, muito mais rápidas que o padrão USB 1.0 usado na época. Isso também permitiu que a empresa “puxasse a sardinha” para seu meio, visto que a primeira geração do iPod só funcionava com computadores Mac com o iTunes instalado.
Apesar de bem recebido, o produto demorou mais de 3 anos para conseguir se estabelecer como um recordista de vendas. Hoje a fabricante pode se orgulhar das milhões de unidades do iPhone que saem já em seu período de pré-vendas, mas somente 600 mil unidades do iPod foram comercializadas em seu primeiro ano nas lojas.
Elementos para o sucesso
Não foi um único fator que determinou o grande sucesso e influência obtidos pelo iPod. Além de a Apple evoluir rapidamente seu hardware — as mudanças aconteciam em intervalos menores do que um ano —, ela acertou em cheio ao garantir a compatibilidade com o Windows já na segunda geração do produto. A decisão pode não ter agradado Jobs, mas ele teve que “abrir mão” da exclusividade com o Mac para garantir que uma quantidade grande de pessoas pudesse ter acesso ao gadget.
Também ajudou muito a aposta bem-sucedida na loja de músicas do iTunes, que fez sua estreia em 2003. Em um momento no qual muitas gravadoras ainda estavam com medo do Napster e de outros programas que permitiam o download gratuito de músicas, a Apple ajudou a bolar algumas das regras que a indústria segue até hoje.
Uma das primeiras "caras" da loja do iTunes
Cada canção era vendida a US$ 0,99, sendo que a empresa da Maçã ficava com somente 30% do lucro de cada venda. Inicialmente desacreditada pelas gravadoras, essa ideia deu mundo certo e, em menos de um ano, 25 milhões de músicas já haviam sido vendidas — o que fez com que os nomes do mundo da música que ficaram de fora do lançamento corressem para incluir seus artistas no serviço.
A loja de música serviu como uma forma de alimentar as vendas do iPod, que era o único gadget da categoria capaz de tocá-las. Isso graças às restrições de DRM impostas na época, que só foram derrubadas em 2009 — época em que já não havia muitas empresas dispostas a investir no mercado de reprodutores de música dedicados.
Um gadget com várias caras
Com o passar dos anos, o iPod ganhou vários recursos que o tornaram mais completo e o permitiram alcançar diferentes tipos de público. A Apple investiu em diversos formatos de fábrica, incluindo os modelos Mini — substituídos em pouco tempo pelo Nano — e o Shuffle.
Além de apostar em novos métodos e capacidades de armazenamento (somente o modelo clássico continuou usando HDs durante toda a sua tragetória), a fabricante apostou na inclusão de displays coloridos capazes de reproduzir fotografias e vídeos. Mais recentemente, ela até adotou sistemas de câmeras fotográficas em alguns de seus modelos.
O modelo com hardware mais completo oferecido é o iPod Touch
O modelo com hardware mais completo oferecido por ela é o iPod Touch, que pode ser considerado uma espécie de “iPhone simplificado”. Introduzido oficialmente em 2007, o gadget permite navegar pela internet e baixar conteúdos da iTunes App Store, o que abre a seus usuários todo um universo de jogos e ferramentas de produtividade.
Algo que se manteve constante na linha é a inclusão de baterias com duração cada vez maior e maior confiabilidade. No entanto, esse sempre se mostrou um ponto problemático para a Apple em certos sentidos, já que muitas acusações surgiram alegando que nenhum dos iPods consegue oferecer o tempo de reprodução alegado pela fabricante em situações de uso reais.
O fim de uma era
Mesmo importantes para a história da Apple e essenciais em determinar o que a empresa é atualmente, os iPods foram relegados a um papel secundário em sua linha de produtos. A principal razão para isso tem um nome bastante conhecido: o iPhone. Unindo capacidades de reprodução multimídia a CPUs com grande capacidade de processamento e à possibilidade de fazer ligações, o gadget logo se tornou o principal produto da organização.
Atualmente o legado do iPod sobrevive no iPhone
De certa forma, podemos dizer que o smartphone “engoliu” o reprodutor de músicas, que passou a fazer parte de algo maior do que aquilo que foi imaginado por Jobs e sua equipe. A própria Companhia da Maçã parece ver o iPod dessa forma, tendo diminuído o espaço dado aos aparelhos nos últimos anos.
A última atualização feita na linha já data de 2015
A última atualização feita na linha já data de 2015, ano em que o iPod Touch recebeu sua sexta geração. Já o modelo original — conhecido atualmente como “Classic” — chegou ao fim de sua vida em 2014 com a capacidade interna recorde de 160 GB — espaço suficiente para guardar muito mais do que mil músicas.
Com mais de 350 milhões de unidades vendidas em sua história, o iPod foi essencial para tornar a Apple a empresa mais valiosa do mundo na atualidade. Mesmo esquecido em tempos recentes, o aparelho mantém vivo seu legado, e suas qualidades devem ser reconhecidas por qualquer fã do mundo da tecnologia. E você, tem ou teve um aparelho da linha? Compartilhe sua história com a gente em nossa seção de comentários.