O anúncio do acessório Apple Pencil para desenhos e anotações no iPad Pro foi recebido com surpresa e até algumas piadas. Afinal, é sabido que Steve Jobs, cofundador e maior figura pública da empresa, detestava canetas stylus e até declarou isso publicamente.
Oito anos depois (e quatro após o falecimento de Jobs), será que o lançamento do novo acessório é uma traição ao legado e às ideias do executivo?
Primeiro, vamos aos fatos. Durante o evento Macworld de 2007, enquanto apresentava o primeiro iPhone, Jobs se questionou sobre como fazer a navegação pelo aparelho sem ter que carregar um mouse. "Ah, uma stylus! Vamos usar uma stylus... Não. Quem quer uma stylus? Você tem que tirar e guardar ela, você perde. Eca! Ninguém quer uma stylus. Então não vamos usar uma stylus", divaga o executivo, levando o público aos risos.
Traição ou evolução?
Agora, precisamos contextualizar esse discurso como fez o site The Verge. O iPhone 1 foi um dos primeiros smartphones do mundo a usar uma tela capacitiva em vez de uma resistiva. Essa tecnologia revolucionária permitia gestos como "zoom em pinça" e multitoques em geral, além de melhorar consideravelmente a sensibilidade da tela aos toques. Foi ela que matou o teclado QWERTY físico acoplado, por exemplo.
Para vender um smartphone com tela capacitiva (que não precisa de uma stylus para responder a toques precisos na tela que um dedo pode fazer), é claro que Jobs faria propaganda negativa para o acessório.
Ainda há a questão do uso: nesses displays antigos, a caneta eletrônica era usada para qualquer tipo de navegação, desde teclas virtuais até ícones de interface. Com o iPad Pro, a situação muda bastante: o Apple Pencil não é um substituto da ponta dos seus dedos. é um acessório mais voltado para profissionais que querem aproveitar ao máximo a tela de 12,9" para design gráfico, ilustração, arquitetura e outras carreiras que possam se beneficiar de um produto que até reconhece a suavidade do traço ou se você está com a ponta da caneta de lado ou não.
Além disso, o iPad Pro não é obrigatório: você pode muito bem aproveitar o tablet casualmente ou não sem precisar da stylus. O Galaxy Note já havia popularizado essa tecnologia? Sem dúvidas, assim como a Samsung já influenciou a Apple em outros momentos (e vice-versa).
Desse modo, é possível que Steve Jobs realmente aprovasse a ideia do Apple Pencil. Se quiser dar uma de esperta, a Apple sempre pode se justificar dizendo que o novo produto não é uma caneta, como Jobs abominava, mas um simples e elegante lápis.
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