OTAN quer criar sistema de internet espacial para evitar apagão global na comunicação

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Depois de ser atingido por mísseis dos rebeldes iemenitas do grupo Houthi, o Rubymar, um navio de carga com bandeira do Belize, teve a tripulação evacuada e arrastou sua âncora pelo fundo do oceano antes de afundar. Nesse trajeto, a peça de ferro cortou três cabos de fibra ótica no fundo do Mar Vermelho e interrompeu um quarto do tráfego de internet entre a Europa e a Ásia.

Preocupada com a vulnerabilidade desse sistema que, além da internet, transmite comunicações de defesa e mais de US$ 10 trilhões em transações financeiras diárias, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) pretende desenvolver uma rede híbrida para prevenir esse tipo de vulnerabilidade protagonizada pelo Rubymar.

Combinando cabos submarinos e comunicações via satélite, o objetivo é garantir um fluxo contínuo de dados. Orçado em US$ 2,5 milhões (R$ 15,3 milhões), o projeto é uma colaboração internacional entre aliados e parceiros da OTAN, como os EUA, Islândia, Suécia e Suíça.

De onde vem a internet do mundo?

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Quase 99% das transmissões de internet são via cabo submarino. (Fonte: Telegeography/Reprodução)

Embora muita gente pense que a internet que recebemos em nossas cassas venha por meio de satélites, esse tipo de transmissão responde apenas por, no máximo, 5% do tráfego global e se restringe a áreas remotas onde os cabos não chegam. Na verdade, entre 95% e 99% de todas as transmissões de internet são realizadas via cabos de fibra óptica submarinos.

Finos (da largura de uma salsicha), mas extremamente longos, os fios de fibra de vidro se estendem por cerca de 1,2 milhões de km ao redor do planeta, segundo o Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos dos EUA (IEEE). Atualmente, entre 500 e 600 desses cabos atravessam os fundos oceânicos do mundo inteiro.

Embora extenso, esse sistema é extremamente frágil, pois cada cabo pode potencialmente se tornar um "ponto de estrangulamento" (bottleneck), pois é um ponto crítico e vulnerável dentro da estrutura global de internet. Em outras palavras, se um cabo desses for danificado ou interrompido, pode causar até o isolamento digital de certas regiões da Terra.

Por que a OTAN quer uma internet alternativa no espaço?

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Até 150 cabos submarinos são cortados no fundo do mar anualmente. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Embora sejam considerados altamente eficientes e rápidos (quando operacionais), os cabos submarinos têm se tornado suscetíveis a problemas, como ataques, acidentes e outros contratempos. Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), entre 100 a 150 cabos são cortados anualmente, principalmente por equipamentos de pesca ou âncoras arrastadas.

Existe ainda um risco crescente de sabotagem. Isso pode ter ocorrido em novembro de 2024, quando dois cabos submarinos foram misteriosamente cortados no Mar Báltico, no norte da Europa. Embora sem uma acusação formal, houve sugestões veladas de que o suposto incidente teria sido uma retaliação da Rússia ao apoio europeu à Ucrânia. As autoridades russas consideraram as insinuações "bastante absurdas".

"Pense na Islândia. A Islândia tem muitos serviços financeiros, muita computação em nuvem e está conectada à Europa e à América do Norte por quatro cabos. Se esses quatro cabos forem destruídos ou comprometidos, a Islândia ficará completamente isolada do mundo", afirmou à IEEE Spectrum o doutorando Nicolò Boschetti, da Universidade Cornell, que trabalha no projeto.

Quando o HEIST da OTAN começará a funcionar?

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O HEIST será parcialmente testado ainda neste ano. (Fonte: OTAN/Divulgação)

Com o comprido nome "Arquitetura híbrida espacial-submarina garantidora da segurança da informação das telecomunicações" e a estranha sigla HEIST em inglês, o projeto está sendo desenvolvido por equipes das universidades de Cornell, Johns Hopkins, Bifröst, e de Defesa Sueca, além do Instituto de Tecnologia Blekinge, ETH Zurique, Marinha Real Sueca, governo islandês e diversas empresas privadas.

A princípio, o Starlink, serviço de internet via satélite desenvolvido pela SpaceX, que já fornece uma grande quantidade de serviços de internet baseados no espaço, foi cogitado. Mas a perspectiva de colocar essa área global tão significativa e sensível sob a guarda de um único indivíduo (Elon Musk), não foi considerada apropriada pelos gestores.

Se tudo correr conforme o cronograma, um protótipo funcional do sistema poderá ser entregue em dois anos, embora algumas equipes prometam testes do equipamento ainda em 2025. "Estamos montando peças do quebra-cabeça e tentando criar esse novo ecossistema massivo", disse o diretor nacional da OTAN para o HEIST, Greg Falco, à plataforma Cornell Chronicle.

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