No início do século XXI, muitas pessoas descobriam bandas novas e músicas que não tocavam no rádio por meio do Myspace. A plataforma, nascida em uma época na qual não existiam o Facebook e o Orkut, chegou a ter o site mais visitado dos Estados Unidos, superando o Google.
Criado em 2003 pelos colegas de trabalho Tom Anderson e Chris DeWolfe, o site foi inspirado no Friendster, uma das primeiras redes sociais e que, em várias ocasiões, ficava lento devido à grande quantidade de acessos. A dupla queria oferecer uma alternativa à plataforma famosa.
Observando os usuários no primeiro ano da nova rede, Anderson e DeWolfe descobriram que fãs de música e artistas estavam entre os mais ativos. Diante disso, decidiram priorizar o conteúdo musical, atraindo grupos em início de carreira que buscavam um espaço para divulgar seus trabalhos.
Adele, Lily Allen, Arctic Monkeys, Colbie Caillat, Panic! at The Disco, Kid Cudi e Soulja Boy são alguns dos artistas e bandas que usaram o Myspace para alcançar um público maior. A plataforma permitia criar perfis com biografia, fotos e compartilhar as canções, gratuitamente, além de facilitar a interação com os fãs.
O que o Myspace tinha de diferente?
Além da descoberta de novos artistas e das músicas de graça, o site funcionava como uma rede social tradicional, tendo perfis personalizáveis com plano de fundo, gráficos e músicas. Os usuários podiam adicionar amigos — havia um ranking denominado “top 8” para classificar os mais próximos — participar de grupos e discussões.
O espaço era usado, ainda, para compartilhar textos, obras de arte e outros trabalhos criativos para um público mais amplo. Com o crescimento da rede, novos recursos começaram a ser adicionados, como o Myspace TV, para divulgar videoclipes e concorrer com o YouTube.
Estas e outras funcionalidades atraíam cada vez mais pessoas, levando o Myspace para vários países, incluindo o Brasil. O site se tornou a maior rede social do mundo entre 2005 e 2008, influenciando a cultura pop, a música e a tecnologia, chegando a ter, no auge, mais de 320 mil novos usuários por dia e acima de 100 milhões de pessoas acessando a plataforma.
Contas populares
O Myspace teve perfis que alcançaram bastante destaque, se transformando em figuras de grande popularidade. O primeiro deles foi o do cofundador, Tom Anderson, que era automaticamente adicionado como primeiro amigo de cada nova conta criada, levando o “Myspace Tom” a ganhar milhões de seguidores.
Uma das primeiras cantoras a ganhar fama no espaço, Lily Allen tinha um perfil muito procurado nos primeiros anos do site, atraindo principalmente adolescentes e jovens. Outra celebridade que usou bastante a plataforma para se promover foi a modelo e atriz Tila Tequila, cuja conta era uma das mais populares da página.
O maquiador, cantor e compositor Jeffree Star também ganhou fama entre os usuários da plataforma, aproveitando a novidade para divulgar seus trabalhos na música e na moda. O mesmo pode se dizer da vlogger e comediante Cara Cunningham, que usou os recursos de vídeo da rede para se promover.
Trocas de donos
Enquanto crescia, o Myspace chamou a atenção de grandes corporações. Uma das primeiras tentativas de negociação envolveu o então recém-lançado Facebook — não se sabe se Mark Zuckerberg tentou comprar a rede focada em música ou se Anderson e DeWolfe tentaram adquirir a rede social em 2005.
Se esse negócio não deu certo, o Myspace foi vendido para a News Corporation por US$ 580 milhões no mesmo ano. O conglomerado liderado por Rupert Murdoch administrou a empresa até 2011 , quando a vendeu por um valor muito menor, US$ 35 milhões, para a Specific Media, que tinha Justin Timberlake como sócio.
O cantor e ator ajudou na revitalização da rede social em meio ao declínio da marca, mas a parceria foi encerrada em 2016 com a venda para a Time Inc. Dois anos depois, a plataforma passou para a Meredith Corporation, grupo de comunicação responsável por revistas como People e InStyle, como parte da fusão com a Time.
Perda de espaço e exclusão de conteúdos antigos
Dominando as redes sociais até 2008, o Myspace começou a perder usuários para o Facebook. A rede lançada por Zuckerberg apresentava uma interface mais amigável e controles de privacidade melhores, entre outros atrativos, ultrapassando o concorrente em 2011.
O crescimento do YouTube também afetou a rede focada em música, de acordo com um dos antigos executivos da rede, assim como a falta de inovação. A presença de spam e malware na plataforma e a troca constante de gestores são outros fatores apontados como responsáveis pelo declínio do Myspace.
Vale destacar, ainda, a perda de todo o conteúdo postado antes de 2016, deixando furiosos os usuários que continuaram na plataforma. O problema foi revelado em 2019 pela empresa, que culpou uma migração de servidor desastrosa levando à exclusão em massa dos arquivos antigos.
Estima-se que foram perdidas mais de 50 milhões de faixas musicais, de 14 milhões de artistas, incluindo canções de Lily Allen e da banda Arctic Monkeys, além de fotos e vídeos. Uma pequena parcela do material chegou a ser recuperada por meio do Internet Archive, mas o estrago já havia sido feito.
O Myspace ainda existe?
Ao contrário do que muitos pensam, o Myspace não acabou. A rede social continua disponível em 2024, no mesmo endereço eletrônico, porém há algumas diferenças em relação à plataforma que fez sucesso no início do século XXI.
O site ainda mantém conteúdos musicais e vídeos, que não foram reproduzidos durante os testes feitos pelo TecMundo. A página também publica notícias e artigos sobre estilo de vida, mas aparentemente não é atualizada há algum tempo, pois os textos mais recentes são datados de 2022.
Fontes