Que fim levou o Flogão? A rede social era a versão brasileira do Fotolog

Por André Luiz Dias Gonçalves

07/09/2024 - 09:303 min de leitura

Que fim levou o Flogão? A rede social era a versão brasileira do Fotolog

Fonte : Getty Images/Reprodução

Publicar fotos na internet no início dos anos 2000 não era tão fácil quanto agora, devido à pouca quantidade de sites que ofereciam esta funcionalidade e à lentidão da conexão, entre outros fatores. Antes das redes sociais como conhecemos, o Flogão era uma das plataformas que disponibilizavam tal recurso.

Lançado em 2004 pelo programador Cristiano Costa, o serviço de compartilhamento de imagens nasceu como uma versão brasileira do Fotolog, que começou a fazer sucesso dois anos antes. E não demorou para que ele ganhasse fama entre as pessoas à procura de uma página para compartilhar suas fotos.

As fotos publicadas no Flogão eram registradas nas antigas câmeras digitais, em sua maioria.
As fotos publicadas no Flogão eram registradas nas antigas câmeras digitais, em sua maioria. (Imagem: Getty Images)

Entre os diferenciais para atrair mais usuários, vale destacar a ausência de limite de criação de contas e postagem de fotos. Enquanto o serviço norte-americano permitia apenas 500 novos perfis e uma imagem por dia na modalidade gratuita, a plataforma nacional não apresentava restrições.

A possibilidade de compartilhar fotos livremente colocava o site até mesmo à frente do Orkut, que inicialmente liberava 12 fotos por pessoa, sendo necessário apagar uma delas para colocar outra ao atingir o limite. 

Além disso, o Flogão permitia personalizar o plano de fundo do perfil, usar GIF como foto principal e adicionar música.

Como funcionava o Flogão?

O Windows XP era o sistema operacional mais popular no auge do Flogão.
O Windows XP era o sistema operacional mais popular no auge do Flogão. (Imagem: Getty Images)

Usando o slogan “O Fotolog do seu jeito”, por causa da personalização, a versão brasileira funcionava de forma semelhante à original. Bastava criar uma conta, transferir as fotos da câmera digital para o computador e fazer o upload no site, processo que poderia ser demorado, pois a internet discada predominava no início da plataforma.

A imagem normalmente era publicada junto com uma descrição e a postagem recebia comentários, facilitando a interação entre os usuários. Também era possível seguir outros perfis e havia comunidades reunindo pessoas com interesses em comum, como fãs de bandas, futebol ou games.

Ou seja, o Flogão era uma rede social do início dos anos 2000, uma espécie de “ancestral do Instagram”, da mesma forma que o Fotolog. A plataforma nacional atingiu seu auge entre 2007 e 2008, quando alcançou 7 milhões de usuários ativos e 25 milhões de acessos mensais.

Com a popularidade, o site chamou a atenção de investidores e chegou a ser vendido para a startup Power.com em 2007. Porém, o negócio foi desfeito quatro anos depois e voltou a pertencer ao seu criador, Cristiano, no período em que o Orkut já surgia como a rede social preferida dos brasileiros.

Reduto de fãs de caminhões e do jogo Tibia

Conteúdos sobre caminhões dominaram o Flogão em seus momentos finais.
Conteúdos sobre caminhões dominaram o Flogão em seus momentos finais. (Imagem: Getty Images)

O Flogão passou a ter a concorrência cada vez maior do Orkut e do Facebook, que ganhavam novas funcionalidades de maneira recorrente e começavam a se adaptar aos dispositivos móveis. Além das plataformas com as quais já convivia, incluindo o Flickr, a rede brasileira ganhou um novo rival em 2010, o Instagram.

A partir da fuga dos usuários para as plataformas mais modernas das gigantes da tecnologia, o “Fotolog brasileiro” começou a ser utilizado por públicos específicos que tinham no site um lugar mais tranquilo para interagir. Em seus anos finais, o site era frequentado, basicamente, por fãs de caminhões e do jogo Tibia.

Por volta de 2014, a rede social estava dominada por esses grupos. No caso dos veículos pesados, as comunidades eram formadas por adolescentes e jovens, geralmente filhos de caminhoneiros ou apaixonados por esses automóveis, que se reuniam em postos de combustível e nas rodovias para fotografá-los e interagir com os motoristas.

Entre os flogueiros fãs de caminhões, perfis como “AlucinadosdaSC101”, “Elite Goiânia” e “Conexão 277” eram alguns dos mais famosos. Esse tipo de página já existia na plataforma na segunda metade dos anos 2000 e se popularizou ainda mais na década seguinte, ganhando a companhia dos jogadores de Tibia.

Apontada como a página mais acessada da história do Flogão, a conta “Dirrego” era dedicada ao game de RPG adorado pelos frequentadores de lan houses. Foram pelo menos 11 milhões de visualizações enquanto o perfil gerenciado pelo analista de sistemas, Diego Valverde Gerolamo, esteve no ar.

Por que o Flogão acabou?

O Flogão foi descontinuado após 15 anos no ar.
O Flogão foi descontinuado após 15 anos no ar. (Imagem: André Luiz Dias Gonçalves/TecMundo)

Assim como aconteceu com o Fotolog, o declínio do Flogão se deu pela falta de adaptação aos novos tempos. O layout criado para desktops e notebooks em 2004 não funcionava bem nas telas dos smartphones e o site sofria com bugs, dificultando a experiência dos usuários.

Mesmo com os problemas, a rede social brasileira durou mais que o Fotolog e o Orkut, e ainda contava com vários perfis ativos nos anos finais. Porém, os responsáveis pelo serviço decidiram encerrar o Flogão no dia 24 de junho de 2019, entristecendo as comunidades tibiana e de caminhoneiros.

Na mensagem de despedida, o site sugeriu aos usuários que se cadastrassem na página Meadd.com, que tem visual semelhante ao dos clássicos Flogão e Fotolog. Antes do encerramento, a empresa deu prazo para que as fotos armazenadas na plataforma fossem baixadas.

O Meadd ainda funciona, porém ao tentar acessar o site do Flogão em 2024 nos deparamos com o erro “Sua conexão não é particular”, não sendo possível saber se essa página possui relação com a plataforma original.


Por André Luiz Dias Gonçalves

Especialista em Redator

Jornalista formado pela PUC Minas, escreve para o TecMundo e o Mega Curioso desde 2019.


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