CazéTV e Ligue 1: é possível barrar totalmente o uso de VPNs no streaming?

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Quem assiste aos jogos do Campeonato Francês (Ligue 1) no Brasil pode ter se surpreendido com a ausência de jogos do torneio na CazéTV. Esse não foi um erro técnico: o canal optou por suspender a transmissão após uma notificação da entidade organizadora do campeonato.

A plataforma transmite gratuitamente algumas das partidas no YouTube, mas acessos considerados irregulares pelo detentor original dos direitos de transmissão podem prejudicar o projeto.

Esse caso traz uma discussão interessante: afinal, é possível identificar e proibir conexões originadas de VPN ou esse é mesmo um método infalível para burlar o bloqueio geográfico?

O que aconteceu com o Campeonato Francês na CazéTV?

Produzido pela LiveMode e idealizado pelo streamer Casimiro Miguel, o canal CazéTV é detentor de direitos de transmissão da Ligue 1 no Brasil a partir desta temporada.

Porém, durante o jogo Paris Saint-Germain contra Le Havre, válido pela primeira rodada do campeonato, foram identificados acessos de dispositivos não conectados no Brasil, mas com IP apontando para o país.

Usuários franceses — que só poderiam ver a partida por plataformas consideradas caras no país — estavam usando serviços de rede virtual privada (VPN) para acessar os jogos da CazéTV sem custos adicionais.

No último sábado (24), a plataforma brasileira notificou os usuários que suspendeu a transmissão do Campeonato Francês até que o caso seja resolvido. O motivo, segundo o site L1 Insider, outra emissora notificou a Ligue 1 sobre a irregularidade.

De acordo com a página, o contrato da CazéTV "não permite" que pessoas de outros países vejam o jogo, mas bloquear o acesso a eles não é tão fácil quanto parece.

É possível bloquear uma VPN?

Tecnicamente, existem algumas formas de encontrar acessos feitos por VPN, distinguir eles das conexões diretas e restringir conexões que são mascaradas por esses serviços.

Em um primeiro método, a entidade que faz o bloqueio pode reunir uma lista de endereços de IP normalmente usados por uma VPN específica e cortar o acesso deles à rede.

A VPN usa um servidor de outras partes do mundo como intermediário. (Imagem: Getty Images)A VPN usa um servidor de outras partes do mundo como intermediário. (Imagem: Getty Images)Fonte:  GettyImages 

Uma segunda possibilidade envolve a configuração de um firewall por uma operadora ou empresa responsável por uma plataforma. Ele deve bloquear conexões feitas pelas portas VPN que são normalmente abertas em um roteador para habilitar o serviço.

Por fim, em uma terceira forma de bloqueio, é possível aplicar a técnica do deep packet inspection (inspeção profunda de pacotes, ou DPI). Ela vasculha seus dados de navegação de forma minuciosa, em busca de evidências e padrões que sejam típicas do uso de uma VPN.

Governos e empresas empregam essas técnicas por vários motivos, desde censura ou acusações de riscos à população, como no caso da China, até como forma de manter a produtividade em companhias ou instituições de ensino.

O terceiro método é mais eficaz, mas é também mais complexo de ser implementado. Ainda assim, tanto ele quanto qualquer outra prática de bloqueio de VPNs não tem 100% de eficácia, o que significa que não é possível burlar absolutamente todos os acessos de fora.

Nenhum método de detecção de VPN é totalmente eficiente. (Imagem: Getty Images)Nenhum método de detecção de VPN é totalmente eficiente. (Imagem: Getty Images)Fonte:  GettyImages 

Além disso, essas formas de bloqueio tendem a ser mais eficientes em VPNs gratuitas e limitadas do que serviços mais completos. Essas plataformas, normalmente pagas por assinatura, tendem a "disfarçar" melhor a navegação e reduzir as chances de detecção por mecanismos de bloqueio.

VPNs e streaming: é ilegal usar?

Legalmente, não é proibido usar uma VPN durante a navegação. Esse tipo de serviço é primeiramente voltado para a privacidade do usuário e conta com vários mecanismos de segurança, em especial para navegação em conexões potencialmente inseguras, como o Wi-Fi de locais públicos.

Porém, os usuários estão sujeitos a possíveis punições caso o acesso a conteúdos ilegais ou proibidos seja detectado, dependendo da legislação da região. Além disso, descobertas de brechas ou acesso irregular como no caso dos jogos da Ligue 1 por franceses pode gerar atritos no contrato de exibição no Brasil e dificultar possíveis negociações futuras por uma renovação.

Jogo do PSG pelo Campeonato Francês. (Imagem: Getty Images)Jogo do PSG pelo Campeonato Francês. (Imagem: Getty Images)Fonte:  GettyImages 

A questão se complica na medida em que o próprio marketing desses serviços incentiva essa prática: diversas VPNs até se vendem como uma forma de acessar conteúdos bloqueados regionalmente, incluindo em plataformas de streaming.

Atualmente, o YouTube tem a possibilidade de trava regional, algo já observado em trailers e clipes musicais, por exemplo. Em nota enviada ao TecMundo, a plataforma afirmou que "está ciente e trabalha junto com a Cazé TV no caso".

Fora o bloqueio regional, o serviço pode restringir o acesso a vídeos por meio da publicação não listada (acessada só a quem tem o link) ou pela exclusividade para membros de um canal.

A CazéTV, porém, oferece a Ligue 1 e outros torneios de forma gratuita e aberta — por enquanto contando apenas com o bloqueio geográfico e agora com riscos de perder um dos seus conteúdos por algo que foge do seu controle.

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