Quem ainda não ouviu falar do metaverso? Depois que o Facebook mudou seu nome para Meta em outubro de 2021, o interesse pelo metaverso aumentou significativamente, mas as buscas pela palavra vêm caindo desde o início do ano e alguns “analistas” acreditam que o interesse pelos tokens não fungíveis (NFTs) e pelo metaverso pode desaparecer logo mais.
Será? Acredito que não. Tem muita grana rolando nesses “mundos paralelos”, e qualquer coisa que seja dita nesse momento sobre o seu desaparecimento é pura especulação, já que muita gente grande tem investido milhões de dólares em compras de terrenos e construindo casas nesses “mundos paralelos”, o que é um sinal de que tem gente apostando que o metaverso ainda vai crescer muito e futuramente será um ótimo mercado de venda de ativos digitais.
O significado de “meta” quer dizer transcendente, ou seja, que excede a natureza física das coisas. O termo “verso”, nada mais é do que a redução da palavra universo, então, o metaverso pode ser considerado como o universo que excede as barreiras físicas do mundo real. E é exatamente o que ele é!
Um universo digital, que roda dentro de jogos eletrônicos onde você pode ser o que quiser.
O que é o metaverso
Em primeiro lugar, não existe apenas um metaverso, mas muitos. Cada jogo que se utilize de uma tecnologia que emule uma realidade paralela ou virtual é considerado um metaverso diferente do outro, com suas regras, dinheiro, objetivos e personagens próprios.
Existem diversos metaverso porque a grande questão é que não há, por enquanto, interoperabilidade entre eles, ou seja, os jogos não conversam entre eles, então cada um é um mundo isolado do outro, e o que um jogador faz em um jogo, não tem consequência no outro. Já pensou que loucura seria se isso acontecesse? Certo. Mas por que o metaverso atrai tanta gente, e por que eu tenho que tomar cuidado?
Em primeiro lugar porque são jogos on-line, e muita gente curte jogar. Quanto mais recursos, mais gráficos e efeitos, mais usuários se interessam pelo jogo e, consequentemente, gastam mais dinheiro realizando compras dentro desses games.
Mas o metaverso também atrai muitas pessoas porque existem jogos do tipo play-2-earn, onde quando mais o jogador joga, mais ele pode ganhar em créditos para usar dentro do próprio jogo ou em criptomoedas que podem ser convertidas em dinheiro “real”, ou podem ser gastas da forma como, já que hoje é possível pagar muitas compras com criptomoedas.
Fonte: Shutterstock
Além disso, e como ainda é a natureza do metaverso, tem muita gente especulando dentro dos jogos, comprando “terrenos” dentro desses ambientes virtuais e construindo imóveis que podem ser mansões, casas, prédios etc., usando o dinheiro virtual do jogo, e quanto mais perto de celebridades, mais valioso deve ser o terreno, como na vida real.
Os terrenos no metaverso são uma espécie de NFT (se não leu o artigo que eu escrevi sobre NTF, clique aqui), e só existirá um terreno naquele lugar, e esse NFT funciona como a “escritura do imóvel”, a prova de que eu sou o proprietário e só eu posso fazer o que quiser com aquele terreninho.
Como qualquer NFT, esses terrenos podem ser vendidos, e alguns chegam a custar o equivalente a 400 mil dólares ou mais. No Decentraland, por exemplo, um terreno não sai por menos de R$ 60 mil ou 3 ponto alguma coisa em ethereum (criptomoeda que é usada para comprar o dinheiro dentro dos jogos).
Então, se alguém se passar por uma celebridade e comprar um terreno no metaverso, e você então comprar o terreno ao lado por querer ser vizinho daquela celebridade pensando que o terreno vai valorizar e poderá ser vendido posteriormente por muito dinheiro, e depois descobrir que não era realmente a pessoa? Já pensou? Muito dinheiro investido e o retorno pode ser mínimo, já que o interesse por esse terreno não será o mesmo. Será que se poderia dizer que ocorreu algum crime? E como ter acesso aos dados do criador do perfil?
Outro problema são as empresas que agora efetuam a corretagem de terrenos no metaverso. E se houver uma fraude e a empresa não te entregar o NFT do terreno? Como fazer? Quem processar? Qual lei aplicar? Em qual país teremos que entrar com a ação? Existe responsabilidade do desenvolvedor do jogo?
O mais grave é: e se a plataforma encerrar as suas atividades? Todo dinheiro investido pode ser perdido ou não valer mais nada. Aí as mesmas perguntas acima terão que ser respondidas, mas ainda não existem processos dessa natureza, e tudo dependerá de onde a plataforma está localizada, se tem sede no Brasil e outros fatores que apenas caso a caso podem ser analisados.
Mas isso não quer dizer que o metaverso seja perigoso, de jeito nenhum. Apenas é preciso que antes de investir em qualquer jogo (como em qualquer negócio), você entenda as regras e saiba que sempre existem riscos, e que se você for lesado, os custos para reaver o seu prejuízo podem ser muito altos.
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Rofis Elias Filho, colunista do TecMundo, é geek e advogado, apaixonado por tecnologia desde pequeno. Foi o primeiro da rua a ter internet em casa, em 1994, e se especializou em Direito da Informática no Brasil e em Portugal. Hoje, é professor da mesma matéria em diversas instituições, tendo sido coordenador-executivo da pós-graduação da ESA/SP. É sócio do escritório Elias Filho Advogados, que advoga para diversas empresas de tecnologia no Brasil e no exterior. Siga nas redes sociais para mais dicas: @eliasfilhoadv.