Uma em cada 4 mulheres acima de 16 anos foi vítima de algum tipo de violência na pandemia no Brasil. Um levantamento do Datafolha mostrou que 17 milhões de mulheres (ou 24,4%) sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano.
Analisando os números, é possível encontrar um aumento nas agressões que acontecem dentro de casa: elas passaram de 42% para 48,8%. Em 2019, o levantamento do Datafolha mostrava que o autor das agressões, na maior parte dos casos, era classificado como “vizinho”. Hoje, essa história mudou.
Em 2021, o “vizinho” ficou para trás das classificações pai, irmão, padrasto, filho e até mãe, irmã, madrasta e filha. Esse problema precisa ser encarado e, felizmente, algumas iniciativas se valem da tecnologia para dar suporte às vítimas. Uma delas se chama Frida, uma assistente virtual que funciona 24 horas por dia e atende, acolhe e direciona vítimas de violência doméstica.
Antes de falar sobre as soluções tecnológicas, é preciso "mergulhar" mais um pouco nos dados para entender a dimensão da violência doméstica no Brasil. A pesquisa do Datafolha, chamada Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil, indica que o local mais perigoso para as mulheres é a residência. Além disso, a proporção de vítimas é maior entre negras e jovens.
Os dados mostram que o recorte de maior sofrimento ainda se encontra entre as mulheres de 16 a 24 anos. Quando falamos de mulheres pretas, esse número atinge 28% dos relatos com agressões. Sobre os agressores, 73% deles são íntimos das vítimas, sendo que maridos ou namorados ocupam o 1° lugar e ex-maridos ou ex-namorados vêm na sequência, seguidos por pais, padrastos e mães.
Ao portal EBC, a pesquisadora Amanda Pimentel, uma das autoras do estudo, disse que os dados revelam que a violência contra a mulher mantém padrões antigos, mas agravados pela pandemia causada pelo coronavírus. Além disso, Pimentel também comenta que a crise sanitária tem dificultado o enfrentamento da violência contra mulher, isso porque o convívio mais longo com os agressores, a perda de renda familiar e o maior isolamento afastam as mulheres de suas redes de proteção.
Onde buscar ajuda
No Brasil, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos chegou a pontuar esse problema em alguns momentos, apesar de não ser o suficiente. Mesmo assim, foi divulgada a existência do Ligue 180, um serviço de utilidade pública para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos.
No Ligue 180, ainda é possível se informar sobre os direitos da mulher, a legislação vigente do tema e a rede tanto de atendimento como de acolhimento a mulheres em situação de vulnerabilidade. Também é possível receber atendimento pelo Telegram, segundo o governo. Basta acessar o aplicativo, digitar na busca “DireitosHumanosBrasil” e mandar mensagem para a equipe da Central de Atendimento à Mulher.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública também analisou dados relacionados aos casos de violência doméstica. Enquanto o Fórum deixa claro que as medidas de isolamento social tomadas na pandemia foram mais que necessárias, ele aponta que essa situação tem como possível efeito colateral consequências perversas para as milhares de mulheres brasileiras em situação de violência doméstica à medida que elas não só são obrigadas a permanecer em casa com seus agressores, mas também podem encontrar ainda mais barreiras no acesso às redes de proteção às mulheres e aos canais de denúncia.
A assistente virtual no combate à violência doméstica
Dos assédios moral e sexual ao feminicídio, várias dimensões da violência de gênero que marcam a experiência da vida de mulheres de todas as idades no Brasil. Por isso, o TecMundo buscou destacar esse tema com a ajuda da Frida.
Frida é uma assistente virtual que realiza atendimento imediato à vítima – acolhe a denúncia, esclarece dúvidas, faz uma avaliação preliminar do risco e aciona a polícia em situações de flagrante ou risco, inclusive enviando uma viatura. Além disso, faz uma triagem do que a vítima precisa, oferecendo aconselhamentos e agendando um horário para que a vítima vá até a delegacia fazer as medidas protetivas.
A Frida foi criada pela policial civil Ana Rosa Campos, pela historiadora Camila Holz e pelas psicólogas Raiane Ferreira e Sarah Assis. O nome tem consigo a história de Frida Kahlo, nascida em Coyocán, no México, em 1907. Frida foi uma artista que valorizou a cultura popular, adotando as vestimentas, os símbolos e o imaginário da mulher mexicana. A vida da artista foi dura, enfrentando a poliomielite aos 6 anos de idade, que deixou como sequela uma perna mais fina e curta do que a outra, e um acidente, aos 18 anos, quando estava em um bonde. Frida ficou gravemente ferida e teve de permanecer imobilizada na cama por mais de 3 meses, quando adotou a pintura como forma de expressão para superar a solidão e a percepção de sua fragilidade. Frida Kahlo foi uma das grandes artistas do século XX influenciando o mundo até hoje.
Levando assistência para mais mulheres
Segundo as mulheres por trás da iniciativa, apesar do avanço na legislação que persegue e pune os agressores, as vítimas ainda enfrentam um tortuoso e longo caminho para serem ouvidas: as dificuldades vão desde ausência de estrutura, como delegacias especializadas, equipes qualificadas e horário de atendimento restrito até o controle exercido muitas vezes pelo agressor sobre a vítima, que pode ser emocional e financeiro.
Em áreas rurais, esses fatores são agravados pela distância e tolerância social à violência doméstica. Os recursos são esparsos, e tanto a demanda quanto a urgência são intensas.
A construção de infraestrutura para atendimento das vítimas e qualificação da mão de obra para lidar com casos delicados é um processo longo, mas as mulheres precisam de ajuda imediata.
Com todas essas informações "em mãos", Campos, Holz, Ferreira e Assis decidiram dar vida à Frida. Hoje, a iniciativa tecnológica foi implementada nas cidades de Manhuaçu e Governador Valadares, em Minas Gerais.
A Frida tem-se mostrado eficaz no seu objetivo e tem potencial para ser expandida a outros locais, inspirando outras delegacias especializadas no atendimento à mulher, pois seu custo operacional é baixo.
Segundo as criadoras, a Frida é uma solução feita por e para as mulheres que se solidarizam com o sofrimento de outras e entendem a dificuldade que existe na busca por comunicação e ajuda para amigas que vivem relacionamentos abusivos.
Como vimos no começo do vídeo, os dados são extremamente alarmantes, mas ainda assim, infelizmente, não podemos depender apenas de inciativas públicas para lidar com problemas tão graves quanto a violência doméstica.
Por isso, projetos como a Frida são extremamente importantes para que as vítimas se sintam acolhidas e tenham um ambiente seguro para receber o apoio de que precisam e falar abertamente sobre o tema. Esse é apenas mais um exemplo de como a tecnologia pode ser aplicada para humanizar mais as relações e ajudar, de fato, outras pessoas.
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