Após a recente tomada de poder do grupo Talibã no Afeganistão, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento – sigla USAID em Inglês – enviou um e-mail orientando seus parceiros a removerem "fotos e informações que podem tornar indivíduos ou grupos vulneráveis" na internet. A decisão gerou uma onda nas redes sociais afegãs em que usuários estão apagando conteúdos com medo de perseguição e represália.
A embaixada estadunidense em Kabul, que agora está fechada, também recomendou a cautela na última sexta-feira (13), pedindo para que funcionários eliminem materiais e itens que "podem ser usados em esforços de propaganda".
Segundo o jornalista Frud Bezhan, da Radio Free Europe/Radio Liberty, membros do Talibã estão indo de porta em porta em busca de trabalhadores do governo, soldados, policiais e até afegãos que tenham apenas colaborado com governos exteriores e ONGs. De acordo com as fontes do profissional, os combatentes estão realizando "buscas e apreensões" nas casas, confiscando documentos e armas, além do registro de nomes e endereços.
Taliban fighters going door-to-door in #Kabul, looking for government employees, soldiers and police, and Afghans who worked with foreign govts and NGOs, several residents tell me.
— Frud Bezhan ???? ???? (@FrudBezhan) August 16, 2021
Já Monica Campbell, editora do The World, anunciou que afegãos ligados às forças dos Estados Unidos estão escondendo documentos que apontam para essa parceria e que são necessários para o processo de evacuação do país.
Hearing from Afghans who have worked for US forces that they are hiding documents that show they worked for the U.S. - documents that could be dangerous if their home is raided, but documents they may need to show if they hope to be evacuated while visas are still in process.
— Monica Campbell (@monica_campbell) August 16, 2021
Um dilema perigoso e sem muitas orientações
"O desafio é como você consegue balancear o acesso à informação, como o que está acontecendo em aeroportos ou se pessoas estão procurando o seu contato, com a eliminação de evidências que podem ser usadas pelo grupo para incriminá-lo e torná-lo como exemplo", disse Welton Chang, Oficial de Tecnologia da Human Rights First, uma ONG de direitos humanos, em entrevista ao Wired.
A instituição de Chang elaborou um guia para eliminação de históricos digitais. Originalmente disponível apenas em inglês, a iniciativa surgiu durante os protestos em Hong Kong e recebeu uma tradução não oficial em árabe no domingo (15).
URGENT: how to delete your digital history for our #Afghan allies in #Afghanistan.https://t.co/upw14GhuvK pic.twitter.com/I13QBHNEnD
— Vets for American Ideals (@Vets4AmerIdeals) August 16, 2021
"Eu estava procurando orientações de segurança digital em Dari e Pachto (línguas faladas no Afeganistão) e encontrei poucas. Nenhuma era realmente boa e compreensível", disse Nighat Dad, advogada de Direitos Digitais no Paquistão, que agora trabalha com a Human Rights First para traduzir o guia. "Nós que trabalhamos nessa área também somos cúmplices. Acho que não fizemos o suficiente para essas pessoas", complementou.
Muhibullah – nome fictício para proteção da privacidade – é um tradutor que trabalhou com empresas ocidentais e com o exército estadunidense. Falando para a Wired, ele informou que removeu todos os contatos de estrangeiros do WhatsApp. "Se me revistarem e checarem meu celular, podem encontrar as minhas coisas".
A Human Rights First também está criando um guia para evitar ferramentas de reconhecimento facial e biometria. "Rumores dizem que o Talibã conseguiu acesso a um banco de dados de biometria do exército estadunidense durante a tomada do país". A instituição confessa que não sabe a veracidade da informação e nem o suposto alcance do banco de dados.
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