Em maio deste ano, uma equipe de CS:GO entrou para o livro dos recordes ao disputar uma partida oficial na Ucrânia. O motivo não tem nada a ver com o número de headshots, volume de vitórias, K/D ou qualquer coisa habitual: a equipe Young Guard é a que tem a maior média de idade a participar de um torneio de e-sports naquele país. Sim, os integrantes são todos idosos, com a média de 75 anos de idade. Isso vem na onda dos já famosos Silver Snipers e Grey Gunners, que disputaram a final mundial sênior desse game em 2018.
O dado pode ser curioso, até divertido, mas ele traz uma realidade muito impactante: o perfil do usuário mudou. Já foi o tempo em que gaming era para jovem, tecnologia para nerd e ameaças digitais para time de SI, as fronteiras estão cada vez mais tênues, o ritmo mais acelerado e o usuário está fluindo no meio dessa mudança. Porém, ao mesmo tempo em que isso traz novas e excelentes oportunidades para as empresas, também exige muita atenção, cuidados e uma grande vontade de mudar.
Se essa modificação já vinha acontecendo de forma acelerada, a pandemia tornou isso tudo ainda mais rápido, levando as organizações a ter um novo senso de urgência no entendimento de seu público, que ainda está em um processo de mudança. O ambiente de trabalho é um excelente exemplo disso.
Com restrições de contato social, a solução foi colocar boa parte da força de trabalho em home office. Até aí, a prática em si não é nenhuma novidade, é bem comum realizar, ocasionalmente, o trabalho remoto. A coisa muda, no entanto, quando os colaboradores passam a atuar quase que exclusivamente a distância.
De uma hora para outra, reuniões rápidas que eram feitas no café ou na mesa do colega passam a não existir. WhatsApp, Zoom e Meet tornam-se a base da comunicação de todas as equipes. Quem só usava o computador para Word e Outlook se viu necessitado de aprender rápido a navegar em todas essas novas ferramentas com alguma proficiência.
Na outra ponta, equipes de TI passaram a ter que se preocupar com redes domésticas, periféricos, IoT residencial e muitos outros potenciais focos de ameaças, sem necessariamente estarem prontas para esse desafio. Acesso remoto passou a ser mais importante que o endpoint na sede da empresa; aliás, o endpoint, em si, ficou muito mais fluido. Ele pode ser na sala da casa do colaborador ou na praia.
O mesmo desafio afetou o setor educacional, que se viu entrando no EaD massivamente mesmo sem ter planos para isso. Professores dando aula de qualquer lugar, para milhares de alunos em quaisquer outros locais. Já o varejo descobriu a importância do e-commerce, mesmo que seu negócio jamais tivesse sentido qualquer necessidade anterior desse recurso. Analisando com cuidado, é possível notar que o desafio não foi só técnico; na verdade, talvez, esse tenha sido o menor dos problemas.
De novo: o perfil do usuário mudou, e isso vai além da ferramenta que você escolhe para dar conta e garantir acesso para todos. Sim, a cloud se tornou ainda mais importante, houve uma mudança no paradigma de segurança corporativa e as ferramentas de colaboração passaram a ser fundamentais. Mas, indo além disso, notamos a importância de se encontrar formas de manter o foco do trabalho em um ambiente que tem tudo para gerar distrações.
Os gestores tiveram que manter as equipes unidas e produtivas, mesmo sem se encontrar pessoalmente. O pessoal de tecnologia precisou correr contra o relógio para tentar garantir que todos mantivessem a consciência sobre os cuidados com a segurança e bom uso dos equipamentos corporativos. E, diante disso, o que esperar para um futuro próximo e distante?
Primeiro, é aceitar que a mudança chegou para ficar. Não vamos voltar ao passado, pelo menos não totalmente, e isso significa que as empresas devem fazer morada nessa nova situação, seja no setor corporativo, seja no educacional, seja no comercial.
Segundo, entender que, para poder se relacionar com seus públicos, é fundamental enxergar que os novos perfis são mais fluidos e "menos quadrados", e que as empresas precisam saber lidar com essa "elasticidade".
Por fim, terceiro, não se esquecer de que, junto das empresas, as ameaças também evoluem. Criminosos estão aproveitando o momento de descentralização e de certo temor com assunto da pandemia para gerar todo tipo de ação maliciosa, o que gera uma necessidade ainda maior de se manter vigilante e cuidadoso para garantir a segurança de seu ambiente de trabalho e de sua casa – os quais, ao que tudo indica, devem ser a mesma coisa por muito tempo.
***
Marisa Travaglin, colunista do TecMundo, é head de Marketing da Trend Micro Brasil há mais de 5 anos, tem mais de 20 anos de experiência estratégica e prática em Marketing e Comunicação.
Categorias