Os primeiros smartphones compatíveis com 5G foram anunciados no Brasil — e não são os mais acessíveis. Com chipset Qualcomm Snapdragon 765, o Motorola Edge se beneficia da tecnologia de compartilhamento dinâmico de espectro (DSS) da operadora Claro, apresentada na última quinta-feira (02).
Em 2012, Motorola e Claro lançaram no país o primeiro smartphone compatível com 4G, o Razr HD. O preço, na época, foi R$ 1.999. Hoje, os primeiros dispositivos com modem 5G chegam por R$ 5.499 e R$ 7.999.
Em entrevista ao TecMundo, o diretor de desenvolvimento e negócios da Qualcomm, Helio Oyama, disse que a companhia tem trabalhado para massificar a tecnologia.
Em junho, a empresa lançou o chipset Snapdragon 690. A plataforma, de linha abaixo das séries Snapdragon 7XX e 8XX, também é compatível com 5G e deve atender à faixa de dispositivos intermediários, que aqui no Brasil tende a ser mais popular: "Por isso a gente acredita que, com essa plataforma, pode de forma concreta democratizar [a distribuição do 5G]".
A ideia é popularizar o smartphone 5G para consumidores
"Esteja ele [o consumidor] na Índia ou aqui na América Latina, esse tier de produto, acredito, vai ser muito bem-vindo", disse Oyama. Ele também explicou que "é natural fazer essa incorporação de novas tecnologias em camadas mais baixas com o tempo".
O diretor explicou que a Qualcomm, regularmente, "lança as novidades tecnológicas na camada premium, na Série 8, e depois vai colocando em processadores de famílias abaixo, como na Série 7. E, agora, na Série 6".
Um chipset intermediário potente
Além de trazer o modem-RF 5G X51, o Snapdragon 690 é compatível com o compartilhamento dinâmico de espectro (sub-6 GHz). Em teoria, um smartphone intermediário com o chipset pode ser lançado nessa categoria, mas, como explicou o especialista, quem decide se o aparelho terá o 5G habilitado no fim das contas é o fabricante.
Oyama citou, como exemplo, que o Snapdragon 690 suporta uma câmera de 192 MP, é o primeiro da Série 6 capaz de gravar vídeos em 4K com HDR e suportar telas com taxa de atualização de 120Hz. "Isso não quer dizer, necessariamente, que um fabricante parceiro vai implementar uma câmera com essa resolução", por exemplo. Sobre o 5G, ele disse que "a situação é bem similar".
"No caso do 5G, é uma tecnologia de modem complexa, mas que nós já dominamos. Não é de hoje que a gente trabalha com o 5G, ele é resultado de anos de estudo", afirmou o executivo, explicando que a companhia destina "20% do faturamento bruto a pesquisa e desenvolvimento".
Principais características da plataforma Snapdragon 690, da Qualcomm.Fonte: Qualcomm/Reprodução
Segundo Oyama, o 5G "foi uma das [tecnologias] que nós colocamos em famílias mais baixas de uma forma muito mais rápida do que qualquer outra, a meu ver, no passado". Por enquanto, não existem smartphones de nível intermediário compatíveis com a tecnologia no Brasil; nem o 5G está em funcionamento, com suas redes milimétricas (mmWaves). A estimativa, segundo o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Leonardo Euler, é que o leilão das redes aconteça no primeiro trimestre de 2021.
"Em termos de cronograma, esperamos que ainda em 2020 o leilão ocorra, com o lançamento comercial em 2021. Há a possibilidade de lançar antes? Sim, se a gente implementar o 5G nas bandas existentes do 4G hoje", afirmou Oyama.
Comparando com o cenário externo, a China fechou o primeiro trimestre deste ano com mais de 50 milhões de assinantes do 5G.
Ferraris vs. Camaros
Questionado se um chipset intermediário com 5G não tiraria a atenção das linhas superiores, Oyama explicou que isso não acontece porque "a capacidade e a quantidade de funcionalidades continuam aumentando" nas linhas premium. "Sem apologia a marcas, só para efeito de comparação: uma Ferrari sempre será uma Ferrari, e um Camaro sempre será um Camaro", completou.
"Sempre vai haver, digamos assim, um early adopter que tem um poder de compra. Esse usuário certamente vai continuar comprando o telefone da Série 8", afirmou. No entanto, ao incorporar as funcionalidades recentes na Série 6, a ideia da Qualcomm "é trazer uma experiência ainda melhor para a camada de baixo".
A Qualcomm tem parceiros como Motorola, Samsung, Nokia, OnePlus, Xiaomi, vivo, ZTE e Oppo lançando celulares compatíveis com a tecnologia. Hoje, a empresa conta com mais de 375 SKUs (Stock Keeping Unit ou modelos de dispositivos) utilizando sua tecnologia, divididos entre produtos já lançados e em desenvolvimento. "É um número extremamente alto se você comparar com a introdução do 4G, quando existiam apenas três", explicou.
"Nunca a conectividade foi tão importante"
Atualmente, o mundo vive a pandemia de covid-19, causada pelo novo coronavírus. Temos vivenciado mudanças nos meios de trabalho, entretenimento, ensino, saúde e em praticamente todos os setores, industriais ou não. Ao mesmo tempo, enfrentamos dificuldades na adoção desses novos modelos.
Nesse contexto e da forma como a tecnologia tem se colocado, Oyama defendeu que "nunca uma infraestrutura foi tão importante na sociedade como a conectividade. Agora, é ainda mais necessária essa urgência de termos [o 5G] aqui no Brasil".
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