A discussão sobre a competição de conteúdo de streaming em premiações de cinema e a pressão dos proprietários das salas de exibição sobre lançamentos exclusivos para essas plataformas dividiram opiniões no mercado nos últimos anos, com a onipresença da Netflix nesses debates. O Festival de Cannes, por exemplo, vetou no ano passado sua participação na seleção oficial.
“Roma”, de Alfonso Cuarón, liderou as 15 indicações da Netflix ao Oscar deste ano
A resistência à chegada da companhia que chacoalhou o mercado audiovisual sob demanda e a seara cinematográfica em geral parece estar sucumbindo, não somente devido à qualidade de muitas das produções, mas também às estratégias de distribuição. “Roma”, de Alfonso Cuarón, debutou somente na Netflix e liderou a empresa em seu recorde de indicações ao Oscar: o serviço de streaming foi citado em 15 indicações para este ano, incluindo a de “Melhor Filme”.
O reconhecimento da Motion Picture Association of America (MPAA), que representa os grandes da indústria da Sétima Arte dos Estados Unidos (e do mundo), era uma questão de tempo e aconteceu nesta terça-feira (22). Agora, a Netflix está lado a lado com Walt Disney Studios Motion Pictures, Paramount Pictures Corp, Sony Pictures Entertainment, 20th Century Fox Film Corp, Warner Bros. Entertainment e Universal City Studios.
Cuarón dirigindo o drama "Roma", que tem 10 indicações ao Oscar 2019. Fonte: Netflix
“Juntar-se à Motion Picture Association exemplifica ainda mais o nosso compromisso em garantir a vitalidade dessas indústrias criativas e as muitas pessoas talentosas que trabalham nelas em todo o mundo. Estamos ansiosos para apoiar a equipe da associação e seus importantes esforços”, comentou o COO da Netflix, Ted Sarandos, em comunicado oficial.
Mas o que muda com isso?
Bem, em primeiro lugar, a entrada da Netflix na MPAA é, por si só, uma grande mudança de visão no mercado, que assim abre mais espaços e derruba barreiras com relação aos estúdios que produzem conteúdo exclusivo para streaming — como é também o caso da Amazon e outras concorrentes.
Como a associação trava uma constante batalha contra a pirataria, ela também seria muito útil para a Netflix encontrar melhores maneiras de evitar que seu material seja compartilhado ilegalmente, especialmente via peer-to-peer, a exemplo dos torrents. Nesse quesito, a entrada de uma companhia de tecnologia pode ajudar a MPAA a encontrar métodos mais eficientes e menos agressivos — que não trouxeram os resultados esperados nos últimos anos.
Além disso, a plataforma de streaming agora ganha voz no lobby para grandes decisões no setor e já sinaliza com o aumento de obras originais, incluindo a possibilidade de montar sua própria rede de salas de cinemas.
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