Uma agência que recrutava influenciadores digitais brasileiros no Twitter virou o assunto da rede social no último domingo (26). Após a denúncia de uma das pessoas que colaboraram com o esquema, vários perfis de grande alcance no site foram ligados a postagens suspeitas — e ilegais — sobre políticos.
Tudo começou com a usuária @pppholanda, que agora bloqueou o próprio perfil. Ela publicou uma série de capturas de tela de emails e grupos de WhatsApp mostrando que a agência Lajoy (que teria sido contratada por outra, a BeConnect) entrava em contato com perfis de alto número de seguidores com uma proposta: falar sobre temas e candidatos progressistas durante o período das Eleições 2018.
está passando na sua timeline influenciadores engraçaralhos do twitter que aceitaram dinheiro pra defender um político que eu duvido muito que eles conheciam realmente pic.twitter.com/KIJCJWKuvA
— Mariana (@mareparts) 26 de agosto de 2018
Em seguida, o influenciador recebia instruções no email com o tema e a pessoa a ser enaltecida de forma orgânica, com a linguagem original daquele perfil e sem qualquer indício de que a publicação foi patrocinada. Após postagens sobre Gleisi Hoffman (PT-PR) e Luiz Marinho (PT-SP), a próxima seria a respeito do atual governador do Piauí e candidato à reeleição, Wellington Dias, também do PT. Foi aí que a bomba estourou.
Desvendando o post
Segundo @pppholanda, a promessa original de que pautas progressistas seriam discutidas foi quebrada ao sugerir apenas candidatos do PT, sem deixar claro que a ação era vinculada ao partido. Ao não receber respostas da agência organizadora a respeito dos questionamentos, ela resolveu publicizar o esquema na rede social.
Rapidamente, várias publicações de perfis de alta relevância na rede foram descobertas fazendo elogios nada sutis a Wellington Dias — sendo que os autores não possuem qualquer relação com o Piauí. O assunto mais citado é uma iniciativa de levar internet via fibra óptica a mais cantos do estado.
Aqui o e-mail q eu recebi. Não tinha nada de Lula mas tava escrito BEM CLARAMENTE pra não sinalizar como publicidade. pic.twitter.com/ZuTL1fQpcA
— ale siedschlag (@alesie) 26 de agosto de 2018
Várias das pessoas envolvidas rapidamente apagaram as postagens ou comunicaram que não sabiam que a ação era vinculada ao PT. Entretanto, outras capturas de tela confirmam que a iniciativa envolvia até mesmo o download de um app mobile do partido, o "Brasil feliz de novo".
É ilegal?
A questão aqui é: um partido (ou uma agência contratada por ele) pode pagar influenciadores para fazer campanha? O jornal O Globo apurou que o artigo 24 da resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicada em 2017 é clara quanto a isso: "é vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos políticos, coligações e candidatos e seus representantes".
Em outras palavras, contratar influenciadores para ações já seria crime, assim como solicitar dos contratados publicações enaltecendo candidatos sem avisar que se trata de material promocional.
Vale ressaltar que é bem possível que esse tipo de acordo aconteça com todos os partidos. No caso do esquema descoberto, nem mesmo um contrato era assinado, o que só dificultaria futuras investigações. A usuária @Iracroft fez uma breve explicação sobre o tema na rede social (clique no tweet abaixo para abrir a thread).
Sobre o escândalo com influenciadores sendo pagos para falar dos partidos, algumas orientações:
— Ira Croft (@Iracroft) 26 de agosto de 2018
O advogado do PSDB no Piauí, rival de Wellington Dias, já entrou com uma representação por propaganda irregular. Já o candidato se defendeu alegando que não tem nada a ver com a ação, que seria "de uma moçada da direção nacional" do partido. A BeConnect afirmou ser contratatada apenas para "monitoramento de redes sociais". O PT ainda não se manifestou sobre o caso.
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