Quais os riscos de se expor a serviços como o Sarahah?

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O Sarahah chegou de repente e se tornou uma febre. Quase que da noite para o dia, o app lançado em fevereiro deste ano e que até há algumas semanas era popular apenas no Oriente Médio e no norte da África chegou ao Brasil e virou o assunto mais comentado aqui no TecMundo.

A lógica do aplicativo, que também pode ser usado a partir da web, é bem simples: você cria uma conta e então as pessoas podem deixar mensagens anônimas em seu perfil. Essas mensagens são privadas, então só você pode acessá-las, e não é possível respondê-las, diferente do que acontece em serviços como Curious.cat ou Ask.fm.

Tamanho sucesso, porém, levanta algumas preocupações. Existem riscos em utilizar um serviço como esse? E, para além das imprescindíveis questões técnicas, há ainda um viés psicológico dessa novidade que deva ser levado em conta?

De onde vem? Para onde vai?

Não há nenhuma grande companhia da internet por trás do Sarahah. De fato, não há como saber a quem pertence o domínio sarahah.com porque os seus responsáveis utilizam um sistema de proteção que oculta seu nome e outros dados. Dessa forma, sabemos ao certo apenas o dia em que o domínio foi registrado: 19 de novembro de 2016.

Segundo o site HypeStat, o Sarahah é mais popular no Egito, com 44% dos usuários vindo da terra dos Faraós. Em segundo lugar já estão os Estados Unidos, com 15,8%, enquanto a Arábia Saudita, com 4,8%, fica em terceiro. O Brasil é o primeiro país sul-americano da lista, com 1,8% dos usuários — na América Latina, perdemos para a República Dominicana, com 1,9%.

‘Um campo fértil para o ódio’

Uma avaliadora do Sarahah definiu o serviço como “um campo fértil para o ódio” e o caráter anônimo do app suscitou também reflexões parecidas por parte de outros usuários. Outra avaliação, por exemplo, classifica a ferramenta como “app do suicídio”. Esse é, sem dúvida, um dos pontos mais cruciais dessa experiência.

Se as redes sociais, com obrigatoriedade de identificação, já são povoadas por fakes e pessoas hostis, o que dizer de um aplicativo cuja tônica principal é o anonimato? “Eu não recomendo [o Sarahah] a menos que você queira ser ofendido”, registrou outro avaliador do aplicativo na App Store, e essa avaliação é exemplar quando se fala na amplitude das possibilidades abertas pelo app.

Você pode afirmar rapidamente que “quem não quiser não precisa instalar o aplicativo”, mas a coisa não é tão simples. Nem sempre é possível ter esse discernimento, especialmente as pessoas mais jovens ou aquelas já acometidas de algum problema de ordem psicológico. A condição de anonimato encoraja a hostilidade e o assédio, então, usar o Sarahah pode significar se expor desnecessariamente a comentários e avaliações desagradáveis.

Assim, a dica aqui é exatamente ter isso em mente. Se você abre um canal para que as pessoas se comuniquem com você sem qualquer responsabilidade, esteja preparado para ler os mais diversos impropérios. Caso contrário, o que poderia ser uma brincadeira divertida pode acabar se tornando um grande transtorno.

Segurança e privacidade

A outra questão que não pode ser deixada de lado é a da segurança. Quando escrevi a notícia sobre o sucesso do Sarahah, fiz uma conta para testar o aplicativo e o site e ver como tudo funcionava. Logo em seguida, encerrei o perfil, mas acabei me lembrando de rever algo, assim, refiz a conta usando o mesmo nome de usuário.

Para a minha surpresa, tudo funcionou, o que sugere a possibilidade de reaproveitamento de nomes de usuário por outras pessoas. Lógico que não estamos falando aqui de um serviço de grande utilidade e que de alguma forma pode causar prejuízos caso alguém assuma a sua identidade ali, mas essa característica indica pouco cuidado com a privacidade de seus usuários por parte dos desenvolvedores.

Ficar atento a questões de segurança e privacidade é sempre importante ao usar um aplicativo, especialmente se ele tem origens desconhecidas

Outro detalhe importante é a não necessidade de confirmação de email para criar uma conta. Isso abre brecha inclusive para o uso de emails falsos, o que joga por terra qualquer tipo de preocupação com deixar o ambiente do Sarahah “agradável” para os participantes que ativam a função que só permite comentários de pessoas logadas (mesmo que elas se mantenham anônimas).

O aplicativo e o site contam com ferramentas para denunciar comentários impróprios, mas parece que pouco pode ser feito de fato além de se sinalizar uma mensagem ofensiva, mesmo em casos mais graves envolvendo preconceito racial ou ameaças de morte. E tudo isso não pode ser deixado de lado pelos usuários (e potenciais usuários também) de um serviço como esse.

Você curtiu o Sarahah? Prefere o Ask.fm? Não curte nada disso? Deixa a sua opinião aí nos comentários.

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