A chamada “Grande Muralha Digital” da China, uma referência ao monumento arquitetônico que começou a ser construído em 221 a.C., coloca limites na internet local e já começa a prejudicar as pesquisas científicas no país. Além de evitar que cidadãos chineses acessem ferramentas como Twitter e Facebook, a censura na internet chinesa começa a ameaçar a realização de pesquisas nas universidades.
Tradicionalmente, moradores de países que censuram a internet costumam recorrer às redes virtuais privadas (VPN) para burlar as limitações impostas pelo governo. Isso também acontece na China, inclusive por parte de pesquisadores, mas a recente cruzada contra as VPNs no país asiático pode tornar as coisas muito mais complicadas para todos.
Impacto na academia
Em busca da chamada “soberania do ciberespaço” — ou seja, pelo controle do “território digital” do país asiático —, a China lançou uma campanha de 14 meses para combater as conexões de internet não autorizadas no país. E nisso estão incluídas as VPNs, o que deve dificultar ainda mais a vida de cidadãos comuns e cientistas chineses para acessar serviços básicos como o Google e o Dropbox.
“O impacto [do combate às VPNs] no meu trabalho seria bastante sério”, afirma o professor de química da New York University Shangai, na China, em entrevista ao South China Morning Post. Tal medida dificultaria ainda mais que os pesquisadores recorressem ao Google para encontrar outras publicações de sua área de pesquisa, algo essencial para obter resultados mais precisos durante uma investigação científica.
Sem poder acessar serviços estrangeiros, pesquisadores chineses dependeriam exclusivamente de conteúdo hospedado no país
“O [serviço de busca chinês] Baidu não tem qualquer utilidade para o meu trabalho”, afirmou um pesquisador de uma universidade em Pequim. “Ele é vergonhoso... Sem o Google, a pesquisa e o estudo acadêmico serão definitivamente afetados”, prossegue o cientista, que atualmente usa a estrutura da própria instituição de ensino para burlar a Grande Muralha Digital.
Além de dificultar as pesquisas conduzidas por cientistas chineses, a medida também afetaria o interesse de pesquisadores e profissionais estrangeiros em atuar na China. “Quando parte para tais extremos, você interrompe o acesso básico de professores à informação. Isso será realmente prejudicial aos tipos de trabalhos e indústrias que a China afirma querer fomentar”, defende o professor de economia e negócios Christopher Balding, da HSBC Business School.
Enfim, os ganhos científicos e tecnológicos da China em diversas áreas alcançados nos últimos anos podem se tornar bastante limitados com a censura cada vez maior da internet no país asiático.
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