Ao que tudo indica, a Internet das Coisas (IoT) não apenas chegou para ficar, como deve ditar os avanços na tecnologia cotidiana. Já há muita conexão, se pararmos para pensar: somos capazes de acessar a internet e controlar uma porção de coisas automaticamente usando apenas smartphones e outros dispositivos móveis. Imagine quando realmente todas as “coisas” puderem acessar a rede!
Pois é assim que nosso dia a dia deve ser. Estaremos cercados de dispositivos conectados è internet e, por consequência, interligados. Nessa lista entram geladeiras, fogões, máquinas de lavar, televisores, iluminação e, mais ainda, sistemas baseados em inteligência artificial que vão ajudá-lo a gerenciar tudo isso sem muita dificuldade.
É inevitável pensar, tendo tudo isso em mente, em como o Brasil vai lidar com a implantação da IoT. Levando em conta todas as limitações da tecnologia em nosso país, seja nos preços muito mais altos do que o que se vê lá fora, seja na baixa qualidade da internet móvel disponibilizada para os usuários. Ou seja, essa realidade reúne obstáculos bastante relevantes no contexto brasileiro.
Conversando com quem entende
Para esclarecer um pouco mais a situação da IoT no Brasil, o TecMundo entrou em contato com a Cisco, especializada em mercados de tecnologia como a Internet das Coisas, segurança de domínio e gerenciamento de energia. Questionamos o especialista Giuseppe Marrara, diretor de relações governamentais da Cisco sobre assuntos que vão desde o impacto social da IoT no Brasil até a maneira como o governo pretende implantar essa tecnologia no país.
O Brasil já faz uso de IoT e caminha para transformações que vão possibilitar que áreas como saúde, educação, segurança pública, energia, logística e varejo consigam aplicar IoT com foco na melhoria de processos e relacionamento com cliente
Quando questionado se o Brasil está preparado financeira e culturalmente para receber a tecnologia de Internet das Coisas de maneira mais ampla, Marrara afirmou: “O Brasil já faz uso de IoT e caminha para transformações que vão possibilitar que áreas como saúde, educação, segurança pública, energia, logística e varejo consigam aplicar IoT com foco na melhoria de processos e relacionamento com cliente. Isso trará novas possibilidades de negócios, além de uma comunicação muito mais efetiva com o público. Nenhum país ficará de fora do IoT, mas quem demorar a entrar perde competitividade global e os benefícios sociais que a tecnologia pode trazer”.
O público e o privado na IoT
Imagina-se que existam certas dificuldades diferentes que empresas das esferas privada e pública vão enfrentar na hora de implantar a IoT. Segundo Marrara, “o ponto inicial é responder à seguinte pergunta: O que o Brasil pretende ser? Já podemos ver países como a Alemanha, que escolheu se posicionar como líder mundial em manufatura 4.0. Inglaterra também tem investido continuamente para ser reconhecida como maior centro financeiro da Europa na área de serviços”.
A IoT traz uma oportunidade única de redução de custos e aumento de qualidade dos serviços públicos prestados, então é uma questão de analisar onde investir primeiro e quais são os serviços mais importantes
Marrara prossegue: “O passo seguinte ao responder a nossa pergunta é definirmos um ecossistema de políticas públicas regulatórias que abordem todas as necessidades de infraestrutura na segurança de dados e espectro. Para o setor privado, a IoT traz uma grande oportunidade de aumento de produtividade e eficiência, então o empresário naturalmente investirá ou será superado pela concorrência. Já no setor público, a IoT traz uma oportunidade única de redução de custos e aumento de qualidade dos serviços públicos prestados, então é uma questão de analisar onde investir primeiro e quais são os serviços mais importantes para a população”.
Brasil deve seguir exemplo de países como a Inglaterra, que está usando cada vez mais a IoT no transporte público
As vantagens e o impacto social
Ao longo do tempo – essa mudança não é imediata, mas uma transição gradativa –, a IoT estará inserida na rotina de todos de forma comum. O especialista Giuseppe Marrara afirma que teremos estacionamento que nos informarão a disponibilidade de vaga em determinado lugar, hospitais ou clínicas capazes de já sugerir agendamento de consulta a partir de resultados de exame e até um simples passeio em shopping que conseguirá, por meio do WiFi e do acesso à internet, traçar nosso perfil de tendência de consumo. Tudo isso vai gerar monetização e oportunidade de negócios.
Todos devem se beneficiar com essa tecnologia, mas ela vai impor novos paradigmas de produtividade e eficiência que vão redefinir modelos de negócios
Todos os setores da economia têm potencial de se beneficiar com a IoT, mas setores como agropecuária, manufatura, logística, saúde, educação e energia já estão em processo de implementação a pleno vapor. Todos devem se beneficiar com essa tecnologia, do ponto de vista financeiro ou social, mas ela vai impor novos paradigmas de produtividade e eficiência que vão redefinir modelos de negócios, e quem não entender essa revolução corre o risco de se tornar obsoleto e desaparecer.
Como os mais velhos e a população carente vão conseguir lidar com a tecnologia avançada da IoT?
Cotidiano e inclusão digital
Perguntamos também a Giuseppe Marrara como a IoT vai afetar a vida e a rotina das pessoas e se existe algum projeto de inclusão digital com foco na utilização específica dessa tecnologia. O especialista respondeu que a Internet da Coisas vai “afetar totalmente a rotina das pessoas. Ela atua com a fórmula do Big Data, no acesso às informações, somado ao Analytics, que trabalha tais dados de forma estratégica.
“Com isso, veremos no decorrer do tempo questões do dia a dia, como atendimento hospitalar, compras em shopping, estacionamento e até educação, além de outras, não mais como suposição, mas fato. A IoT já está entrando nas nossas vidas e será uma transição natural para um futuro onde teremos as coisas conectadas a serviço do bem-estar do homem e da produtividade das empresas.
A Cisco possui no Brasil, há 16 anos, o Networking Academy, com ações de Responsabilidade Social na capacitação de profissionais de Tecnologia
“Existem exemplos já presentes em vários lugares: pulseiras para medir o desempenho no esporte, tornozeleiras eletrônicas no sistema prisional, pedágios automatizados, câmeras de monitoramento de segurança e outros. Esses são sistemas embrionários de IoT; muitos outros surgirão e o passo mais importante é o que faremos com esses dados para melhorar a vida das pessoas.
“A Cisco possui no Brasil, há 16 anos, o Networking Academy, com ações de Responsabilidade Social na capacitação de profissionais de Tecnologia. Nossos projetos estão em todo o país e possuem módulos que vão desde Computação em Nuvem até assuntos atuais do mercado, como Internet das Coisas. Assim como a tecnologia – que é nossa veia –, nossa área de conhecimento também é totalmente disruptiva e engajada.”
IoT em escolas e bibliotecas
Estabilidade energética
Fala-se muito em tornar todos os dispositivos mais inteligentes, mas isso acaba deixando as pessoas cada vez mais dependentes do fornecimento de energia elétrica. Perguntamos ao especialista da Cisco se existe alguma dedicação para tornar esse abastecimento mais eficaz ou evitar que percamos o acesso aos dispositivos com IoT.
O próprio sistema de distribuição de energia, através de Smart Grids ou redes elétricas inteligentes, é um grande exemplo de como o IoT entrará em nossas casas
“Esses dispositivos serão alimentados de diversas maneiras, a depender da natureza do serviço que vão operar. Alguns serão alimentados com baterias, outros com energia solar e muitos com energia elétrica convencional. E para aqueles considerados de missão crítica, sistemas redundantes de energia podem ser utilizados”, contou Giuseppe Marrara.
Ele prossegue: “O próprio sistema de distribuição de energia, através de Smart Grids ou redes elétricas inteligentes, é um grande exemplo de como o IoT entrará em nossas casas e garantirá um sistema elétrico muito mais eficiente, econômico, com menos desperdício e fraudes”.
Energia sustentável: crucial para o bom funcionamento da Internet das Coisas
A internet móvel no Brasil e o advento do 5G
A tecnologia 5G vai ajudar o universo IoT, já que permitirá aplicações com maiores velocidades, tráfego de dados e mais agilidade para aqueles serviços que requerem altos níveis de serviço. Porém, é importante entender que não existe uma única rede que atenda a todas as necessidades técnicas e econômicas do IoT. Existirão redes 2G, 3G, 4G e 5G, cada uma com suas peculiaridades e custos, trabalhando em paralelo às redes WiFi, redes cabeadas ou mesmo tecnologias menos conhecidas, como o 6LoPan, por exemplo.
Quaisquer que sejam as redes, elas devem ser interoperáveis, gerenciáveis e, principalmente, seguras
Cada tipo de tecnologia será escolhido com base nas demandas do serviço, nas redes existentes ou aplicáveis àquela área de cobertura e ao custo associado a cada tecnologia (tanto custos de implementação como os de operação). Fundamental é que, quaisquer que sejam as redes, elas devem ser interoperáveis, gerenciáveis e, principalmente, seguras.
Conexões mais velozes e robustas vão colaborar com o avanço da IoT
A Internet das Coisas e o Governo
O governo pretende ser grande aliado e agir em conjunto com a iniciativa privada. Para isso, estão sendo realizadas reuniões de discussão do Comitê da Internet das Coisas para definição da consulta pública. A partir dessa discussão, será definido o que o Brasil quer alcançar e os próximos passos para IoT.
Creio que seja um momento bom para o governo entender as vocações naturais econômicas do país relacionadas ao IoT e agir para estimular o setor privado a investir nessas áreas
Em relação ao usuário final, Giuseppe Marrara disse: “Nossa área de atuação no desenvolvimento de novas soluções e produtos cada vez mais disruptivos e inovadores, possibilitará que a sociedade tenha acesso à IoT de forma prática e integrada. Uma grande importância que o governo traz agora é criar um ambiente regulatório que permita e estimule o investimento por parte do empresariado”.
O especialista prosseguiu: “Creio que seja um momento bom para o governo entender as vocações naturais econômicas do país relacionadas ao IoT e agir para estimular o setor privado a investir nessas áreas. Quanto ao cidadão, ele vai investir quando perceber valor, perceber que aquele dispositivo ou serviço faz sua vida melhor e mais confortável, o que acontecerá em uma transição natural, como se deu com os sistemas de internet banking, por exemplo. Mas, no caso do IoT, veremos a internet participar de diversas outras dimensões da vida das pessoas, seja na educação, na saúde, no lazer, entre outras”.
O secretário de Telecomunicações do MCTIC André Borges sinalizou que o governo tem a intenção de lançar o Plano Nacional de Internet das Coisas
Segurança em primeiro lugar
Não dá para imaginar um mundo de dispositivos completamente conectados entre si sem levar em conta o risco de tudo ser infectado por um vírus ou de o sistema ser invadido por pessoas mal-intencionadas que poderão alcançar uma quantidade de informações muito maior e mais particular. Perguntamos para o especialista da Cisco quais são as preocupações em relação à segurança nesses dispositivos inteligentes.
A natureza distinta de tantos dispositivos, sua quantidade, que se conta aos bilhões, exige um planejamento de segurança muito mais intenso e cuidadoso
“Segurança da Informação será sempre um ponto de preocupação. À medida que novidades tecnológicas surgem e evoluem, as invasões e os ataques seguem o mesmo ritmo. Na IoT, a segurança não pode ser algo adicionado posteriormente aos produtos; na verdade, ela deve ser uma preocupação constante desde o desenvolvimento do dispositivo ou serviço e um atributo absolutamente primordial de qualquer solução”, afirmou Giuseppe Marrara.
O especialista continua: “A natureza distinta de tantos dispositivos, sua quantidade, que se conta aos bilhões, e mesmo por muitos deles não terem uma interface direta com o usuário, exige um planejamento de segurança muito mais intenso e cuidadoso em todo o ciclo de vida da solução. Mas a segurança vai muito além disso, pois, já que muitos desses dispositivos serão simples e com pouco poder computacional, as redes terão um papel ainda mais importante: será responsável por garantir a segurança nesses serviços.
A segurança é de extrema importância para a Internet das Coisas
“A rede deve entender a natureza daquele sensor e bloquear serviços estranhos. Por exemplo, se um sensor instalado no campo tentar comprar algo em um site de e-commerce, isso é obviamente uma fraude ou um erro e a rede deve reconhecer isso naturalmente, segregar esse sensor e avisar sobre essa possível falha. Pelas limitações de porte e custo dos dispositivos, quem assume o papel da segurança é a rede, e isso é uma das transformações que as organizações devem entender”.
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