É que nem chamar lâmina de barbear de Gilette ou palha de aço de Bombril: quando vemos alguém com uma action cam na rua, logo pensamos "Olha, uma GoPro!". Depois de se estabelecer como a principal marca responsável pelas câmeras em miniatura, a fabricante aproveitou anos de sucesso e ascensão na indústria.
Só que essa lua de mel acabou. No último trimestre, o CEO da fabricante, Nick Woodman (que ilustra a imagem acima, com a GoPro na boca) anunciou a queda no faturamento e nas ações, com números abaixo até das previsões mais pessimistas da marca. O resultado? Cerca de 7% do escritório foi dispensado.
Não existe só um motivo que explique a atual situação da empresa, e é verdade que ela pode sair desse buraco em breve. Ainda assim, abaixo você confere como se desenha atualmente o cenário da GoPro e por que o futuro pode ser sombrio.
Inovação contra revolução
Não estamos aqui para contestar a qualidade dos produtos da GoPro. Ela é realmente a melhor no que faz, criou um novo mercado e se estabeleceu como marca. Porém, a GoPro ficou confortável demais na própria linha de produtos e deixou de apresentar revoluções realmente relevantes para o consumidor comum ao longo dos anos.
As câmeras da GoPro se diferenciam em especificações para as quais uma parcela do público pode não ligar, portanto com frequência o consumidor não opta necessariamente pelo lançamento. É claro que é difícil inovar nessa área, mas a falta de funções realmente matadoras pode fazer a GoPro virar “só mais uma” na multidão. Se o rumor de que ela pretende lançar uma câmera 360º para filmagens casuais se concretizar, pode ser que a novidade reabilite a empresa por um tempo.
As ações da GoPro depois do anúncio do corte de custos: essa queda pode ser fatal.
O site Techcrunch fez uma comparação bem interessante, dizendo que as action cams são como tablets: muita gente quer uma, mas pretende adquirir só um modelo e sem tanta expectativa de trocá-lo se comparado a um celular, por exemplo. Quem compra para uso menos intenso vai ficar com o mesmo modelo por vários anos e não utilizar com tanta frequência, sem exigir a atualização para uma nova geração. Assim, uma alta fatia do público já se estabeleceu em uma fase inicial e não está disposta a comprar uma nova unidade — e, a não ser que novos consumidores sejam convencidos, as vendas realmente vão despencar.
Esportes, esportes, esportes
Os vídeos do canal da GoPro no YouTube são sobre esportes radicais. O material de divulgação na loja oficial? Esportes radicais. As notícias sobre alguém usando a câmera para algo impressionante? Também. O marketing inteiro da marca está direcionado para surfistas, ciclistas, paraquedistas e por aí vai. Se você não se encaixa nessa categoria, dificilmente vai gastar com a câmera, já que outras utilidades do produto raramente são citadas.
Não é todo mundo que pode aproveitar a câmera assim.
E, acredite, eles existem. A GoPro pode ser acoplada na frente do seu carro e filmar o trânsito (para o caso de acidentes, por exemplo), fazer timelapses ou curta-metragens cinematográficos, e usar em drones, por exemplo. Aqui, vale novamente a comparação com o tablet: muita gente adora ver conteúdos dele, mas comprar um a ponto de aproveitá-lo o suficiente é outra história.
Erros de estratégia
O mercado de action cams é extremamente limitado e deve ser segmentado aos poucos, com aparelhos ainda mais especializados. Por isso, erros nesta altura do campeonato não serão perdoados — e a GoPro cometeu um bastante grave recentemente. A câmera Hero 4 Sessions foi lançada para ser o modelo de entrada do ano, mas o valor pedido era de US$ 399. Por conta do estoque encalhado, ela sofreu dois descontos: para US$ 299 e, em seguida, US$ 199, seu preço atual.
A Sessions não vendeu o esperado e teve o preço retalhado.
Analistas de mercado já notaram que o público da GoPro, embora fiel, não oferece um grande potencial de lucro para a empresa. Nem toda a base de fãs compra os produtos novos, e vários esperam promoções ou as gerações antigas entrarem em desconto.
Além disso, a GoPro passou o ano de 2015 inteiro sem o lançamento de uma câmera "top de linha". Isso pode significar duas coisas: os fãs mais hardcore da marca ficaram órfãos de um modelo com as melhores funções do mercado ou nem mesmo eles querem mais um modelo anual de action cam. De qualquer forma, uma geração Hero 5 em 2016 pode alavancar novamente as vendas.
A ameaça vem da China
A linha da EKEN, mais barata que a GoPro.
E, por mais que a GoPro faça seu trabalho direito, agora existem pedras no sapato. Algumas são de companhias tradicionais de fotografia, como Kodak e Polaroid, mas os principais rivais atuais são chineses. A Xiaomi lançou um equivalente de action cam por US$ 64, e marcas como EKEN e SJCAM ganham cada vez mais a simpatia do público.
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