Estamos tão dependentes da tecnologia que um mundo sem computadores parece algo impossível para nós. Jornais, revistas, compras, operações bancárias, comunicação e troca de informações, entre muitas outras coisas migraram para o mundo virtual, inclusive os conflitos entre países.
Durante a corrida armamentista da Guerra Fria, mais exatamente nos anos 80, o presidente dos Estados Unidos propôs um mirabolante e caríssimo projeto (curiosamente chamado de “Guerra nas Estrelas”). O objetivo era criar um escudo espacial com satélites artificiais, munidos de equipamentos bélicos para interceptar mísseis.
Se um programa militar desse calibre poderia ser implantado na década de 80, não é surpresa alguma que, quase 30 anos depois, sejam utilizados armamentos e veículos não-tripulados. As novas tecnologias não somente permitem esse ataque à distância, mas uma nova maneira de guerra.
A guerra no ambiente online
Espionagem, vandalismo, manipulação de dados, ataques a equipamentos e a estrutura física. A ciberguerra é uma realidade, mesmo não estando nos holofotes da mídia quanto a outras notícias.
Em 2007, a empresa de informática McAfee declarou que 120 países estavam desenvolvendo projetos para utilizar o ciberespaço como ferramenta para atingir mercados financeiros e sistemas governamentais.
O perigo da guerra online é tão grande que, recentemente, o presidente Barack Obama comunicou a criação do cargo de segurança “ciberczar” para proteger as redes oficiais e privadas dos frequentes ataques aos sistemas de informática do país. Claramente, uma mudança de estratégia.
Suspeito #1: Rússia
Ainda em 2007, a Estônia sofreu uma série de ciberataques que danificaram sites de bancos, jornais, ministérios e até o parlamento. Logo a Estônia, orgulhosa do seu serviço eletrônico eficiente, que permitiu a realização das primeiras eleições nacionais pela Internet. O país encontrou-se em uma situação caótica e o mundo nunca viu um ataque tão devastador.
Os ataques começaram no exato dia em que a Estônia retirou a estátua de um soldado soviético da capital Talim e recolocou-a no cemitério militar fora da cidade. Os descendentes de russos, mesmo representando um terço da população do país, fizeram manifestações nas ruas contra a ação do governo e entraram com a polícia.
Com esse contexto, não é preciso ser vidente para saber que o governo estoniano colocou a culpa na Rússia. E não seria a primeira vez que a sede da finada União Soviética era o alvo das acusações.
Quinta-feira passada, dia 6, Twitter, Facebook e Google sofreram ataques de negação de serviço (DoS, sigla do termo Denial of Service). A intenção do DoS é tornar o serviço indisponível para os usuários através de uma sobrecarga no sistema, forçando-o a se reiniciar.
No dia seguinte, o Facebook declarou que os ataques pretendiam prejudicar apenas um usuário, não as redes sociais afetadas, mas o botnet foi tão intenso que danificou o sistema inteiro. O usuário em questão é um blogueiro da Geórgia, conhecido em vários sites como “cyxymu”.
Giorgi, nome verdadeiro do blogueiro, disse em entrevista ao jornal The Guardian que os ataques serviam para silenciar as críticas do ativista georgiano contra a Rússia e a disputa pela região da Ossétia do Sul. O usuário acredita que os ataques não foram realizados por hackers comuns por causa da extensão do estrago. Sem falar que Giorgi possui um histórico: ano passado, os ataques direcionados a ele afetaram o LiveJournal.
Se você possui conhecimento de inglês, vale a pena ler a carta de Giorgi endereçada ao presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, neste link.
Ciberataque e a guerra: Caso EUA X Iraque
Nessa semana, os jornais americano NY Times e francês LeFigaro informaram ao mundo que o conflito entre do governo Bush e o Iraque também ilustrava o ciberespaço. De acordo com as reportagens, o Pentágono e as agências de inteligência planejaram um ciberataque para congelar as contas bancárias de Saddam Hussein.
Dessa maneira, o sistema financeiro do Iraque estaria defasado e Hussein não teria dinheiro para comprar equipamentos ou para pagar soldados. Então, os Estados Unidos não encontrariam grande resistência para invadir o país.
Com medo de que a crise financeira do Iraque afetasse todo o Oriente Médio, desencadeando um problema mundial, este plano não foi implantado. No entanto, ocorreu um ataque para danificar os sistemas de comunicação do exército e governo iraquianos, horas antes da invasão em 2003.
O ataque resultou em torres telefônicas destruídas, interferência eletrônica e ataques digitais contra as redes de telecomunicações. O que era para afetar apenas o Iraque prejudicou também os países vizinhos que compartilhavam o sinal de cobertura dos satélites.
Os limites de uma ciberguerra
Resumidamente, a ciberguerra utiliza armas capazes de sabotar redes de telecomunicações, mercados financeiros e centrais elétricas, desestruturando um país inteiro em pouquíssimo tempo. Será esse o futuro das guerras?
Uma guerra online é mais barata que a guerra física, é claro. Não precisa deslocar batalhões, não há gasto com armamento, munição, transporte, uniforme todo equipado. Pensando no lado sentimental, as famílias dos soldados não sofrem com a situação e a falta de notícias enquanto eles estão em combate.
Em uma guerra estritamente online, é possível atacar o adversário sem mesmo precisar disparar um tiro. Mas até que ponto é justificável cortar energia, comunicação, transporte de um país através da web, sendo que os civis também são afetados? Dá para imaginar um hospital sem esses recursos, lembrando que a tecnologia ainda não chegou a algumas regiões do mundo?
Seria moralmente aceitável utilizar-se de tal artifício para lançar um ataque a outro país, levando em consideração que invadir sistemas e roubar informações é considerado crime informático? Ou se enquadra na frase “A guerra é uma situação extrema que requer medidas extremas”?
Analisando os argumentos apresentados, qual é a sua opinião a respeito das questões levantadas sobre o futuro das guerras?