Tente se lembrar das suas aulas de geografia e da famosa “Teoria Malthusiana”. Para quem já se esqueceu, essa teoria afirmava que a população mundial cresce de forma muito mais acelerada do que a produção de alimentos consegue suportar. Por muitos anos essa teoria foi rejeitada pelos estudiosos, mas hoje a realidade começa a mostrar que a escassez na alimentação pode ser uma realidade em todo o planeta.
(Fonte da imagem: RosaMundWo)
Pensando nisso, muitos institutos de pesquisa começaram a buscar formas de produzir alimentos sem a necessidade dos habituais processos (culturas de animais ou vegetais). Uma das alternativas que vem se destacando nos últimos anos é a criação de alimentos sintéticos, ou seja, produzidos dentro de laboratórios e dispensando os mecanismos naturais.
Você já pensou em como seria comer uma bisteca criada em tubo de ensaio? Ou então uma costela criada com reações químicas? Pois é essa a culinária que está por vir. Então prepare seus talheres para conhecer um pouco mais sobre as comidas sintéticas do futuro (que está mais presente do que se imagina).
A ciência põe a mesa
A comida artificial já pôde ser vista em vários casos reais. Ainda longe dos pratos da maioria da população, algumas poucas pessoas já puderam experimentar receitas criadas a partir de alimentos desenvolvidos em laboratório, como é o caso de todos que estiveram no lançamento do primeiro prato totalmente sintético do mundo, em 2009.
Pierre Gagneire (Fonte da imagem: Slice of MIT)
No evento, Pierre Gagnaire (um renomado chef de cozinha francês) foi o cozinheiro a preparar as iguarias. Para tal, ele firmou parceria com o químico Hervé This e usou uma combinação entre os seguintes compostos: ácido ascórbico, xarope de glicose, maltitol e ácido cítrico.
Como resultado, Gagneire obteve pequenas bolas gelatinosas que alcunhou como “Le note à note”. Pode ser que elas não estivessem muito bonitas, mas quem provou disse que o sabor delas remetia bastante a maçãs e limões, crocante e cremoso ao mesmo tempo.
Um bife in vitro, por favor!
Nos Estados Unidos, os estudos em busca de carne in vitro (ou “culturada”, como os responsáveis preferem chamar) estão indo mais longe do que se imaginava. Vladimir Mironov, o líder dessa pesquisa, sabe que o desafio é muito maior do que apenas criar carne de maneira artificial.
Para ele, um dos grandes problemas é o tempo que os alimentos levariam para ficar prontos, causando atrasos no abastecimento. Com isso, seria impossível substituir as “carnes naturais” pelas artificiais – pelo menos por enquanto. Fora isso, existem também os problemas ideológicos relacionados à produção da comida sintética.
Vladimir Mironov (Fonte da imagem: Medical University of South Carolina)
Além do fato de que muitos consumidores podem não aprovar a venda de comidas desse tipo (por razões religiosas ou até mesmo por rejeição), também é necessário pensar no quanto custaria essa nova mercadoria. As dúvidas surgem porque é sabido que o valor gasto com as pesquisas deve ser repassado ao consumidor para devolver os investimentos aplicados.
Nota: Vladimir Mironov foi suspenso de seu trabalho, na Universidade da Carolina do Sul e seu laboratório foi fechado. Segundo a assessoria de imprensa da universidade, ele estava sendo pago sem demonstrar resultados satisfatórios. Não há previsão para o fim da suspensão do pesquisador.
Carne de porco ou de tubo de ensaio?
Que tal um pedaço de bisteca? Prefere pernil? Você terá tudo o que quiser! O melhor é que poderá comer tudo sem peso na consciência por estar se alimentando de um animal. Pelo menos é o que cientistas holandeses esperam conseguir produzir nos próximos anos. As experiências relacionadas ao projeto já começaram, mas a carne ainda está longe de ser igual à original.
Ao contrário da carne de porco habitual, os “pernis sintéticos” não são nada rígidos, devido à ausência de exercícios nos músculos imitados. Por isso, as pesquisas continuam a todo vapor e, em breve, os cientistas responsáveis esperam conseguir reproduzir a carne com a mesma textura e sabor da carne animal – o que facilitaria a aceitação do público.
Seria saudável?
Uma questão surge na mente de todos quando se fala em comida artificial: “E os nutrientes?”. Segundo os pesquisadores envolvidos nesse tipo de estudo, os alimentos artificiais podem conter o mesmo grau (ou até superior) de nutrientes oferecidos por comidas comuns. Mas essa questão ainda está em aberto e precisa de comprovações mais concretas.
Atualmente, a utilização de corantes, acidulantes e aromatizantes é questionada por muitos pesquisadores, que julgam esse tipo de prática como nociva ao organismo humano. Por essa razão, muitos temem que os alimentos sintéticos sejam prejudiciais, mas sobre isso também não há provas de que seja verdade. Você pode notar que há muitas contradições entre os departamentos de pesquisa. Somente o tempo poderá mostrar qual dos grupos está certo.
Em breve na sua mesa
Não podemos dizer que há uma data exata para o início da produção de alimentos sintéticos em escala comercial. O que se sabe é que os cientistas estão estudando maneiras de criar comidas que se pareçam não apenas na forma, mas também no sabor e na textura com comidas as quais estamos acostumados a comer.
Eles estão em todos os lugares
Você já leu os rótulos dos produtos industrializados? Quase todos eles possuem corantes ou acidulantes artificiais. Ou seja, são alimentos que ganham mais aroma ou sabor por meio de processos químicos artificiais. Em uma escala inferior, podemos dizer que a alimentação atual já é composta por alimentos artificiais.
Algo também artificial é feito com as “comidas de astronauta”, que são desidratadas para que possam ser levadas ao espaço. Em décadas passadas, isso se aplicava a todo o alimento levado, mas hoje o processo é um pouco diferente. Alimentos sólidos não desidratados podem ser levados, mas são embalados de um modo especial para que aguentem a viagem toda.
Morangos desidratados (Fonte da imagem: Wikimedia Commons/Savant Fou)
Carnes ganham ainda algumas doses de radiação para que sejam conservadas por mais tempo. Já as bebidas continuam sendo desidratadas e pulverizadas. Assim elas podem ser levadas a bordo dos ônibus espaciais e lá são reidratadas com o auxílio de equipamentos especiais.
Por que comer algo artificial?
Vários grupos defendem a utilização de alimentos sintéticos no lugar de naturais. Um dos argumentos mais fortes é o dos defensores da causa animal. Segundo o PETA (People of Ethical Treatment for the Animals, algo como Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais em português), o modo como os animais são abatidos é cruel demais e os frigoríficos tratam a carne como mercadoria comum, esquecendo que cada animal possuía vida.
A mesma instituição está oferecendo 1 milhão de dólares para os cientistas que conseguirem criar uma carne in vitro que satisfaça aos consumidores e possa substituir a carne animal nas prateleiras.
"Carne de laboratório, livre de crueldade" (Fonte da imagem: PETA)
Ambientalistas e grupos vegetarianos apontam para números alarmantes: “Metade da agricultura mundial é voltada para a produção de ração para animais. E a carne dos animais abatidos é acessível a menos de 15% dos seres humanos” (texto retirado da cartilha da Sociedade Vegetariana Brasileira).
Com isso, eles demonstram que a disparidade social se aplica também à mesa da população mundial. Se 50% de todos os vegetais produzidos são destinado a animais que alimentarão apenas 15% da população, os mesmos produtos poderiam saciar a fome de boa parcela das pessoas que estão abaixo da linha da pobreza.
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Agora responda para o Tecmundo: você comeria um hambúrguer sintético? Aproveite o espaço dos comentários para contar também o que você pensa acerca dessas novas tecnologias responsáveis pela criação de alimentos em laboratório.
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