(Fonte da imagem: Business Insider)
A edição do programa de rádio This American Life que foi ao ar no dia 6 de janeiro revela um lado bastante desagradável do mundo da tecnologia. Em uma visita à fábrica da Foxconn na cidade chinesa de Shenzhen, o repórter Mike Daisey descobriu que não é incomum crianças fazerem parte das linhas de montagem, chegando a trabalhar até 16 horas seguidas.
Ao todo, a fábrica emprega cerca de 430 mil pessoas, que têm à disposição somente 20 locais para realizar suas refeições. Cada andar do complexo é constituído por salas imensas nas quais são reunidos de 20 a 30 mil funcionários, responsáveis por montar aparelhos de forma manual. Câmeras espalhadas pelo local garantem o ritmo constante e evitam qualquer tipo de conversa, consideradas “improdutivas” pela empresa.
Trabalho infantil
No local, onde são produzidos aparelhos de marcas famosas como Apple e Samsung, é comum ver crianças dividindo o mesmo espaço com adultos. Perto dos portões externos, vigiados constantemente por guardas armados, Mike Daisey entrevistou uma garota de 13 anos encarregada de polir milhares de displays para iPhone diariamente.
Segundo a jovem, a Foxconn não tem qualquer filtro que impeça a contratação de crianças. Apesar de haver inspeções constantes nas fábricas, a empresa sempre sabe quando elas vão ocorrer – nessas datas, pessoas menores de idade são escondidas e substituídas por trabalhadores mais velhos.
Em um período de somente duas horas fora dos portões da empresa, Daisey conheceu diversos funcionários com idades entre 12 a 14 anos. Independente da idade, todos eles são forçados a encarar turnos de trabalho de 12 horas – que geralmente se estendem até 16 horas, especialmente próximo do lançamento de um novo produto. O pagamento de horas extras é algo totalmente desconhecido no local.
Trabalhadores sem qualquer direito
Após visitar a fábrica da Foxconn, Mike Daisey entrevistou dúzias de ex-empregados, que se reúnem secretamente em um sindicato clandestino – agrupamentos do tipo são considerados ilegais no país. Entre os relatos chocantes ouvidos pelo repórter, está o de um grupo que fala sobre o hexano, um solvente usado pela empresa na limpeza de telas de smartphones que funciona como neurotoxina.
(Fonte da imagem: Jordan Pouille)
Alguns dos antigos trabalhadores relatam que, após terem perdido o controle de suas mãos devido à realização de atividades repetidas, foram demitidos pela companhia sem receber qualquer espécie de compensação em troca. Funcionários que tentaram lutar pelos seus direitos foram colocados em uma espécie de “lista negra” e taxados como “problemáticos”, situação que os impediu de serem contratados por qualquer empresa da região.
Outra história parte de um homem que teve uma mão esmagada enquanto trabalhava em uma prensa de metal da Foxconn. A empresa não lhe deu qualquer espécie de suporte médico, o que fez com que o membro perdesse todos os movimentos, resultando na demissão do trabalhador.
Tudo em nome do lucro
Apesar de empresas como a Apple afirmarem que estão vigiando de forma constante as condições de trabalho em suas fábricas, o relato do This American Life torna difícil acreditar nas boas intenções dessas companhias. Afinal, não é a primeira vez que reportagens do tipo revelam as condições absurdas adotadas pela Foxconn e outras empresas chinesas.
(Fonte da imagem: Jordan Pouille)
Mesmo sabendo das condições terríveis dessas fábricas, as empresas continuam mudando suas plantas de produção para o país devido ao baixo custo de cada funcionário. Ao contrário de países como os Estados Unidos ou membros da União Europeia, a China não possui leis que garantam direitos aos trabalhadores, tampouco exige o pagamento de salários elevados.
Produzir produtos em países que protegem os trabalhadores significa mais custos, o que se traduziria em eletrônicos com preço de venda muito maior do que o atual. Continuar assim é algo vantajoso para as empresas e para os consumidores de países ricos, mas não para as pessoas que passam 16 horas em uma linha de montagem e nunca terão como comprar aquilo que constroem.
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