A situação é clássica. Você se reúne com os amigos no final de semana e alguém coloca um game de luta para divertir a galera. Em algum momento das brigas, o “malandrão” da turma descobre os botões mágicos e não para de soltar habilidades no rosto do coleguinha. A infeliz vítima, sem reação, só grita por piedade e fala o quanto ele é “apelão” enquanto perde a partida.
Tirando a situação que é capaz de destruir amizades, convém perguntar: será que existe mesmo a famosa “apelação” que muitas pessoas gostam de expor em situações assim? Ou será que você ainda não encontrou o jeito certo de contra-atacar aquele movimento do adversário? A resposta foi estudada há muito tempo atrás pelos maiores teóricos dos games de luta — estes que passaram por anos e mais anos na busca incansável por ataques e contra-ataques em séries clássicas como Street Fighter.
A conclusão é bem clara: não existe “apelação”. Em games equilibrados, há maneiras eficientes de esquivar, revidar ou superar os movimentos do adversário. Você só não está adaptado para fazer isso acontecer — ainda. Com um bom treino, é possível descobrir como ultrapassar tal barreira que antes parecia tão impossível ou extremamente poderosa. E pode até achar graça no quão vulnerável ela é.
Em casos específicos — e este é um ponto valioso no desenvolvimento de um jogador —, seu personagem não conta com muitas opções que respondem os movimentos do personagem adversário. Mas há outros pontos que equilibram a equação. Zangief não derrota Ryu em longa distância. Mas, com paciência e uma aproximação calculada frente à chuva de Hadoukens, os “agarrões” do lutador russo arrancam pedaços esmagadores da vida do adversário. Você só precisa encontrar as brechas no inimigo.
Esta é a situação em jogos equilibrados. No entanto, durante a história dos games de luta, os jogadores já encontraram situações que desmancharam o conceito de “equilíbrio” num piscar de olhos. Akuma, em Street Fighter 2, conta com um movimento que nenhum outro do jogo é capaz de revidar, tornando ele impossível de contra-atacar com os demais personagens do jogo. Para evitar que todos os campeonatos fossem vencidos pelo mesmo personagem, a comunidade optou por banir ele de qualquer competição.
Em games equilibrados, há maneiras eficientes de esquivar, revidar ou superar os movimentos do adversário. Você só não está adaptado para fazer isso acontecer — ainda.
Na história, é possível observar que o conceito de “equilíbrio” também é relativo. Com a chegada de Marvel vs. Capcom 2, a comunidade descobriu que cerca de quatro heróis eram estupidamente mais fortes e mais eficientes que todos os demais do jogo. Sentinel, Storm, Cable e Magneto contam com tudo que um jogador sempre sonhou: magias que cobrem a tela, combos beirando o infinito e assistências capazes de destruir a estratégia do adversário. A adaptação da comunidade, nesse caso, foi bem mais curiosa.
Ao invés de usar o “ban” como solução, os jogadores começaram a formar combinações ao redor desses personagens. Eles também descobriram que, mesmo fortes e “quebrados”, os heróis ainda estimulavam confrontos “justos” entre eles. Pense em dois jogos diferentes: um com todos os 56 personagens e outro, dentro do primeiro, só com 10 personagens brutais e poderosos. Os torneios envolviam o segundo exemplo, e mesmo assim eram divertidos e extremamente competitivos.
Mas, se voltarmos para a partida do final de semana, talvez a palavra “apelação” combine melhor para o momento. Ali reina a diversão e só o seu orgulho está em jogo, então vale a pena gritar "apelão" ao lado de uma das 30 desculpas clássicas dos jogadores. Mas, por dentro, você sabe que sempre há maneiras de vencer o adversário. Em um mundo cada vez mais disputado pelos eSports, os estúdios estudam a fundo e evitam um game desequilibrado quando há cada vez mais dinheiro na jogada.
O jeito mesmo é mergulhar no game e descobrir como vencer. Nem que você use o feitiço contra o próprio feiticeiro ou passe por horas de meditação com os deuses orientais dos video games.
O Match Point é um espaço no TecMundo e no TecMundo Games dedicado para discutir o eSport e os games competitivos toda sexta-feira, trazendo também estratégias, curiosidades, campeonatos e jogadas inesquecíveis dos mais diversos títulos. O colunista Maximilian Rox acompanha o cenário há mais de oito anos como jogador, redator, manager e entusiasta por toda essa trajetória. Já foi chamado como o “apelão” da mesa.
Replay da semana
Para honrar a coluna cheia de games de luta nessa semana, vou sugerir alguns replays dos melhores jogadores atuais de Street Fighter V.
Seth Killian, um dos ex-competidores de Street Fighter e desenvolvedores mais reconhecidos dos games de luta, deu uma dica fundamental para entender como funciona uma partida entre dois jogadores profissionais. Não olhe para o que eles fazem — observe o que eles não fazem.
Geralmente, eles só não querem entregar brechas para os adversários. Ou, em muitos casos, eles realmente sabem que aquele movimento não é a melhor opção para um determinado momento. Fica a dica para olhar criticamente cada uma das partidas.
- SFV: Daigo (Ryu) vs. PoongKo (Cammy)
- SFV: PR Balrog (Balrog) vs. PRO7OTYPE (Alex)
- SFV: Daigo (Ryu) vs. Moslite (Guile)
- SFV: Itazan (Zangief) vs. SAULABIS (Rashid)
Publicações anteriores:
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