A tecnologia caminha numa velocidade que exige um radar ligado em ritmo frenético. Tecnófilo de plantão ou não, você certamente tem alguma afinidade com as traquitanas que brotam por aí, e os smartphones – também conhecidos como “celulares” –, bem, representam um status de suma importância para os atuais padrões estéticos.
Afinal de contas, diga lá: você adora mexer no seu iPhone (mexer, pura e simplesmente, sem necessariamente executar alguma tarefa), fuçar no seu Android, explorar os aplicativos do Windows Phone, detectar as funções multimídia que cada aparelho tem, escutar música, procrastinar no WhatsApp ou no Viber (e seja bem-vindo de volta, ICQ), jogar, tirar e editar fotos etc. A multifuncionalidade é a principal característica de um dispositivo atual.
Nos tempos de pedra...
Antigamente, as coisas não eram bem assim não. É comum parar para refletir e falar a si mesmo: “nossa, ainda bem que estou ativo agora, nesta época, pois tudo era um tédio antes”. E o pensamento é válido. No entanto, calma lá! A antiguidade tem suas vantagens – e acredite, muitas delas fazem falta nos dias de hoje. Cadê a durabilidade? O revestimento resistente? A autonomia? Vantagens e desvantagens existem nos dois lados – e sua mãe nunca esteve tão certa quando disse que “ah, essas baterias não duram nada!”.
Nós devemos escutar melhor a sabedoria delas. E por “nós” eu quero embutir as marcas, que fomentam um mercado cada vez mais competitivo (aliás, obrigado por existir, concorrência) e focado em multifunções. Algumas empresas pregam a maior durabilidade das baterias com números audaciosos de amperes, mas convenhamos: a bateria do seu celular dificilmente dura mais que um dia. Isso se você não tiver derrubado o aparelho no chão, é claro. Mesmo que a superfície seja de seda, o risco de trincar a tela é grande. Dura e crua realidade, mas é isso aí: fragilidade “a mil”.
E pensar que o StarTac, da Motorola, foi a sensação mais linda do mundo um dia... Ao menos, existem algumas utilidades que esses dinossauros do mundo móvel têm. Peso de porta? Descanso de copo? Bem, essas são coisas que vivem em nosso imaginário, mas, na prática, poderiam perfeitamente se encaixar na realidade. Veja que disputa acirrada existe em celulares antigos vs. celulares novos!
Autonomia: antigamente, quatro dias em plena disposição; hoje, um dia morrendo
Esse é talvez o fator mais protuberante da comparação entre celulares antigos e aparelhos novos: a durabilidade da bateria. É claro que os aparelhos de outrora são muito mais limitados do que os atuais em termos de funcionalidade.
Afinal de contas, busque na sua memória: o que mais dava para fazer nos dispositivos jurássicos além de falar ao telefone, jogar Snake, Tetris e mandar mensagens? Alguns se divertiam imaginando pixels perdidos na tela, acredite. Pelo menos, os entusiastas podem se gabar disso: durabilidade. Às vezes, quatro ou cinco dias não eram suficientes para esgotar a bateria dos aparelhos, mesmo utilizando-os a esmo.
Já hoje, bem... Se você acordar e atravessar toda a sua rotina (e hoje em dia isso é uma odisseia) com o celular plenamente “acordado”, que sorte. Você foi o escolhido. Conforme mencionado, sim, há milhões de aplicativos e outras tarefas pesadas a serem executadas, mas também não há uma solução no longo prazo que acompanhe isso em termos de mudanças nas baterias. As novas ficam ofegantes perto das antigas. Fato.
Resistência vs. fragilidade: um é ferro, outro é seda
Jaz aí outra característica marcante dos “tijolões” do passado: resistência física. O fator durabilidade, portanto, não se aplica somente às baterias, mas também às carcaças dos celulares antigos. Talvez Mike Tyson tenha participado do desenvolvimento desses materiais.
O engraçado é que, com isso, jamais pensaríamos em usar esses trambolhos para outras funções que não as ligações. Eventualmente, usávamos os “joguinhos”, como assim eram chamados. Atualmente, a indústria adora defini-los como “experiências”. O fato é que, para bem ou para mal, hoje em dia esses pedregulhos podem se transformar em enfeites exóticos, pesos para porta ou até mesmo ferramentas para trincar superfícies. E isso, vejam só, não é uma crítica, tampouco uma ironia: é um elogio. A resistência dos aparelhos antigos nem se compara à fragilidade dos atuais, que racham com um assopro.
Comunicação: lembram-se do Bip? As mensagens em SMS estão quase chegando lá, lá naquele lugar chamado esquecimento
Daqui a pouco, a palavra “torpedo” vai ser suprimida do nosso vocabulário. Com que frequência você usa o termo? É só parar para refletir e constatar que quase nunca (ou nunquinha mesmo).
Quando a prática dessas mensagens estava em alta, costumávamos falar SMS. Mas, antes deles, um outro serviço garantia que as mensagens chegassem aos destinatários: os recados de voz por Bip! O saudoso Bip, lembram-se dele? Um dos meios de comunicação mais impessoais da década de 1990. Para quem não usou um desses, vai um breve refresco: era um aparelhinho que recebia mensagens de texto apenas, contendo somente um visor e um ou outro botão.
Mas o mais inusitado era a forma pela qual os usuários enviavam suas mensagens. Era necessário ligar para um serviço, conversar com um atendente, ditar o seu recado e solicitar que ele fosse enviado para um determinado número. Exatamente: alguém escutava tudo e até pedia para você repetir quando não entendia algo. Você basicamente conversava com um estranho e pedia a ele que enviasse sua mensagem ao número do Bip de alguém.
Depois, vieram os torpedos, também conhecidos como SMS, conforme mencionado, e agora temos WhatsApp, Viber e afins. Vantagens e desvantagens? Prefiro que o tempo responda.
Entretenimento: a simplicidade de Snake ou Tetris vs. a atual complexidade
Se havia algum protagonista para exaurir a bateria do seu trambolho da década de 90, esse alguém era um dos joguinhos antigos. A prática de jogar era tão frequente quanto nos dias de hoje – todos sempre curtiram um “vício” mobile, em especial os brasileiros.
Snake e Tetris eram, de longe, os maiores ícones daquele período. Hoje, temos jogos do calibre de Temple Run, Hearthstone, Asphalt e tantos outros reinando em nossos celulares. Por mais que esses games atuais preguem a simplicidade e sejam voltados para a massa, não há como negar que a interface deles contém muito mais elementos, os gráficos beiram aquilo que vemos nos consoles e a execução de comandos, por tabela, exige mais reflexos. Digamos que cada jogo se adequa à sua época, e nós nos adequamos às tendências do presente, mas diga lá: botar Snake e guiar a cobrinha usando o teclado numérico não tem preço!
Hoje, a complexidade técnica chegou a níveis exorbitantes, com renderizações ultrarrealistas do Unreal Engine em celulares, deixando os dispositivos com gráficos quase que de PC, dadas as devidas limitações, é claro. Mas o negócio é um cubo mágico perto da simplicidade do passado.
Praticidade: antigamente, “pesos de porta”. Atualmente, aparelhos à prova d’água, ou seja, descansos de copo
A estética dos aparelhos é uma das principais “vítimas” da metamorfose pela qual a indústria passa. Repare que, neste texto, eu tratei os objetos do passado como “trambolhos” ou “tijolos”. Mas esperem: os atuais também estão bem grandinhos, não? A moda do “mini” passou, e as marcas perceberam que os consumidores gostam de retângulos enormes em seus bolsos.
Dito isso, a única comparação que podemos fazer aqui, em termos de design físico, diz respeito às dimensões mesmo. Os aparelhos antigos eram mais “gorduchos” e pesados. Os atuais são mais “magros” e leves – mas vejam só, ficaram mais “altos”. E essa altura só tem aumentado. Vide o padrão de 5 ou 6 polegadas (quando não mais) de diversos smartphones da moda. Se antes tínhamos pesos de porta, hoje temos descansos de copo, já que muitos dispositivos do momento são à prova d’água. Eles estão na crista da onda e são ideais para você perder o medo quando estiver no banheiro fazendo número 1 enquanto usa o WhatsApp. Se cair ali no gol, a vida continua!
Claro que esses são apenas alguns exemplos da divorciada relação que os celulares antigos têm com os atuais. Se bem que é melhor classificar essa relação como uma separação amigável mesmo, e não necessariamente um divórcio – pois vocês viram, há vantagens e desvantagens para os dois lados, para cada época. Cada qual se adequa ao seu público.
E todos nós, à medida que evoluímos com a tecnologia, devemos ter paciência para ensinar nossas mamães e vovós a mexerem nos aparelhos. As minhas rapidamente viciaram nos emoticons. Eu só torço para que nenhuma delas jamais pense nas práticas acima...
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Atenção: este artigo faz parte do quadro "Erro 404", publicado semanalmente no Baixaki e Tecmundo com o objetivo de trazer um texto divertido aos leitores do site. Algumas das informações publicadas aqui são fictícias, ou seja, não correspondem à realidade.
Ilustrações por Andre Tachibana
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