Um incrível sistema operacional que foi criado para integrar todas as plataformas existentes. Notebooks, desktops, tablets, smartphones, video games e geladeiras funcionando em um mesmo intuitivo, bonito, leve e integrado sistema. Parece um conto de fadas, não é mesmo? Pena que isso tudo não passa de uma ilusão, pois a verdade é muito mais dolorosa – eu, como todo gênio da tecnologia e do drama, poderia dizer que ela tem requintes de crueldade.
O Windows 8 destruiu minha vida social, acabou com meu casamento e fez com que eu perdesse o emprego. Por causa disso, fui obrigado a vender minha casa, tive o dinheiro roubado e acabei morando embaixo de uma ponte – que acabou desabando porque foi projetada com um AutoCAD pirata. Se hoje estou aqui, dando meu testemunho, é porque o Windows XP me salvou.
O dia em que a Terra parou
Era outubro de 2012. Todos esperavam que o mundo acabasse em poucos meses, mas a verdade é que ninguém realmente acreditava nisso. A Microsoft lançou o Windows 8 no mercado e o mundo parou. Eu lembro que eu estava em uma das primeiras posições da fila da Microsoft Store (acredite, elas vão existir), aguardando ansiosamente para comprar a minha cópia.
Finalmente as portas se abriram e todos ali mostraram o quanto eram civilizados – correria, empurra-empurra e algumas pessoas pisoteadas – para pegar seus discos. Assim que paguei, fui ao estacionamento e peguei meu jetpack para voltar para casa – quem vai cair nessa? É claro que era só uma mobilete. Entrei em casa correndo e instalei o sistema em questão de minutos.
"O primeiro logon a gente nunca esquece". Aquele som lindo do Windows sendo inicializado pela primeira vez ainda mora em minha mente. Só quem já utilizou o Windows 8 sabe como aquela interface Metro pode ser maravilhosamente – eu diria mais: perfeitamente – e envolventemente confusa. Confesso que demorou um pouco para eu achar aquele software que a gente usa para baixar o Firefox.
Professor de Windows 8
Como eu já disse anteriormente, sou um gênio da informática, do drama e da literatura húngara – não que esses dois últimos importem nessa história, mas eu gosto de falar sobre isso. Então, para mim foi muito fácil aprender a mexer com o novo sistema operacional que eu tinha acabado de instalar. O problema é que em menos de três horas eu já havia sido procurado para instalar o mesmo em DOZE computadores.
"Se eu ganhasse 1 real para cada vez que sou genial, já teria dinheiro para comprar um gorro de lã!"
(Fonte da imagem: iStock)
“Mas de onde tantos computadores?”. Bem, você sabe como são as mães. A minha achou a interface Metro bonita e quis pra ela também. Depois foi a vez de minhas duas tias, quatro primos, dois vizinhos, a vó do sobrinho do meu amigo e a irmã do cunhado do cara que corta a grama lá de casa.
Se fosse só isso, não haveria problema algum. Mas é claro que nunca é apenas “instala pra mim”. Sempre vem o “Como eu mexo no Google?”, o “instala o Photoshop pra eu fazer GIF de final de semana” e o temido “como faz um Facebook?”. Depois de tudo isso, voltei para casa doido para instalar novos games no computador.
“Filho, como desliga esse troço?”
Minha mãe já usava computadores antes de eles se desligarem sozinhos (você não deve saber, mas era necessário apertar um botão para interromper o fornecimento de energia deles). Por essa razão, fiquei surpreso ao ouvir ela perguntando como é que o novo Windows poderia ser desligado. O pior foi perceber que todo o meu conhecimento não valia de nada naquele momento, porque eu também não achava o botão correto.
“Mãe, me traz uma bebida especial de macho adulto e independente enquanto eu vejo isso daqui!”, foi o que eu disse. E, enquanto ela ia até a cozinha, eu acessei este artigo do Tecmundo e aprendi a desligar o novo Windows rapidamente. Quando ela chegou com meu chocolate quente, foi só mostrar o modo correto de desligamento e continuar com minha reputação inabalada.
E tudo começa a dar errado
De repente, percebi que estava perdendo muito tempo da minha vida ensinando as pessoas a usarem o novo Windows. Várias vezes, enquanto estava no trabalho, meu celular tocava com minha mãe desesperada para saber como abrir algum aplicativo na interface Metro. Isso sem falar nas vezes em que ela “perdia” o novo Windows, indo parar na interface comum do Windows 7.
"Boa, champz! Baixa um HD novo aí!" (Fonte da imagem: iStock)
Perdi as contas do número de vezes em que eu tive que falar para ela: “É só apertar o Windows do teclado”. Comecei a ficar paranoico com aquilo, não conseguia mais olhar para a interface Metro sem ter vontade de dar um tapa (com uma cadeira em chamas na beira de um precipício) na cara de quem me pedisse alguma ajuda. E isso durou até o dia em que meu chefe pediu pra eu baixar um HD de 1 TB no Windows novo dele.
Surtei...
Respirei fundo, levantei da cadeira, peguei minha blusa, caminhei lentamente até a saída do escritório, entrei no carro, gritei o mais alto que podia, saí do carro, caminhei lentamente até a entrada do escritório, coloquei minha blusa de volta na cadeira, respirei fundo novamente e voltei a trabalhar... Por 10 minutos. Ele voltou e disse que queria um banner. “Você entende de computador, faz aí pra mim!”.
"Saia daqui e vá pedir pro seu sobrinho!" (Fonte da imagem: iStock)
“EU NÃO SOU DESIGNER E NÃO VOU FAZER NENHUM BANNER, SEU MUQUIRANA!”. Foi uma demissão por “justa causa”, mas eu prefiro dizer que foi por uma “causa justa”. Voltei para casa pensando em aproveitar para descansar por pelo menos um mês, mas minha mãe e o Windows 8 novo dela não me deixavam em paz.
Decepção, depressão e fuga
O fim do mundo foi quando ela chegou com uma geladeira nova lá em casa. “Olha, filho! Tem Windows 8”. A interface Metro não ajuda a fazer gelo, mas fez minha alma ficar gelada. Eu me sentia a Cruela Cruel cercada de dálmatas fofos. Tudo aquilo era incrível, mas eu só queria que nada existisse. Depois de mais um surto, decidi que era hora de sair da casa da minha família.
"Eu me sentia derrotado" (Fonte da imagem: iStock)
Fui morar no apartamento que tinha comprado alguns anos antes. Sem tecnologia, apenas com paredes e teto. Só que não demorou para eu perceber que minhas economias estavam se esgotando. Só me restou vender o apartamento e ir morar nas ruas. Como eu disse no começo da história, a ponte em que estava hospedado desabou. Fiquei sem abrigo.
Superando todas as dores
Felizmente, uma luz apareceu no fundo do meu túnel. Enquanto caminhava triste pelo centro da cidade, encontrei um disco abandonado do Windows XP. Aquela foi a minha salvação. Voltei para a casa da minha mãe, pedi desculpas e instalei o Windows XP em todos os computadores de lá. Aproveitei para fazer o mesmo na casa de todos os conhecidos... Eu estava salvando o mundo.
Hoje, eu faço parte de um grupo de apoio aos revoltados com os novos sistemas operacionais. Nós trabalhamos resgatando jovens da depressão e os trazendo de volta para o mundo do Windows XP. Peço desculpas por estar incomodando a viagem de vocês, mas se vocês puderem colaborar com qualquer quantia, eu vou estar deixando esta caneta e este chaveirinho para vocês.
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Atenção: este artigo faz parte do quadro "Erro 404", publicado semanalmente no Baixaki e Tecmundo com o objetivo de trazer um texto divertido aos leitores do site. Algumas das informações publicadas aqui são fictícias, ou seja, não correspondem à realidade.
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