A Power Line Communication – ou PLC – é uma das maiores promessas no que diz respeito a uma maior difusão das redes de banda larga disponíveis no Brasil. Através desta tecnologia, os sinais de telecomunicação utilizam o mesmo meio físico que a energia elétrica para se propagar, sem que um cause nenhum tipo de interferência no outro. Isso porque estes sinais operam em frequências diferentes: 50 e 60 Hz para a energia elétrica e 1 a 30 MHz para a conexão PLC.
O portal Baixaki já produziu alguns artigos sobre esta tecnologia revolucionária: “Banda Larga na Tomada!” dá algumas informações sobre como esta rede funciona e em quais locais poderá ser aplicada. Já o artigo “Power Line Communication: a rede na tomada” se aprofunda mais no assunto e traz informações detalhadas sobre como esta tecnologia pode ser implementada e locais do Brasil onde já está sendo testada.
Preocupados em trazer sempre as informações mais recentes aos nossos leitores, entrevistamos Tassilu Faria, técnico em telecomunicações da Companhia Paranaense de Energia – Copel, que esclareceu uma séria de dúvidas relativas à nova tecnologia, além de falar sobre os testes realizados na cidade de Santo Antônio da Platina. Abaixo você confere o resultado deste bate-papo.
Requisitos para que a tecnologia funcione de maneira correta
Uma das grandes vantagens da PLC é que a tecnologia funciona transmitindo dados de telecomunicação através do mesmo fio utilizado pela rede elétrica, presente em 95% das residências do Brasil. Ou seja, não é preciso passar nenhum tipo de cabeamento para que a rede seja capaz de chegar até a casa do usuário. Porém, não pense que basta simplesmente conectar o modem específico na tomada para começar a pegar o sinal: uma série de etapas é necessária para que a PLC possa ser utilizado corretamente.
Segundo Faria, antes de tudo é preciso instalar um modem PLC conhecido como Master na rede elétrica secundária de baixa tensão: os transformadores, vistos com frequência nos postes de luz espalhados pela cidade. No estado do Paraná, cada um desses transformadores é responsável por fornecer energia a 50 residências, em média – e, somente após o Master ser instalado, o sinal PLC é transmitido.
É preciso levar em conta que a Power Line Communication depende da qualidade tanto da rede pública externa quanto da qualidade da rede elétrica interna de cada residência. Resolver os problemas na rede externa é tarefa fácil: basta trocar conectores defeituosos, emendas mal feitas e filtrar a iluminação pública para que tudo funcione corretamente.
O maior problema está nas próprias residências: é muito comum encontrar redes elétricas feitas com produtos de má qualidade, ligadas de forma errada ou simplesmente mal projetadas. Nestes casos o sinal PLC pode sofrer uma série de interferências que podem impedir seu funcionamento. Corrigir os problemas encontrados é essencial para a boa transmissão de dados, além de diminuir problemas com a rede externa e tornar a residência mais segura.
Testes para tornar o PLC viável
Desde abril de 2009, a Copel está testando a tecnologia em 90 residências localizadas na cidade de Santo Antônio da Platina, região do Norte Pioneiro do Paraná, com resultados satisfatórios. No que diz respeito à velocidade da conexão, foram detectadas taxas que variam entre 3 e 33 Mbps, com uma média de 20 Mbps, valor superior à maioria das alternativas hoje disponíveis no mercado.
Uma das vantagens da Power Line Communication em relação aos demais tipos de conexão disponíveis atualmente é que o usuário não precisaria pagar por um plano de dado fixo que determina a velocidade de acesso e o limite de banda a ser utilizada. Cada usuário paga somente pelo o que realmente consome, utilizando sempre a maior velocidade de conexão disponível no momento.
“Se for fazer uma analogia com água, você está pagando pela grossura do tubo, não pela quantidade de água que consome”, diz o técnico em telecomunicações Tassilu Faria sobre os planos de banda larga disponíveis atualmente. “A cobrança de internet deve ser pelo volume de dados que a pessoa utiliza, não pela velocidade contratada. A velocidade tem que ser a maior possível”, complementa.
Apesar de os resultados obtidos até agora terem sido satisfatórios, Faria afirma que ainda é muito cedo para pensar em implementar a rede em escala comercial ou falar em valores que o consumidor final poderia pagar pelo serviço. Segundo ele, atualmente a Copel está na fase de testar qual a melhor forma de implementar a tecnologia: primeiro é necessário saber quais procedimentos tomar e a melhor forma de resolver problemas que surgem, ao mesmo tempo em que se procuram soluções que diminuam os custos e facilitem a instalação.
Um exemplo de desafio enfrentado durante os testes em Santo Antônio da Platina está relacionado à interferência causada pelo uso de lâmpadas fluorescentes em residências onde a PLC está presente. A primeira solução encontrada para resolver o problema foi a instalação de filtros em cada lâmpada, um processo que se mostrou inviável, pois a variedade de filtros disponíveis no mercado, tanto os nacionais quanto os importados, costumam ter um preço elevado.
A segunda solução para o problema surgiu através de um fabricante capaz de produzir luminárias com reatores que não geram ruídos na rede elétrica. Porém, a solução que se mostrou mais fácil e barata foi utilizar ferrites – encontrados normalmente em fontes para notebook ou cabos para a transferência de dados em câmeras digitais-, que podem ser feitos de maneira simples por qualquer eletricista com um pouco de experiência. Para quem não sabe, ferrite é um material ferro-magnético responsável por evitar a propagação de ruídos durante a transmissão de dados.
É este o tipo de desafio que a equipe da Copel enfrenta com o objetivo de descobrir soluções para que a Power Line Communication se torne uma opção viável de conexão quando comparada às redes disponíveis atualmente, seja através de linha telefônica, cabo ou Wi-Fi. O atual enfoque da pesquisa é buscar soluções para os problemas que surgem e formas de facilitar o percurso do sinal, tornando a instalação tão fácil quanto a de uma linha telefônica ou ponto de TV a cabo.
Novas etapas de testes
A previsão inicial é que os testes realizados em Santo Antônio da Platina terminem em dezembro de 2009: baseada nos resultados obtidos, a Copel deve determinar se o período será prolongado ou se já é possível partir para a segunda etapa de testes, que envolve um piloto comercial, com cidade que ainda deve ser determinada.
Nesta segunda etapa de testes, o foco é outro: enquanto em Santo Antônio da Platina quem pode testar a Power Line Communication fez isso em caráter voluntário, para entrar na segunda fase será necessário pagar pelo serviço, como se o usuário estivesse contratando outro serviço de conexão qualquer. O número de usuários também aumentaria de 90 domicílios para cerca de dez mil residências diferentes.
Esta nova etapa é necessária para testar a rede disponível em uma nova relação de exigência entre o fornecedor do sinal e os indivíduos que recebem a PLC em casa: em vez de voluntários, a Copel terá de lidar com consumidores reais, que são mais exigentes no que diz respeito à qualidade do serviço prestado e são menos tolerantes com instabilidades na rede. Com os resultados obtidos nesta etapa será possível determinar fatores como o grau de exigência do consumidor e qual a periodicidade de manutenção que a rede deve ter, sem contar nos custos que isso implicará para a distribuidora.
Partir para a terceira etapa, que seria a implementação em escala comercial, depende muito dos resultados obtidos anteriormente. Somente após a análise minuciosa dos dados obtidos será possível determinar a viabilidade econômica de utilizar em grande escala a PLC no Brasil. Tassilu Faria adianta que isso só será possível caso haja investimentos, tanto da iniciativa privada quanto do governo no sentido de baratear os custos: atualmente todos os modens utilizados têm de ser importados, e estão longe de serem viáveis para a maioria dos consumidores. Somente com muito investimento é que dentro de alguns anos será possível utilizar esta tecnologia que promete revolucionar a oferta de banda larga no país.
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