Em setembro, o TecMundo foi convidado pela Huawei para conferir de perto o Huawei Cloud Congress, um evento focado em soluções na nuvem. Como a distância não é nada curta e o país asiático ferve de novidades, tivemos a chance de, além de cobrir a feira, conhecer um pouco mais sobre a própria empresa – incluindo sua sede e alguns de seus centros de pesquisa. Ah, e sabe aquele papo de que dá para encontrar brasileiros em qualquer lugar? Pois é, achamos um dos nossos por lá e a história dele tem tudo a ver com tecnologia.
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No entanto, até nos encontrarmos com ele, já estávamos achando que esse chavão cairia por terra até o fim da viagem. Não é por menos, afinal, depois de um “passeio curto” de avião de cerca de 25 horas e de passar alguns dias em território chinês sem ouvir uma palavra em português vinda de outro grupo ou de algum transeunte, tínhamos quase certeza de que nossos compatriotas estava fugindo da gente. Por sorte, a Huawei conseguiu agendar um encontro com o moço em nosso penúltimo dia por lá. Ele nos achou, por assim dizer.
Nosso brasileiro é ninguém menos que Osnes Feitosa Gomes Costa, 32 anos, natural de Campina Grande, na Paraíba. Inicialmente um pouco tímido e com um nervosismo bem compreensível antes de ligarmos a câmera, bastou alguns poucos minutos de conversa para que o estudante se revelasse bem espontâneo. Assim, além da entrevista que você pode conferir no início da matéria, tivemos a oportunidade de conhecer mais sobre o rapaz durante uma conversa descontraída pelas ruas de Xangai e em um restaurante da cidade.
Encarando o desafio
Universitário do curso de Ciência e Engenharia de Materiais na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Osnes nunca havia saído do Nordeste e não imaginava, até o início de 2014, que poderia vir a morar no exterior. Felizmente, a mãe, dona de casa, e o pai, balconista de farmácia, ralaram bastante para colocar o filho em um bom colégio e ele retribuiu esse esforço se tornando um aluno exemplar na Federal da sua cidade. Por conta da dedicação, foi chamado para participar do concorrido Ciências sem Fronteiras.
Com ótimas notas, inglês afiado e recomendação de seus professores, o paraibano conseguiu cumprir boa parte das exigências do programa de incentivo do Governo Federal para receber a chance de estudar fora do país. Osnes explicou que o destino mais comum para quem faz o mesmo curso que ele é, geralmente, alguma universidade nos Estados Unidos, por conta dos estudos e pesquisas relativos a petróleo. Ainda assim, ele preferiu encarar uma cultura completamente diferente da sua e optou por fazer as malas rumo à China em julho de 2014.
Clique feito na Tongji University durante o evento Sino-Germânico de Engenharia e Inovação.
“Como nos EUA tem muitos brasileiros, as pessoas acabam só conversando entre si e não aprendem direito nem a cultura nem a língua do lugar”, comentou o rapaz, que teve pela frente a missão nada fácil de aprender o temido – mas cada vez mais popular – mandarim. O primeiro ano dele e de mais 15 colegas em terras chinesas, aliás, se focou quase que somente no aprendizado do idioma, para que eles soubessem se comunicar com tranquilidade por lá e conseguissem assistir às aulas do curso superior sem ficarem perdidos.
Ao fim do período, foi preciso que todos fizessem um teste de proficiência da língua para determinar se eles estavam prontos para o próximo passo: ir para centros de ensino por todo o país. Com um grupo composto de estudantes de engenharia, medicina e arquitetura, cada um migrou para sua região no meio deste ano. Osnes, que hoje se vira muito bem com o mandarim – apesar de ainda “não dar para ler jornais” –, continuou em Xangai, já que foi matriculado na Tongji University, podendo, enfim, dar continuidade a seus estudos.
De braços abertos
Uma combinação de fatores fez com que a estadia de Osnes por lá fosse a mais tranquila possível desde o início. Por fazer parte da segunda leva do Ciências sem Fronteiras enviada para a China, ele pôde contar com algumas dicas do pessoal que já estava por lá antes mesmo de colocar os pés no país. Coisas simples, como que itens levar do Brasil, prévia dos cardápios locais e até como utilizar proxies para driblar o banimento do governo chinês ao Google e Facebook, fizeram com que fosse possível se preparar melhor para o período longe de casa.
O estudante posando com a estátua de Mao Tsé-Tung ao fundo, na Tongji University.
A receita deu tão certo que o paraibano já passou a prática à frente instruindo os oito alunos da terceira turma a desembarcar no país – sem esquecer de pedir algumas encomendas “Made in Brazil” dos colegas que fariam a viagem, claro. Outro ponto que colaborou bastante foi a hospitalidade dos chineses, que são bastante amistosos com estrangeiros e adoram especialmente os brasileiros. Segundo o rapaz, isso facilitou bastante para que ele fizesse amizade e conversasse com os locais, não ficando preso somente ao seu grupinho.
O fato de a metrópole de mais de 23 milhões de habitantes – a segunda cidade mais populosa da China – ser bastante cosmopolita também ajudou bastante na hora de amaciar um pouco o choque de culturas. Ele revelou, por exemplo, que é relativamente fácil encontrar uma legítima churrascaria brasileira por lá, mas que o preço alto desse tipo de restaurante faz com que não seja possível ter esse capricho mais do que uma vez a cada dois meses. O dinheiro, aliás, é outro ponto importante nessa receita de sucesso.
Além do estudo
Uma bolsa mensal de US$ 870 (cerca de R$ 3,4 mil) permite que Osnes e os outros estudantes que fazem parte do programa possam se manter com uma certa tranquilidade na China. A grana cobre gastos com alojamento, comida e qualquer outra despesa necessária para que essa galera possa se concentrar nos estudos durante todo o tempo do curso – sem que seja preciso pagar um centavo para a faculdade em si. O moço garante que o depósito é feito sempre em dia e que é o suficiente até para se divertir um pouco na região.
Osnes contou que, se a pessoa for mais econômica e regrada no dia a dia, consegue viajar durante os feriados ou nas férias da escola. Por conta disso, ele mesmo conseguiu passear um pouco e conhecer outras cidades e diversos pontos históricos do país. Isso tudo não impediu que dois de seus colegas acabassem voltando para o Brasil antes da hora. Um deles não aguentou a pressão de estar tão longe do lar, teve um início de depressão e preferiu retornar do que sofrer a mais de 18 mil quilômetros de casa.
Osnes e sua turma recebendo o certificado do curso da Huawei.
Outro, infelizmente, não obteve a nota necessária no teste derradeiro de mandarim e, assim, não conseguiu passar para o segundo estágio do projeto em terras chinesas. Os que ficaram, porém, tiveram oportunidades adicionais nesse primeiro ano. Esse é o caso do Seeds for the Future, um programa de educação criado pela Huawei em parceria com o CAPES que permitiu que os estudantes fizessem um curso intensivo de tecnologia dentro das dependências da empresa – mais especificamente no gigantesco centro de P&D de Shenzhen.
Ao todo, 15 alunos foram selecionados para aprender mais sobre diversas produtos e serviços desenvolvidos pela gigante chinesa, entre soluções de computação na nuvem, conceitos de cidades digitais e projetos de transmissão de dados por redes mobile de alta velocidade. A empreitada – que durou uma semana – rendeu um certificado emitido pela Huawei e, o mais importante para muitos deles, a chance de trabalhar na filial nacional da companhia quando regressarem para o Brasil.
Investindo em pessoas
Agora, a expectativa é que Osnes engate os estudos na grade curricular de Ciência e Engenharia de Materiais na universidade chinesa e fique em Xangai até junho de 2016, quando ele finalmente volta para o país para finalizar o seu curso na UFCG em mais seis meses. A ideia, segundo o acordo feito com o CAPES, é que, após a conclusão do ensino superior, o paraibano continue no Brasil por pelo menos dois anos para passar adiante o conhecimento adquirido no exterior – seja em projetos de pesquisa ou trabalhando em empresas por aqui.
Dá para dizer que, além de o programa fazer o investimento do governo retornar de forma orgânica para o país, também foi a chance de um estudante paraibano de origem simples ter uma vivência que ele jamais imaginou. Qual é a opinião do rapaz sobre tudo isso? “A gente só tem a agradecer, é uma oportunidade única para estudar e uma ótima experiência de vida”, disparou, com um sorriso sincero no rosto, ao ser questionado. No fim, fica difícil não querer encontrar mais brasileiros pelo mundo afora depois de conhecer pessoas como Osnes.
Acha que conseguiria estudar na China? Conheça o universitário brasileiro que deixou os EUA de lado para aprender engenharia em mandarim. Comente no Fórum do TecMundo!
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