Intermediário: o campo de batalha dos celulares no Brasil

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Enquanto existe uma retração no segmento de celulares premium no Brasil, o setor de intermediários não para de crescer. Mesmo com a crise dos chips atrapalhando a vida das fabricantes, o lançamento de smartphones com foco no custo-benefício no país, com preços na faixa dos R$ 2 mil, ainda é prioridade para as marcas. Segundo dados da IDC, os dispositivos nesse segmento representam nada menos que 80% de todo o mercado de telefones no país.

E a tendência é que esse número ganhe forças na Black Friday 2021: de acordo com o Buscapé, 5 dos 10 celulares mais buscados para a data comercial são modelos intermediários — o restante da lista é composto por gerações passadas de iPhone e pelo Galaxy S20 FE, um top de linha feito com o custo-benefício em mente.

Graças à importância do preço dos dispositivos para o consumidor brasileiro, as principais fabricantes seguem lançando dezenas de aparelhos focados na relação de custo e benefício anualmente. Com isso, enquanto o setor top de linha encolhe no Brasil, o segmento de dispositivos intermediários é um verdadeiro campo de batalha para empresas como Xiaomi, Samsung e Motorola.

Seguindo diferentes estratégias e em variadas realidades no país, toda fabricante tem um objetivo em comum: chamar a atenção dos consumidores que buscam um celular de qualidade, mas não querem gastar muito.

Atirando para todos os lados

Mesmo sem fabricação nacional, a Xiaomi já lançou mais de 30 celulares no Brasil, sendo a grande maioria nos segmentos de entrada, intermediário e intermediário premium. A empresa atua oficialmente no país desde 2019 por meio de uma parceria com a DL Eletrônicos, que também cuida da POCO, uma das principais submarcas da gigante chinesa. Assim como no segmento top de linha, a ausência de uma fábrica no país acaba deixando a companhia nas mãos dos impostos de exportação, mas Luciano Barbosa, chefe da operação brasileira da firma, aponta que a marca já mostra expressivo crescimento por aqui.

Segundo a empresa, a estratégia é atacar de todos os lados, atendendo desde consumidores que buscam recursos mais profissionais até usuários que só querem um smartphone competente e que não seja caro. "Parte da nossa estratégia é lançar muitos produtos, assim conseguimos atingir diversos públicos", explica o porta-voz da fabricante chinesa.

"Parte da nossa estratégia é lançar muitos produtos" -  Luciano Barbosa, da Xiaomi 

Segundo Barbosa, outra estratégia adotada pela companhia para ganhar terreno no Brasil é apostar no varejo. Além das vendas online, a companhia disponibiliza celulares mais baratos em pontos físicos, incluindo lojas próprias e redes consolidadas no Brasil. “O varejo é um pilar muito representativo no Brasil”, ressalta o executivo, dizendo que modelos com valores na casa dos R$ 1 mil tendem a se sair muito bem com os consumidores que gostam de visitar o balcão para adquirir um celular.

Xiaomi lojaLoja da Xiaomi em Curitiba (PR) exibe produtos curiosos da empresa e vende celulares. (Fonte: TecMundo/Giovanna Fantinato)

Na parte online, a Xiaomi aposta na variedade para atender a um público que não abre mão do custo-benefício, mas busca mais qualidade. Barbosa menciona o sucesso da linha Redmi Note, que tem diversas variantes, com diferentes combinações de especificações para agradar vários tipos de consumidores.

De acordo com o executivo, os consumidores brasileiros estão mais exigentes e propensos a investir um pouco mais para garantir qualidades de top de linha em um smartphone intermediário. Graças a isso, a empresa está trazendo mais dispositivos como o Redmi Note 10 Pro, que tem câmera de 108 MP. "Nós percebemos que o público quer um intermediário mais completo. É como comprar um carro", compara Barbosa, já que "As pessoas querem investir em algo que vai durar mais tempo".

Evolução tecnológica

Uma das empresas responsáveis por acelerar o desenvolvimento dos celulares intermediários, a fabricante de chips Qualcomm está equipando seus processadores focados em custo-benefício com cada vez mais recursos para atender às demandas do público exigente. Segundo a companhia, o mercado busca cada vez mais tecnologias de ponta em aparelhos baratos, incluindo o 5G.

Para Helio Oyama, que representa a Qualcomm na América Latina, o Brasil é um mercado sensível ao preço, e os smartphones top de linha tendem a ficar restritos a um grupo pequeno de consumidores. No entanto, com a evolução de chips intermediários, como a linha Snapdragon 700, os usuários dispostos a gastar menos em um celular podem usufruir de funções premium.

QualcommOs chips da Qualcomm já trazem 5G para celulares mais baratos

Processadores com o Snapdragon 778G e suas variantes, que atuam no segmento intermediário, contam com desempenho similar ao do Snapdragon 865, o chip top de linha da Qualcomm no ano passado. Além do desempenho bruto que chama a atenção, os chips focados em custo-benefício já contam com outras funções que elevam o nível dos aparelhos mais baratos.

De acordo com o executivo da Qualcomm, a rápida evolução dos produtos possibilita que aparelhos intermediários tenham tela com altas taxas de frequência, tecnologia de carregamento rápido e câmeras potentes, além de conectividade avançada, com 5G e Wi-Fi 6. No fim das contas, cabe à fabricante do smartphone escolher qual combinação de recursos vai agradar mais o público.

Fórmula para o sucesso

A Samsung, que é líder no mercado de celulares no Brasil, já tem uma fórmula para atrair o público brasileiro que busca celulares intermediários. Segundo a companhia, os consumidores do país têm algumas preferências comuns: câmera de selfie potente, cores chamativas e bastante armazenamento — afinal, é sempre bom ter memória para guardar os memes e as imagens de “Bom dia” do WhatsApp. "A gente entende o consumidor", explica Renato Citrini, gerente sênior de dispositivos móveis da marca no Brasil.

Samsung

Além de atender aos principais desejos do público, a companhia aproveita sua forte presença no Brasil para sair na frente da concorrência. Com duas fábricas no país, a empresa prioriza o lançamento de intermediários com valores entre R$ 1 mil e R$ 2 mil. Segundo Citrini, a estrutura e a cadeia de suprimentos da companhia são tão robustas que nem mesmo a crise dos chips, que atrapalhou o mercado como um todo, conseguiu desbalancear a oferta de aparelhos da companhia. "Isso ajuda a equilibrar a demanda e permite ajustar e mitigar a falta de algum modelo, o que porventura pode acontecer", explica.

O executivo também destaca que a empresa já consegue entregar no Brasil aparelhos baratos e com tecnologias premium, como telas com alta taxa de quadros por segundo e conexão 5G. Além disso, Citrini vê a rápida evolução do segmento intermediário chegando até mesmo nos smartphones dobráveis, a nova aposta da marca para chamar a atenção no concorrido mercado de celulares.

Segundo Citrini, o Galaxy Z Flip 3 teve reposicionamento de preço, com valor R$ 2 mil abaixo do antecessor, mesmo com hardware aprimorado. O executivo não crava um momento para as telas flexíveis finalmente darem as caras no segmento intermediário, mas garante que, após a consolidação dos celulares dobráveis, a tendência é que a novidade se popularize em aparelhos mais baratos, garantindo um design diferenciado e "interessante" para os dispositivos intermediários.

Diferenciais para manter o interesse

Enquanto a tela dos intermediários da Samsung não dobra, a Motorola está trabalhando em outras formas de chamar a atenção para seus celulares focados em custo-benefício. A companhia se considera pioneira no segmento intermediário no Brasil graças à linha Moto G, que começou em 2013 e já vendeu mais de 125 milhões de unidades por aqui.

Com a competição cada vez mais acirrada, a empresa segue apostando no segmento intermediário não apenas com especificações e preço competitivo, mas também oferecendo experiências diferenciadas para o mercado brasileiro. Neste ano, a Motorola estreou no Brasil uma experiência olfativa: quem comprou um Moto G de nova geração sentiu um cheiro único nas embalagens da marca, que utilizam uma fragrância exclusiva chamada Blue Touch Tech.

Outro ponto abordado pela empresa exclusivamente no Brasil é a inclusão digital. A companhia foi a primeira no mundo a adicionar as línguas indígenas kaingang e nheengatu a celulares — os aparelhos da marca já suportam mais de 80 idiomas no Android.

A subsidiária da Lenovo também ressalta que está apostando forte para levar o 5G para mais usuários no país. Com a chegada da tecnologia na linha Moto G e nos aparelhos da série Edge, a marca angariou uma fatia de 55% do mercado de aparelhos com o novo padrão de rede no Brasil em 2020, segundo dados da IDC. "A família Moto G ajudou a democratizar o 5G no Brasil com o Moto G 5G e o Moto G 5G Plus, primeiros intermediários no país a contar com a tecnologia", ressalta Rodrigo Vidigal, diretor-executivo de vendas da Motorola.

"A família Moto G ajudou a democratizar o 5G no Brasil" - Rodrigo Vidigal, da Motorola

Apesar de o 5G só chegar ao Brasil em 2022, o representante da Motorola acredita que o lançamento de celulares intermediários com a tecnologia leva a novidade para mais consumidores, preparando o mercado para a inovação. "Nosso portfólio de produtos abrange várias faixas de preço e permite o uso de múltiplos espectros 5G. Resolvendo a necessidade atual do consumidor de se manter conectado e ao mesmo tempo, estamos preparados para o futuro e a chegada da nova tecnologia", explica Vidigal.

A democratização do 5G empregada pela Motorola e por outras marcas é uma boa notícia para quem está interessado em trocar de celular sem gastar tanto, mas já quer um aparelho pronto para o novo padrão de rede. Um estudo da Conversion aponta que os brasileiros pretendem gastar até R$ 1 mil em um novo celular na Black Friday de 2021. Com aparelhos como o Realme 8 5G já trazendo a novidade em preços na casa dos R$ 1,5 mil, quem sabe a data comercial realize o desejo dos consumidores ávidos por promoções.

Com tantas opções de dispositivos móveis intermediários no mercado, ter diferenciais para chamar a atenção do público é uma estratégia válida e que pode render bons frutos. Ainda assim, com as limitações de preço impostas pelo mercado brasileiro, só existe uma arma para ganhar a batalha no segmento mid-end e conquistar o bolso dos usuários: um ótimo equilíbrio entre custo e benefício.

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