Já faz alguns anos que a Dell é quase um sinônimo de computadores. A empresa constituiu uma base forte em hardware com a venda de PCs, monitores, projetores e outros dispositivos — com certeza, você ainda usa ou já utilizou algum produto da marca em casa, nos estudos ou em ambiente de trabalho.
A empresa tem um começo que é inspirador para quem tem ou deseja começar o próprio negócio, além de ser pioneira em modelos de comercialização que hoje são padrão na indústria. Ela também apresenta algumas peculiaridades atuais na gerência que têm mostrado resultado.
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Ficou curioso? Então confira a seguir a história da Dell.
Um sonho de empreendedor
A história começa em 1984, quando Michael Saul Dell era um calouro de Medicina na Universidade do Texas. Ter um computador pessoal era caro e demorado e, no geral, as pessoas não sabiam exatamente o que elas queriam com esse aparelho. A máquina saía da fabricante, ia para a distribuidora, depois para as lojas e só então chegava na sua casa, com uma configuração pré-definida.
O jovem empresário percebeu que podia cortar vários desses processos de uma só vez e fazer uma venda direta para o consumidor. No dormitório 2713 do prédio residencial da universidade, nascia a PC's Limited. Ela teve um capital de abertura de 1 mil dólares, que foram emprestados pelos pais de Michael.
A loja caseira vendia PCs feitos do zero com peças compradas no estoque por Dell e montadas de acordo com o interesse do cliente.
Percebeu o esquema de venda que é usado até hoje? Sim, a Dell praticamente inventou o sistema de você escolher as especificações técnicas que é tão comum hoje em dia na hora de comprar um computador.
Para o alto e avante
No mesmo ano de abertura da empresa, ele deixou a faculdade para focar só nos negócios. Esse era um ano difícil para companhias pequenas e recentes, já que a Apple lançaria o Macintosh e a IBM era líder absoluta de mercado, com várias marcas parecidas atrás.
A partir daí, a empresa começa a crescer e não para mais. A Dell então aumenta o número de funcionários para atender a demanda e passa a oferecer diferenciais como venda e assistência técnica por telefone.
A Dell já em expansão
O primeiro computador de design original da empresa foi o Turbo PC. Ele tinha um processador Intel 8088 de 8 MHz, disco rígido de 10 MB e entrada para disquetes de 5,25".
Dell comprou anúncios em todo o país para ter mais alcance, mas manteve o contato direto com o público e oferecia o modelo em diversas configurações. O Turbo PC custava 795 dólares, bem menos que os 3 mil de um IBM PC completo, e foi um sucesso.
Em 1988, a empresa faz a oferta pública de ações, conseguindo 30 milhões de dólares em investimento. Um pouco antes, ela muda o nome para Dell Computer Corporation, pegando o sobrenome do fundador. O primeiro logotipo era o mais sem graça possível e ainda não tinha aquele “E” meio deitado, que só veio em 1989. Mais tarde, a marca é colocada dentro de um círculo no mesmo tom de azul.
Expandindo os sonhos
No ano seguinte, ela lança o primeiro laptop da marca, o 316LT. Mesmo pesando 6 kg, ele era uma alternativa mais barata que a concorrência por causa da venda direta. Os notebooks vão ser bem mais importantes para empresa alguns anos mais para frente.
No comecinho da década de 90, ela já tem duas bases na Europa e atende também o Oriente Médio e a África. Em 1992, a Dell aparece na lista de 500 maiores corporações da revista Fortune. Michael se torna o CEO mais jovem da história da lista, com 27 anos.
Nessa época, o foco da Dell ainda não é o mercado consumidor mais casual, mas sim o público mais fanático por eletrônicos, além de empresas e governos. Mas, aos poucos, isso começa a mudar.
Primeiro grande tropeço
Em 1994, depois de muita resistência, a Dell se rende às lojas especializadas e de departamento e começa a vender produtos no varejo. Só que aí ele se arrepende, porque a empresa apanha feio para as marcas que já estavam acostumadas com esse modelo. É aí que ela recua um pouco, entra no mercado de servidores em rede com a família PowerEdge e expande o catálogo corporativo. No mesmo período, a Dell vira uma das pioneiras a usar baterias de íon-lítio de maior duração em seus eletrônicos.
Dois anos depois, aparece uma oportunidade. A marca cria o site Dell.com em uma tal de internet e passa a vender produtos online, além de fornecer assistência técnica.
É a mesma aproximação da época em que ela fazia as vendas por telefone e você podia montar a configuração do PC de uma forma bem mais intuitiva. Em apenas seis meses, a empresa atinge a marca de 1 milhão de dólares por dia em vendas
E se ela deixou as velhas concorrentes para trás, ela ganhou uma nova. Em 97, Michael Dell diz que, se fosse CEO da Apple, fecharia a empresa e devolveria o dinheiro para os acionistas. Jobs fez um discurso furioso no mesmo ano quando apresentou a Apple Store online e lançou um comercial com Muhammad Ali batendo em um adversário em primeira pessoa, que seria a Dell.
O auge
Mas não adiantou. Em 2001, vem a consagração. A Dell vira a maior provedora de sistemas de computador do mundo e a líder na venda de PCs nos Estados Unidos. A Dell investe pesado em marketing e ganha tanto o mercado de workstations quanto o de consumidores. Ela gostou do primeiro lugar, e não queria largar de jeito nenhum.
No começo dessa década, ela lança um comercial que virou um clássico nos EUA, com o bordão “Cara, você tá comprando um Dell”. A marca ainda entra em mercados como o de impressoras e projetores. Na parte de business, expande serviços de armazenamento e soluções em TI.
Saída e retorno
Em 2004, Michael Dell deixa o posto de CEO para Kevin Rollins e se dedica a projetos pessoais e filantropia. Os anos seguintes foram difíceis em vendas, e a HP passa a rival no mercado de PCs. Em 2007, o conselho pede que ele volte ao cargo, agora precisando se reinventar.
Uma das novidades é a compra da Alienware em 2006, uma fabricante mais voltada para o mercado gamer. Como parte da reformulação, nos próximos anos ele fecha algumas unidades da América do Norte, aumenta o foco em serviços e vai às compras.
Em quatro anos, são 20 aquisições em um investimento de 13 bilhões de dólares. Uma das principais é a da Perot Systems, uma provedora de serviços em TI para empresas bancárias, de saúde, governamentais, de seguros, fabricações e mais. Ela muda o nome para Dell Services e dura até 2016, quando é vendida de novo, agora para NTT DATA.
A estratégia de Michael Dell dá certo e a empresa mantém a reputação em software e serviços; só que ela falha feio em entrar no mundo mobile e não acompanha o crescimento de smartphones e outros mercados
Ela também fica atrás justamente em seus pontos mais positivos. Muita gente passa a criticar a qualidade dos produtos e o esquema de assistência técnica, sendo ultrapassada por novas e antigas rivais.
Grandes produtos
E vale a pena destacar algumas linhas de produtos da Dell. Não dá para falar de tudo, porque ela está em muitas áreas, então só vamos deixar aqui algumas das principais famílias. E como ela destaca em PCs, nós vamos focar neles.
Uma das mais famosas famílias de desktops da Dell é a Dimension. Ela tinha o mercado consumidor como alvo e só foi descontinuada em 2007.
Dell Dimension 1000
A linha OptiPlex surgiu quase junto, no começo dos anos 90, e era mais voltada para governos, empresas e escolas. Ela ainda recebe adições, só que perdeu muito espaço para os laptops da linha Latitude.
Parte da linha OptiPlex
Mas a Inspiron é talvez a mais famosa da Dell. Essa família vai de laptops de entrada até modelos mais exigentes. A linha já abrigou até netbooks, e os primeiros modelos são da metade dos anos 90.
E você teve ou tem um Dell XPS? A sigla é para Xtreme Performance System, e os modelos são normalmente mais voltados para gamers e multimídia e englobam outras famílias que a gente já citou. Os primeiros são de 1993 e eram top de linha para a época.
Já a Vostro tem como público o pequeno empresário ou quem deseja um modelo de notebook para produtividade. Só que ela ficou marcada por alguns problemas técnicos e defeitos de fabricação, especialmente no Brasil. Ela até foi descontinuada de 2013 até 2015.
Há ainda linhas menos famosas. A já descontinuada Adamo é de modelos de luxo e mais portáteis, enquanto a Precision nasceu em 2015 para o mercado de estações de trabalho ou pequenos servidores.
Um raro Dell Adamo
No mundo mobile, vale destacar alguns lançamentos. O primeiro smartphone foi o Dell Mini 3, anunciado em 2009 e lançado no Brasil graças a uma parceria com a Claro.
O Dell Streak é um modelo de 2010 com tela de 5 polegadas que nunca foi bem aceito e acabou descontinuado depois de poucos meses.
Dell Streak
Ela ainda lançou uma versão maior, o Dell Streak 7, quando grandes fabricantes ainda não tinham coragem de bater de frente com o iPad. Ela vendeu ainda um modelo de 10 polegadas em alguns mercados. Entre tablets, a linha mais famosa é a Venue, com telas de vários tamanhos e sistema operacional variando entre Windows e Android.
Dell Venue 7
Ela tentou ainda vender um modelo com Windows Phone chamado Pro Venue, mas ele teve distribuição limitada e muitos problemas de logística, acabando cancelado.
Uma empresa privada (e com orgulho disso)
Sabe quando a gente fala que o dono da Google é o Senhor Google, que as compras na Amazon são registradas pelo Senhor Amazon e por aí vai? Acontece que, no caso da Dell, o atual dono é mesmo o Senhor Dell!
Com a ajuda de um fundo de capital e até uma parceria com a Microsoft, Michael Dell recomprou todo o restante da empresa e volta a transformá-la em uma companhia fechada. Isso também explica porque ela foi uma das primeiras na adoção do Windows 8 como sistema operacional touchscreen.
E as viradas de mesa não acabam por aí. Em 2015, ela anuncia a compra da EMC, uma gigante especializada em Big Data e nuvem. Na época, essa ficou conhecida como a integração tecnológica da História, deixando a Dell ainda maior.
A Dell no Brasil
Mas e no Brasil? A história se inicia em novembro de 99, quando a Dell começa a operar por aqui com uma fábrica na cidade gaúcha de Eldorado do Sul.
Somos considerados pela Dell um dos dez mercados prioritários para a marca no mundo, com anos de liderança nacional em vendas de servidores x86. Boa parte do catálogo da empresa é vendido por aqui, de computadores a telas e outros eletrônicos. Hortolândia, em São Paulo, também ganhou uma fábrica que produz, entre outros produtos, os tablets da empresa.
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Fontes